MEN – FACES DO MEDO

MEN – FACES DO MEDO

MEN – Faces do Medo (2022) é o terceiro filme do diretor e roteirista Alex Garland e mistura elementos de drama e terror psicológico em uma história sobre trauma, onde o “vilão” está bem mais perto da realidade do que imaginamos. O filme estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, dia 8 de setembro.

Após passar por um evento traumático, Harper, protagonista interpretada por Jessie Buckley, decide sair em uma viagem para limpar sua mente em uma casa de campo isolada e afastada da cidade. Logo nos primeiros minutos, quando ela chega a seu destino, já começamos a sentir a atmosfera mudar. O senhorio da mansão é um personagem dubio, muito solícito e conversador e ao mesmo tempo assustador, o que se dá muito por conta da construção física do personagem, sua caracterização, seus trejeitos e expressões. Interpretado por Rory Kinnear, este personagem é uma figura a parte.

Algo que fica bastante em evidência ao longo do filme é o desconforto crescente da protagonista em meio à sua situação. Desde o momento em que seu senhorio tagarela apresenta todos os cômodos da casa enquanto lhe faz perguntas indiscretas, sentimos a ansiedade e sufocamento latentes que tomam conta de todo o ambiente. A atmosfera da casa é densa e a floresta convidativa, qualquer coisa para fugir das palavras incessantes que saem da boca do homem pedante que arrisca a paz da viagem de Harper parece mais interessante do que ficar ali.

Como de costume, as jogadas do roteiro nos levam às reações clássicas. Ficamos nos perguntando por que a protagonista decide fazer isso ou aquilo e julgamos burrice de sua parte fazer tal viagem sozinha. Garland insere, ainda, uma personagem secundária, amiga de Harper que às vezes faz chamadas de vídeo para checar se está tudo bem. Tais preocupações, sabemos, são características quase que exclusivas de mulheres.

Essas preocupações, que parecem existir somente por parte da amiga da protagonista crescem também no espectador à medida que eventos estranhos começam a acontecer ao redor da casa onde grande parte do filme se passa. Pouco a pouco, somos atingidos pela insanidade desses eventos. Eles são reais ou só fazem parte do trauma de Harper? A cada novo incidente, sentimos o cerco se fechar ao redor da protagonista e a atmosfera opressiva dos fatos a atingir em cheio. O texto é bem construído e, ao utilizar frases que estamos acostumadas a ouvir em situações como as representadas em tela, sentimos a raiva e o sentimento de desacolhimento borbulhando em nossos estômagos.

Garland consegue, de maneira eficaz, inserir e combinar trechos da história anterior de Harper e sua situação atual. A gama de personagens, suas peculiaridades e semelhanças também são bem colocadas de maneira a tornar a experiência mais angustiante para a personagem de Buckley e para o espectador. Enquanto conhecemos melhor o seu trauma, também nos é possível entender parte do que o cineasta pretende apresentar em sua narrativa. Há elementos e figuras importantes inseridos em momentos chave para a protagonista. Enquanto sua experiência nesse lugar novo e desconhecido se torna aterrorizante e lhe leva ao seu limite, flashes de sua experiência passada se chocam e encaixam naquilo que o diretor afirma.

MEN é, talvez, o melhor trabalho de Alex Garland até agora. O diretor que vem de trabalhos como Ex-Machina (2015) e Annihilation (2018) apresenta, aqui, maior maturidade tanto no texto quanto na direção. Ainda que pessoalmente não seja o meu favorito, é preciso dizer que o cineasta faz seu trabalho de maneira satisfatória. É perceptível mesmo no título o desenvolvimento de sua produção. O nome genérico dá a proporção da mensagem que se deseja passar e na construção dos personagens essa ideia se concretiza.

As atuações tanto de Jessie Buckley quanto de Rory Kinnear são parte importantíssima do longa. Buckley traz, sem nenhuma surpresa, a angústia e o horror sentidos por sua personagem para fora da tela. A característica de sua personagem que mais me agradou – e que provavelmente menos irá agradar ao público masculino – é a de que ela não é uma vítima indefesa e dependente de um homem para lhe proteger. Ainda que tenha sofrido um grande trauma, Harper se mantém racional mesmo quando a insanidade parece tomar conta de tudo ao redor. Lidando com tantas faces de um vilão que vai muito além da ficção, a protagonista se mantém firme, encarando a situação sem histeria.

MEN, ainda que seja uma história criada na ficção com elementos de terror, ao fazer uso de artifícios de fora da realidade cria uma atmosfera quase palpável. A realidade assustadora e opressora onde a protagonista de Garland está inserida é, infelizmente, tão real quanto no filme. Os elementos fantasiosos inseridos na narrativa do longa funcionam, talvez, como um mea culpa por parte da direção, que, ao fugir do real, tenta amenizar o inferno que é viver como uma mulher nesse mundo que compartilhamos.

Por fim, pode-se dizer que MEN – Faces do medo é um filme que vale a pena assistir, se levar em consideração o que uma mulher está dizendo. Como disse antes, talvez esse filme não seja tão bem recebido pelo público masculino, mas deixo a recomendação para àqueles que não tem problema em ver uma protagonista forte e tão bem interpretada por Jessie Buckley.


Filme: MEN (MEN – Faces do Medo)
ElencoJessie Buckley, Rory Kinnear, Paapa Essiedu, Gayle Rankin.
DireçãoAlex Garland
RoteiroAlex Garland
ProduçãoReino Unido
Ano2022
GêneroDrama, Ficção Científica, Terror
Sinopse: Após uma tragédia pessoal, Harper (Jessie Buckley) decide ir sozinha para um retiro no meio de um belo campo inglês, na esperança de encontrar um lugar para se curar. Mas alguém ou algo da floresta ao redor parece estar perseguindo ela. O que começa como um pavor se torna um pesadelo, habitado por suas memórias e medos mais sombrios.
Classificação16 anos
DistribuidorParis Filmes
StreamingO filme estreia nos cinemas brasileiros em 8 de setembro.
Nota6,0

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