25º FESTIVAL DO RIO – ATIRARAM NO PIANISTA

25º FESTIVAL DO RIO – ATIRARAM NO PIANISTA

Na quinta-feira, dia 5 de outubro, deu-se início ao Festival do Rio. Na noite de abertura, foi exibido o filme Atiraram no Pianista, de Fernando Trueba e Javier Mariscal, indicados ao Oscar 2012 por “Chico e Rita”. Em 25 anos de evento, foi a primeira vez que uma animação foi exibida na gala de abertura.

O filme segue uma investigação de um jornalista norte-americano acerca do desaparecimento de Tenório Júnior, um excelente pianista de samba-jazz brasileiro visto pela última vez em uma turnê musical de Vinicius de Moraes e Toquinho em Buenos Aires, poucos dias antes do golpe militar que aconteceria na Argentina em 1976. O longa funciona como uma espécie de documentário ficcional, apesar do enredo ser baseado em um caso real. Fernando Trueba, desde que descobriu o caso de Tenório em 2004, entrevistou diversos artistas – e que artistas! – e amigos do músico, até ter a ideia de produzir essa animação.

Assim que o filme começou, passando-se na cidade de Nova York, eu não entendi o porquê de abrir o Festival. Porém, logo depois que o protagonista veio para o Rio de Janeiro, eu compreendi na hora. Para quem é carioca, o filme é um deleite visual. Definitivamente é uma homenagem à cidade e toda música presente aqui. De uma maneira higienizada ou para inglês ver, mas é uma homenagem. Lindo mesmo. Em relação à música, temos todos os clássicos de samba, jazz e bossa nova para escutar durante todo o percurso do enredo. É um tributo ao legado do pianista e à Música Popular Brasileira. Além do mais, é incrível ver nossos grandes ídolos em versões animadas. Chico, Caetano, Gil, Milton Nascimento, Toquinho… Em um certo momento até esqueci que o filme era uma animação, mesmo ela não se propondo a ser tão realista.

A premissa se dá logo nos primeiros minutos do filme. Sabemos que Tenório Júnior foi assassinado e sabemos que não há tantas respostas. Inicialmente, supõe-se que Tenório foi sequestrado por agentes do Estado quando ia comprar sanduíches depois de um show. Entretanto, o filme não nos dá mais elementos para desvendarmos o que realmente aconteceu. Ouvimos as pessoas próximas dele falando sobre como se conheceram e sobre seu imenso talento, mas nada parece acrescentar muito no real objetivo de tantas entrevistas. Tudo parece um tanto redundante. São muitos relatos e muitas pessoas dizendo fatos parecidos. Entretanto, ouvir alguns deles enquanto nos são mostrados através formato animado é interessante, já algo que só pode ser feito de forma ilustrada para que não fique uma encenação cafona.

Uma coisa que fiquei pensando após sair da sala de cinema foi sobre a ideia de liberdade. Seja artística, ou de expressão. Por ser um músico de “aparência esquerdista”, Tenório Júnior foi torturado na Escola Mecânica da Marinha (Esma) e assassinado por um soldado conhecido como Anjo da Morte, para ocultar sua prisão sem pretexto ou motivação. Ele vivia um período ditatorial no Brasil e morreu pelas mãos de uma ditadura na Argentina. Isso me fez pensar que ele foi privado durante muito tempo de ter uma liberdade de direito, e morreu assim. Não só ele, mas muitos dos músicos e pensadores que aparecem no filme sofreram censura ou foram exilados por serem os artistas que eram e por se expressarem através da música. Talvez o ponto crucial da mensagem do filme seja fazer com que a história de Tenório e as de outros artistas não caiam no esquecimento, para que, assim, saibamos que temos o direito à liberdade e o dever democrático de mantê-la.

Apesar de ser um tanto longo e, algumas vezes, pleonástico, Atiraram no Pianista é um encanto para nossos olhos e vai muito além da música. Ele é memória. Memória histórica, memória política. Sem memória, não há identidade e nem sociedade. Sem pensar sobre o passado, não há maneiras de se pensar o futuro, viver, sobreviver e nem morrer. Sem vida, não há música.


Filme: Dispararon Al Pianista (Atiraram no Pianista)
Elenco: Jeff Goldblum, Roberta Wallach, Tony Ramos
Direção: Javier Mariscal
Roteiro: Fernando Trueba
Produção: Espanha, França
Ano: 2023
Gênero: Animação, Drama
Sinopse: Um jornalista musical de Nova York embarca numa jornada em busca da verdade por trás do misterioso desaparecimento do virtuoso pianista brasileiro Tenório Jr. Uma história de origem comemorativa do movimento musical mundialmente famoso chamado Bossa Nova. O filme retrata um período fugaz; repleto de liberdade criativa; em um ponto de virada da história latino-americana nos anos 1960 e 1970, pouco antes do continente ser engolido por regimes totalitários.
Classificação: 14 anos
Distribuidor: Sony Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 8,0

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