Em 1957, Sidney Lumet estreava nas telonas com este que é um dos melhores filmes já feito na história do cinema e que continua a figurar no topo das listas dos grandes filmes, mesmo depois de mais de meio século da sua estreia. Nada mais do que merecido para essa obra-prima chamada 12 Homens e Uma Sentença.
Este seu primeiro filme viria a ser, exaustivamente, utilizado como referência para outros filmes e muitos remakes também surgiram, inclusive, fora do território estadunidense como são os casos do filme espanhol “Doce Hombres Sin Piedad” de 1973, em pleno regime autoritário de Francisco Franco e do filme russo “12” de 2007. E não posso esquecer do remake de 1997 que colocou Jack Lemmon para fazer o papel que fora de Henry Fonda na versão original.
Lumet que até então só tinha trabalhado para a TV foi escolhido por Henry Fonda que, neste filme, acumulou a função de ator e produtor. E se seu trabalho na TV já chamava atenção, nos cinemas ele, com este filme, despontou e é considerado por muitos o melhor e o mais prolífico cineasta da história e sua filmografia extensa e diversa está aí para comprovar.
12 Homens e Uma Sentença possui uma trama, aparentemente, simples que trata sobre o julgamento de um jovem que, supostamente, teria matado o próprio pai a facadas. Seguindo a ordem do Juiz, os 12 jurados precisam deliberar e chegar a um veredito de forma unânime com o peso de que julgando o réu como culpado, sua pena seria a cadeira elétrica.
Não demora muito para que Lumet estabeleça onde tudo irá acontecer. Uma pequena sala, com algumas janelas, uma mesa central, cadeiras, um ventilador preso à parede, mas que não funciona e um banheiro ao fundo. Este será o ambiente por qual se passará mais de 90% do filme. E, de forma proposital, temos a impressão, ao longo do filme, que este local possui a propriedade de se tornar cada vez menor, muito por conta da utilização de quadros mais fechados, dando uma sensação de claustrofobia elevando a tensão dos momentos passados ali.
Assim que os 12 jurados entram na sala, o clima é de que já existe um veredito e que por uma mera formalidade precisam passar alguns minutos deliberando sobre isso. E se não fosse a opinião contrária do jurado 8, um arquiteto interpretado por Henry Fonda, este filme seria, então, um curta-metragem.
É evidente que a crítica inicial do filme se faz para com o sistema judiciário e penitenciário dos Estados Unidos. A ideia de punição é muito mais cativante do que a de absolvição, o que fica claro através daqueles personagens que votaram pela condenação sem possuir qualquer argumento para tal. Mas esta é apenas uma camada a ser desenvolvida pelo filme. Com apenas 96 minutos, Lumet direciona sua câmera de maneira mais direta para determinados personagens. Henry Fonda, não era de se esperar o contrário, é o centro das atenções e, como contraponto às suas indagações diante da dúvida razoável que tinha sobre a culpabilidade do réu, temos os jurados 03 (Lee J. Cobb), 04 (E. G. Marshall) e 10 (Ed Begley). O restante funciona para a movimentação que existe dos que consideravam o réu culpado e que passam a considera-lo inocente desenvolvendo, assim, a trama até o veredito final.
É, então, nestes momentos que a câmera de Lumet engrandece a obra novamente. Conforme o tempo vai passando, os quadros, como disse anteriormente, vão ficando mais fechados e temos muitos closes para sabermos quem está falando e podermos ver toda a força da expressão em como aquelas palavras são ditas. E destaco aqui duas cenas brilhantes. A primeira é a da fala com total escárnio do jurado 10 sobre o réu e “sua gente”, se referindo aos latinos e/ou imigrantes como sendo pessoas inerentemente sujas, imorais, violentas e desprezíveis. A dança que se segue, na qual vemos este personagem saindo do ponto de maior importância para o quadrante menos expressivo é genial. Todos se levantam e lhes dão as costas, até mesmo aqueles que compartilhavam da ideia de culpa do réu.
A outra cena é a que, de forma muito prática, define como os argumentos são colocados para cada personagem e em como, através do personagem de Henry Fonda, os outros jurados vão se dando conta de que claramente não há uma certeza sobre o crime que aconteceu. Quando vemos o jurado 04 (Lee J. Cobb) vociferando palavras sobre o réu e, como resposta, ouve que é um sádico, este, então, parte para a violência, sendo contido pelos demais jurados e, devido a um roteiro muito bem definido e uma direção sabendo exatamente onde quer chegar, “tropeça” naquilo que a instantes usava como prova condenatória do jovem que está sendo julgado.
Lumet não está interessado na vida do jovem que está sendo acusado de matar o próprio pai. O que fica claro, aqui, é que o filme fala muito mais sobre aqueles homens que possuem a vida do garoto de 18 anos nas suas mãos. E as cenas desconcertantes que inferem uma certa vergonha aos jurados 03, 04 e 10 conseguem em poucos minutos desenvolver e muito quem são aquelas pessoas. Evidente que todos os outros personagens também recebem atenção, mas o foco dado a estes três é que evidencia toda critica ao sistema e à sociedade de um modo geral.
12 Homens e uma Sentença prova que um filme não precisa de orçamentos milionários e nem de roteiros mirabolantes para fazer sucesso. Muito embora o longa, no Óscar, tenha perdido nas três categorias que concorreu (Melhor Roteiro, Melhor Direção e Melhor Filme) para o mesmo filme, A Ponte do Rio Kwai, a verdade é que um filme também não se mede, apenas, pelo número de prémios que conquistou.
Se o filme já era altamente producente para o ano de 1957, ao assisti-lo agora, percebemos que a obra não envelheceu e se mostra muito atual. Vivemos em uma época, sobretudo, aqui no Brasil, na qual, o preconceito e a discriminação se dão à luz do dia. Temos uma população carcerária majoritariamente negra e pobre e muitos sequer foram julgados. Que ironia, o Brasil, país composto em sua maioria por negros, tem uma polícia e uma justiça que, rotineiramente, mostram a diferença de tratamento entre brancos e negros.
Lumet, o roteirista Reginald Rose e o próprio filme 12 Homens e Uma Sentença nos provocam sobre quem somos e sobre nossas ações. O ato de julgar é fácil demais. Quando temos mais gente fazendo coro, nos sentimos com mais razão. Mas o jurado 8, brilhantemente, interpretado por Henry Fonda está aí para provar que não é este o caminho. Precisamos nos colocar no lugar do outro. Precisamos saber que estamos falando sobre pessoas.
12 Homens e Uma Sentença é um filme que, certamente, irei assistir outras vezes. Filmes assim não cansam e sempre nos contam algo novo a cada nova olhada.
Filme: 12 Angry Men (12 Homens e Uma Sentença) Elenco: Henry Fonda, Lee J. Cobb, E. G. Marshall, Jack Klugman, Jack Warden, Ed Begley, Martin Balsam, John Fiedler, Edwards Binns, Joseph Sweeney, George Voskovec, Robert Webber Direção: Sidney Lumet Roteiro: Reginald Rose Produção: Estados Unidos Ano: 1957 Gênero: Drama Classificação: Livre Streaming: Telecine Play Nota: 9,5 |
Adoro ler seus textos fico com gde interesse de ver os filmes. Parabéns!