CHAMAS DA VINGANÇA

CHAMAS DA VINGANÇA

Um dos escritores mais adaptados para o cinema não só ganhou uma nova adaptação como este filme de 2022 se trata de um remake de outro filme de 1984. Estou falando de Stephen King e a sua obra A Incendiária. Os filmes tiveram seus títulos traduzidos para Chamas da Vingança e não, não possuem nenhuma ligação com aquele outro filme homônimo estrelado por Denzel Washington.

Chamas da Vingança (2022) é dirigido por Keith Thomas e sua principal estrela é Zac Efron. Interessante notar como o ator tem, cada vez mais, tentado se mostrar pelo talento – e ele já mostrou que tem – e não pela sua beleza. Iniciando sua carreira, após sua fase High School, em filmes que usavam – uns menos, outros mais – seu corpo e seus belíssimos olhos azuis como motivações dentro da trama (Vizinhos, Baywatch, 17 Outra Vez, Um Homem de Sorte), agora o vemos em atuações cada vez mais cheias de camadas. Foi assim em Ted Bundy: A Irreversível Face do Mal, no qual interpretava o famoso serial killer dos Estados Unidos dos anos 70.

Apesar da minha alta expectativa não atendida, é o ator quem guia toda a narrativa. Mas a sensação que temos é de que ele não foi desafiado nesse longa. Parece estar sempre limitado a uma estrutura pré-concebida para seu personagem. Não à toa beira o ridículo a manifestação ordenada de seu poder, antecedido sempre por um movimento seguido de um estalo de seu pescoço. São particularidades assim que me fazem perceber o quanto o roteiro exige que suas linhas escritas sejam respeitadas sem a menor chance de improvisos ou até mesmo toques pessoais dos atores.

Já que estamos falando de um filme adaptado de uma história de Stephen King, logo não podemos pensar em outra coisa que não uma trama cheia de mistério, suspense e algumas pitadas de terror. Estes elementos estão presentes no longa, entretanto não de maneira incisiva e nem harmoniosa. Parece mais como uma necessidade por certas cenas para atender as cotas do susto, do espanto e da tensão.

O filme que demanda boa parte do tempo para apresentar os personagens principais, Andy McGee (Zac Efron), Charlie McGee (Ryan Kiera Armstrong), Vicky McGee (Sydney Lemmon), Rainbird (Michael Greyeyes) e Capitã Hollister (Gloria Reuben), acerta no timing quando sai de uma cena para outra desenvolvendo as relações, os interesses e as motivações para o que vamos visualizando nas sequencias. Longe de ser um filme monótono – a própria história se encarrega dessa dinâmica -, não deixa de ser curioso como a mise-en-scène é feita quase pela falta da própria mise-en-scène. Os cenários são completamente vazios, na tela vemos a todo tempo apenas plano e contra plano, normalmente, com o fundo desfocado e sendo de apenas um tom. Raramente a profundidade de campo é utilizada, mas quando existe é devido a importância, de fato, a algo que acontece àquela distância, algo que é extremamente pontual neste longa.

Está claro que o que importa para o diretor são aqueles personagens e seus poderes. Mal se vê as relações, de uma forma mais aprofundada, de personagens como Andy e Vicky McGee, marido e mulher, respectivamente. Isto cobra um alto preço quando nos deparamos com uma cena em que precisaríamos desse lastro para que nosso sentimento combinasse com os sentimentos dos personagens em cena. A possível potência daquilo que está sendo mostrado, simplesmente não existe, devido a essa falta de conexão do espectador com aqueles personagens.

Se em um primeiro momento Keith Thomas escolhe uma velocidade mais calma para nos apresentar a iniciação de seu filme, para colocar alguns flashbacks explicando como aqueles personagens chegaram até ali e, até mesmo, para desenvolver, ainda que minimamente, os poderes de cada uma daquelas pessoas, ainda assim faltou muito a ser dito. É extremamente superficial e sem cerimônias como a personagem Capitã Hollister é desenhada já em suas primeiras cenas. Inclusive não há nada sobre ela em todo o filme. Em contrapartida, mesmo que eu perceba uma série de incongruências, é possível enxergar algo a mais no personagem Rainbird, mesmo que as escolhas em seu desenvolvimento no longa passe, também, pela falta de um aprofundamento maior. Mas com base nos diálogos em que está presente e em toda a sua movimentação desde quando entra em cena até o final do filme, há uma clareza dos seus sentimentos, de seus ideais e, de certa forma, de uma moral que carrega consigo.

Embora Zac Efron seja a grande estrela do filme, a protagonista é Ryan Kiera Armstrong que, aqui, herda o papel que fora de Drew Barrymore, quando esta tinha apenas 8 anos. A pequena atriz vai bem e entrega o que é esperado para sua personagem, uma criança com poderes que desconhece e que tem dificuldades para controla-los quando estes começam a querer se manifestar. Vemos aqui o lado impulsivo de uma criança que é tolhida por, principalmente, seu pai em manifestar suas frustrações, já que estas poderiam ser, literalmente, explosivas.

Na segunda parte do filme o diretor vira uma chave e todo o ritmo que acompanhávamos até então dá lugar a um aspecto mais recortado. Quadros em cima de quadros, muitos movimentos, tudo acontecendo ao mesmo tempo e de maneira mal orquestrada. As soluções, sobretudo, no final do filme quebram um pouco da confiança que vamos tendo daquele universo criado. Quando Charlie é incapaz de pensar em outras formas, a não ser pelo fogo, para um embate com pessoas vestidas com uma roupa antichamas, nos perguntamos o quão especial ela realmente é, já que ao contrário de seus pais, ela possui outros poderes.

Um ponto, porém, que merece destaque é a trilha de John Carpenter. Esta sim é completamente fluida e orquestra muito bem as cenas em que está presente. O tom é sempre muito comunicativo com o que estamos a observar e, mais do que isso, extremamente coerente se pensarmos que Chamas da Vingança é um filme independente e que se vende como filme B mesmo.

Chamas da Vingança é um filme de poucas qualidades, mas sem duvidas a trilha sonora é uma delas. Já as atuações não chegam a decepcionar mas não é possível dizer que mostram algo a mais do que uma atuação reativa em um roteiro engessado. A direção do filme precisava de um olhar mais criativo e corajoso para encarar esse projeto, mesmo sendo um remake, como algo que pudesse vir a acrescentar no universo cinematográfico e não vislumbrar apenas mais um filme com uma história que já conhecemos e cheia de elementos já tão batidos em filmes desse gênero.


Filme: Firestarter (Chamas da Vingança)
Elenco: Zac Efron, Ryan Kiera Armstrong, Sydney Lemmon, Michael Greyeyes, Gloria Reuben, Kurtwood Smith
Direção: Keith Thomas
Roteiro: Scott Teems, Stephen King
Produção: Estados Unidos
Ano: 2022
Gênero: Drama, Terror, Ficção Científica
Sinopse: Uma garota com poderes pirocinéticos extraordinários luta para proteger sua família e a si mesma de forças sinistras que buscam capturá-la e controlá-la.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Universal Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 5,9

*Estreou nos cinemas no dia 19 de maio de 2022*

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