A vingança é um gênero amplamente explorado no cinema e que me agrada quase sempre como espectadora. Em algumas obras ela vem de forma exagerada, em outras, nós, que assistimos, vibramos junto àquele que alcança o objetivo de sua busca. Plano A (Plan A) é um filme de 2021, escrito e dirigido pelos irmãos Yoav e Doron Paz e apresenta em seu enredo uma narrativa com este tema. Inspirado por uma história real e baseado no livro Nakam da historiadora israelense Dina Porat, a produção narra o plano de vingança de um grupo de “vingadores judeus” após o fim da Segunda Guerra Mundial na Alemanha.
Plano A tem como protagonista August Diehl, ator alemão conhecido por outro filme com uma temática bastante parecida: Bastardos Inglórios (Quentin Tarantino, 2009). Diferente de seu papel de nazista no filme de Tarantino, aqui, Diehl interpreta um homem judeu que perdeu sua família e sobreviveu ao Holocausto. Movido pelo ódio àqueles que levaram não somente seus entes queridos como milhões de outros seres humanos ao redor da Europa, seu personagem Max busca algum conforto para seu espírito ao se juntar a um grupo de militares que sentencia os mandantes dos crimes de guerra, porém seu ódio vai além e se estende a todo o povo alemão, levando-o assim, à procurar por um grupo mais “radical”, que é encontrado no “Nakam”, coletivo de judeus que planejam um ataque elaborado contra a Alemanha: seis milhões por seis milhões. O elenco ainda conta com os atores Sylvia Hoeks (Blade Runner 2049, 2017) e Michael Aloni (Além da Fronteira, 2012).
Nesse ponto, é quase impossível não traçar paralelos com o filme de Tarantino já citado. Ainda que ambas as produções tratem de vingança, suas abordagens não são nada parecidas. Diferente do tom histérico e violento que Tarantino dá à sua visão de uma hipotética luta dos judeus contra os nazistas, em Plano A não há tanto espaço para a violência e pouco se aborda do ponto de vista dos alemães, o que é um ponto acertado da história. Focado em Max e seus companheiros, o roteiro explora a condução do plano pelo grupo e os erros e acertos de sua missão.
Em todo o momento se fala sobre os crimes horrendos contra a humanidade praticados pelos soldados alemães no poder, como um combustível à vingança de Max e companhia e como uma forma de não nos fazer esquecer da culpa que todo um povo pode carregar por não tentar impedir de alguma forma o sofrimento de tantas outras pessoas. Para além disso, é explorada também a luta entre o que é justiça e o esvaziamento de seu conceito. Em alguns momentos o roteiro traça esse embate nos diálogos dos personagens e aborda as possíveis opções de “vinganças” melhores. Nesse ponto, o roteiro perde ao sugerir saídas que parecem medrosas, como quando algum personagem fala, mais de uma vez, sobre como ter uma vida feliz é uma vingança muito melhor do que matar.
Ainda que seja uma história inspirada por eventos reais, muito da narrativa de Plano A se apresenta de maneira monótona e pouco carismática. August Diehl dá o seu melhor interpretando, como sempre, porém é de pouca ajuda ao filme que desde o início demonstra pouca força em sua abordagem. Um ponto positivo do roteiro está em não vitimizar sobreviventes do Holocausto. Seus traumas são apresentados e há drama na medida certa ao redor de suas histórias. Não há apelação violenta ou dramática e ainda que haja, em certo momento, pequenas amostras do horror da guerra com suas vítimas, este não é um filme caça-lágrimas, por assim dizer.
Algo importante que é apresentado no longa é o fato destes personagens disfarçarem-se de arianos e as pessoas ao seu redor agirem como se a guerra ainda estivesse acontecendo. O nazismo não sumiu como mágica com a derrota dos alemães na guerra e isso é explorado no filme de Yoav e Doron Paz. Em amostras sutis, o roteiro de Plano A exibe o sentimento nacionalista de uma população que perece da falta de condições básicas como alimentação e abastecimento de água, mas que tem forças para hostilizar àqueles que já sofreram durante os últimos sete anos e novamente sofrem pelos mesmos motivos que esses alemães.
Não há grandes viradas de roteiro e tampouco o longa alcança momentos de muita emoção. No geral, Plano A se trata de uma produção regular, que conta uma história que poderia ser mais bem explorada. O ato final do filme é, de fato, a parte com mais ação e tensão da narrativa, o esforço das cenas finais é válido e quase temos uma conclusão satisfatória, porém o longa tem um fim anticlimático e infeliz, do ponto de vista espectatorial. O filme, que começa com uma pergunta, termina também com ela e nos leva à reflexão após o seu fim. Ainda que sua execução não seja de todo acertada, a discussão acerca do que é certo ou não é válida em alguma medida. As atuações, principalmente de August Diehl e Sylvia Hoeks, acrescentam à narrativa os traumas das histórias de seus personagens e ambos os atores se saem bem juntos em tela.
Faltam elementos à execução de Plano A, porém, o filme traz uma discussão importante, e ainda que possamos julgar a Segunda Guerra Mundial e seus desdobramentos temas já explorados demasiadamente no cinema, percebemos aqui que existem ainda novas (ou escondidas) narrativas a serem contadas. Pequenos pontos da história mundial, como o grupo “Nakam”, poderiam passar despercebidos não fosse por produções como essa. Assim, assistir à Plano A é uma experiência válida tanto do ponto de vista histórico quanto pelo trabalho dos atores que se empenham em trazer para a tela a realidade de seus personagens.
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Filme: Plano A (Plan A) Elenco: August Diehl, Sylvia Hoeks, Michael Aloni, Nikolai Kinski. Direção: Yoav Paz, Doron Paz Roteiro: Yoav Paz, Doron Paz Produção: Alemanha, Israel Ano: 2021 Gênero: Drama, História, Thriller Sinopse: Inspirado em uma história verídica, o longa segue um grupo de sobreviventes do holocausto judeu, em 1945, que planejam o ato final de vingança contra os nazistas envenenando o sistema de água na Alemanha. Essa operação secreta ousada foi chamada de Plano A. Classificação: 16 anos Distribuidor: A2 filmes Streaming: O filme estreia nos cinemas em 01 de dezembro de 2022. Nota: 6,0 |
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