A TEORIA DOS VIDROS QUEBRADOS

A TEORIA DOS VIDROS QUEBRADOS

Repleto de situações comuns a cidades interioranas, como o interesse pela vida alheia, a união para lidar com problemas e a presença de camadas de poder local, A Teoria dos Vidros Quebrados (2021) pode ser classificada como uma divertida comédia de costumes. Mas com o poder de representar não só a realidade local do interior do Uruguai, como também dos outros países que fazem parte desta coprodução entre Uruguai, Brasil e Argentina. Não é à toa que a história se passa em um pequeno município de fronteira.

No longametragem de Diego Fernández, o recém-promovido Claudio Tapia (Martín Slipak) é designado para assumir o posto de perito da seguradora em que trabalha em uma cidadezinha teoricamente pacata. No entanto, seu trabalho não será tão tranquilo quanto ele imagina. Ao chegar no local, Tapia descobre que uma série de carros estão sendo incendiados e precisa investigar os crimes para que sua empresa não precise arcar com tamanho prejuízo. A partir daí desenrolam-se diversas situações pitorescas.

Diferente de outras tramas que têm como base o subgênero whodunits, ou seja, uma narrativa de ficção que começa com um crime que deve ser investigado ao longo da história, ela não se concentra na pergunta “quem fez isso?”. Na verdade, o filme começa exatamente com uma cena de três jovens ateando fogo em um veículo. Sendo assim, a pergunta que precisa ser respondida nesse longa é: o que levou esses garotos a cometerem esses atos criminosos?

Para criar o roteiro de A Teoria dos Vidros Quebrados, Fernández e Rodolfo Santullo se basearam em um caso que ocorreu em 2010 na cidade de Melo, localizada no noroeste do Uruguai, na fronteira com o Brasil. Nessa época, cerca de 20 carros foram incendiados por jovens que queriam apenas se divertir. No caso do longametragem, o foco da trama não está nos garotos e sim no perito, que se encontra em um local desconhecido e precisa não só descobrir os autores e a motivação do crime, como também é obrigado a lidar com a fúria das pessoas que exigem sua indenização.

O filme de Fernández conta com boas atuações, principalmente Slipak. A expressividade que o ator confere a Tapia passa um ar de bondade e carisma para a personagem, o que justifica as frequentes ameaças, mas nunca a concretização de atos de violência física. No entanto, algumas cenas de devaneios do perito soam um tanto “kitsch” devido aos recursos estéticos utilizados. Esse ar ainda é reforçado por uma trilha sonora que faz lembrar o cancioneiro popular local, mas com letras que foram escritas para serem divertidas e complementar a história contada no longa.

O ponto alto do longametragem talvez seja o insight dos roteiristas em utilizar uma teoria criminal conhecida como broken windows theory (em tradução literal, teoria das janelas quebradas) para guiar a história. Desenvolvida a partir de uma experiência de psicologia social realizada por Philip Zimbardo, na Universidade de Stanford (EUA), em 1969, essa teoria demonstra que basta dar início a uma pequena ação de violência para desencadear um processo que leva indivíduos a vandalizarem objetos até a sua total destruição. No caso do estudo, um vidro quebrado de um carro.

Dessa forma, A Teoria dos Vidros Quebrados se torna bastante interessante quando aborda questões sociais, como a do estudo de Zimbardo, a burocracia que envolve os processos de indenização de um seguro e as peculiaridades de uma sociedade interiorana. No entanto, desvia-se de uma boa comédia quando acaba optando por recursos caricatos em excesso. Não que o longa seja de baixa qualidade, ele é uma ótima opção para aqueles momentos em que você deseja relaxar e assistir a algo leve, mas deixa a desejar principalmente por se tratar de um filme premiado em Gramado e que foi escolhido como o representante uruguaio no Oscar deste ano.

Filme: La Teoría de los Vidrios Rotos (A Teoria dos Vidros Quebrados)
Elenco Martín Slipak, Carlos Frasca, Roberto Birindelli, Jenny Galvan, Roberto More, César Troncoso e Veronica Perrotta
Direção: Diego Fernández
Roteiro: Diego Fernández e Rodolfo Santullo
Produção: Uruguai, Brasil e Argentina
Ano: 2021
Gênero: Comédia, policial
Sinopse: Claudio trabalha em uma companhia de seguros e atua como responsável da empresa em uma pequena cidade. Após sua chegada, vários carros começam a aparecer incendiados durante a noite sem motivo algum. Claudio deverá resolver o mistério para manter sua ambição de progredir dentro da empresa enquanto administra uma crise em seu casamento.
Classificação: 14 anos
Distribuidor:  Okna Produções
Streaming: Indisponível
Nota: 6,5

*Estreia dia 11 de agosto de 2022 nos cinemas*

 

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