A la Sombra de la Luz (Reyes e Merino, 2023) traz ao espectador a vivência de uma pequena vila, no interior do Chile. Nela, enquanto seus habitantes seguem seu cotidiano, uma grande e potente usina termoelétrica consome as redondezas.
O esforço visual de A la Sombra de la Luz (Reyes e Merino, 2023)
Ao tentar falar sobre muita coisa, A la Sombra de la Luz (Reyes e Merino, 2023), acaba não falando sobre nada. O filme, da dupla de diretoras Isabel Reyes e Ignacia Merino, aposta muito na força de suas imagens. Primeiramente, é um filme que quase não tem diálogo (apenas constatando, sem juízo de valor). Assim sendo, o aspecto visual da obra ganha um protagonismo ainda maior.
Dessa forma, o filme emprega esforços em passar seu discurso através de questões imagéticas no plano. E, portanto, na capacidade visual de suas dualidades. Ou seja, A la Sombra de la Luz (Reyes e Merino, 2023) trabalha muito com o contraste entre o natural, e o avanço antropológico.
O discurso perdido no discurso
Entretanto, a maneira como as diretoras resolvem evidenciar esse contraste é um tanto quanto confusa. Certamente, houve uma tentativa de elucidar alguma ideia a respeito desses paralelos. Todavia, tal ideia nunca fica clara, visto que a obra oferece visões totalmente distintas sobre o mesmo assunto.
Em outras palavras, as imagens apresentadas pela dupla (que, ao menos, são visualmente lindas) expressam coisas diferentes. A la Sombra de la Luz (Reyes e Merino, 2023) ora parece querer vilanizar a existência da usina elétrica, ora parece glorificar. Em momentos, a decupagem e a montagem (ou seja, a sequência das imagens), parece querer esclarecer o quanto aquela população depende da energia provida pela usina. Como, por exemplo, em uma cena onde o pessoal da vila fica sem iluminação, e é mostrado como isso afeta o trabalho deles.
Periculosidade do cotidiano
Contudo, em outras cenas, parece que esses mesmos aspectos desejam tecer uma crítica sobre a invasão do avanço humano sobre aquelas pessoas e o modo de vida “natural” delas. Outrossim, soa até como se A la Sombra de la Luz (Reyes e Merino, 2023) quisesse discutir o perigo de se habitar tão próximo daquilo.
Desse modo, então, vai-se tecendo uma crítica, até mesmo uma certa denúncia, a respeito daquela situação toda. Conquanto, logo em seguida a mise-en-scène — termo francês utilizado para denominar a construção cenográfica de um filme — se reconstrói e passa a apontar para outra direção.
Na ausência de um objeto para criticar, tudo vira crítica
Por consequência, em instantes até soa como se o objetivo do filme não fosse julgar a presença da usina, mas sim salientar como ela se integrou culturalmente naquela população. Porém, ao analisar sob essa ótica, parece surgir um juízo de valor sobre a vivência daquelas pessoas. Inegavelmente, em alguns momentos A la Sombra de la Luz (Reyes e Merino, 2023) demonstra essa integração de maneira negativa. Por fim, ao tentar paralelamente demonstrar neutralidade sobre uma vivência, mas demonizar um aspecto dela, acaba-se demonizando-a como um todo.
Dessa forma, a obra vai seguindo, alternando suas imagens sem saber onde quer chegar. Passa por aqui, passa por ali, vai lá, volta acolá. Mas nunca para e se assenta. Em determinado momento, inclusive, parece se perder tanto que viaja para um lugar totalmente distante.
A la Sombra de la Luz (Reyes e Merino, 2023): belo, mas sem potência
Só para ilustrar, quase chegando no final do filme, A la Sombra de la Luz (Reyes e Merino, 2023) para de retratar aquela ambientação. Por conseguinte, se instaura um show de luzes digno das maiores baladas noturnas por aí. É laser voando, luz girando, espiral, pulos, flashes, tudo o mais que você possa imaginar para embelezar um feixe de luz. E então, a fim de que?
Decerto são imagens bonitas, mas não agregam em nada ao já perdido discurso. Nesse sentido, poderia até argumentar que tais cenas contribuem para a glorificação da usina. Afinal, a usina produz a energia elétrica que é responsável por esse belíssimo e ressaltado show de luzes. Mas, logo em seguida, retoma a vilanizar aquela construção.
Em síntese, A la Sombra de la Luz (Reyes e Merino, 2023) tenta, tenta, tenta, mas não chega a nada. Não dá nem para falar que seu discurso é superficial, pois no fim nem tem discurso algum, é só um amontoado de “talvez”. Talvez seja isso que elas querem dizer? Não, espera, talvez seja aquilo!
Filme: A la Sombra de la Luz Direção: Isabel Reyes e Ignacia Merino Roteiro: Isabel Reyes e Ignacia Merino Produção: Chile Ano: 2023 Gênero: Documentário, Experimental Sinopse: Em uma vila no interior do Chile as pessoas tem que conviver com uma usina termoelétrica. Classificação: 14 anos Distribuidor: Compañía de Cine Streaming: Indisponível Nota: 2,0 |