13º OLHAR DE CINEMA – DIA 04

13º OLHAR DE CINEMA – DIA 04

Este foi o dia que meu cronograma desandou. Na noite anterior não assisti ao filme da Competitiva Nacional (A Mensageira) para poder ter a experiência da tela grande assistindo ao clássico O Comboio do Medo (Sorcerer) de William Friedkin. Por conta disso minha única falha nesse Festival aconteceu: Não consegui assistir ao filme Caminhos Cruzados que fazia parte da Competitiva Internacional. Contudo para a elaboração dos meus textos vou considerar sempre os filmes em seus dias de estreia, independentemente se acabei assistindo na “repescagem”.

 

QUEM É ESSA MULHER? (2024)

Apesar de uma estética muito similar à de quadros do programa jornalístico dominical, Fantástico – o que me incomoda um pouco –, a verdade é que este documentário desenvolve um paralelismo muito bonito entre o objeto de estudo, Maria Odília (a primeira médica negra do Brasil), e quem a estuda: diversas mulheres negras, sendo a grande porta-voz a historiadora e pesquisadora Mayara Priscilla de Jesus dos Santos.

Um dos pontos de grande importância são as vozes escolhidas para nos apresentar essa história. É extremamente simbólico e respeitável que este filme seja todo contado por pessoas negras e, em sua grande maioria, mulheres. Mas engana-se quem pensa que o documentário é somente sobre Maria Odília. Nesse sentido é muito bonito como a diretora Mariana Jaspe, também uma mulher negra, coloca sua câmera captando a história daquelas pessoas.

Mayara é uma jovem negra de família humilde que viveu boa parte de sua vida na região suburbana de Salvador. A primeira de sua família a cursar uma universidade e, consequentemente, se formar, viu nessa personagem histórica da Bahia, Maria Odília, um motivo de luta. Conhecer sua história, revelar sua importância e marca-la como uma grande personalidade da medicina baiana e do Brasil, foi um desafio o qual ela se colocou.

De forma sutil o documentário sobre Maria Odilia se torna, também, sobre Mayara Priscilla. E este é um dos maiores acertos do filme. Essa escolha de direcionamento que Mariana Jaspe faz cria uma corrente, uma fluidez entre passado e presente, o que acaba caracterizando também essas duas jornadas como algo recorrente. Se em um passado, Maria Odilia, apesar de ser a primeira médica negra da Bahia, teve constantemente seu nome esquecido, retirado e suprimido da história – assim como aconteceu com as mulheres de sua família que vieram antes dela –, agora, juntamente com o nome de Mayara, passa a ter o reconhecimento merecido.

Nada mais bonito que conhecermos o filho de Maria Odilia, que com seus 100 anos de idade continua lúcido, contribuindo para aquela pesquisa, que se tornou quase que algo pessoal para Mayara. Mais belo ainda é conhecermos a família de Mayara. Conhecermos um pouco da história de sua mãe, de sua vó e podermos imaginar o quão foi árduo todo esse caminho percorrido por elas.

A verdade é que minha Bahia é um celeiro de mulheres retadas e que vão à luta. A história nos mostra isso. De Maria Quitéria que se vestiu de homem para lutar na Guerra da Independência, até – e por que não? – Mayara Priscilla, a primeira de sua família a se graduar.

GREICE (2024)

Certamente Greice foi, de todos os filmes presentes nas Competitivas, aquele com mais carisma. Isso se deve, é claro, a toda simpatia de sua protagonista, Greice, interpretada pela simpaticíssima Amandyra.

O filme narra a história dessa personagem brasileira que estuda em uma universidade em Portugal. Não fica muito claro no início, mas ela não está completamente legal no País. E as coisas pioram quando um incidente acontece na universidade, do qual ela é uma das suspeitas pelo ocorrido, o que a leva a voltar para o Brasil. Mas antes disso acontecer já fica muito evidente o jeito que Greice leva a vida. De maneira leve, debochada e até um tanto descompromissada com as consequências de seus atos, as coisas parecem sempre dar certo para ela no final.

O humor se faz presente durante todo o filme. As vezes em um tom sarcástico, outras vezes de uma forma mais direta e menos elaborada, mas o riso do público é uma coisa certa durante a projeção deste filme. Se no começo do filme a grande responsável por isso é Greice, em determinado momento ela recebe uma grande ajuda que é Enrique (Dipas). Os dois juntos possuem muita química, não só para o flerte que acontece a todo o tempo entre eles, mas também pelo humor que possuem e que viabilizam um para o outro.

O texto do filme não nos leva a uma viagem muito elaborada, contudo é bem gostoso acompanhar as peripécias da personagem. Há um certo feitiço em Greice. Nosso olhar permanece sempre muito acolhedor com ela, mesmo quando em alguns momentos o olhar do filme sobre ela recaia em um julgamento, sobretudo, de moral.

O diretor Leonardo Mouramateus foi muito feliz nesse direcionamento suave da história. Apesar do filme tocar praticamente uma nota só, o tom, ao longo das quase duas horas de duração, é extremamente agradável. Greice é isso, um filme aprazível que entrega aquilo que promete. Uma jornada leve e bem-humorada de uma garota acostumada a olhar para a vida sempre com um sorriso no rosto.

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