A moda do cancelamento teve início já a algum tempo. Entretanto vem sendo banalizada ao longo dos anos. Hoje para cancelar alguém basta que este individuo se omita sobre algo, principalmente se acharem que ele tem voz e que possa fazer, de alguma forma, a diferença.
No cinema, porém, o ato de cancelar alguém tem sido por motivos altamente justificáveis como foram os casos de Kevin Spacey e Roman Polanski por exemplo, que foram acusados de assédio sexual e estupro, respectivamente. Polanski é, inclusive, tido como foragido. Estes dois são apenas exemplos em um universo de muitos outros nomes que foram descobertos como verdadeiros algozes. Homens inescrupulosos que usavam a fama, dinheiro e status para assediar, violentar e calar suas vítimas, normalmente, mulheres.
Mas há nessa euforia do cancelamento uma questão que é debatida sempre, mas que pouco se avança em direção a uma conclusão. Como lidar com as obras destas personas que um dia dissemos que gostamos? Desdizemos? Apagamos da nossa memória que um dia gostamos da atuação de Spacey em Os Suspeitos? Deletamos de nossa mente filmes como Chinatown e o excelente e memorável O Pianista?
Acredito que a resposta seja até simples, mas ficamos cegos por uma certa irracionalidade.
Beleza Americana, ganhador de 5 Óscares, não é um filme só do Kevin Spacey. Como anular todos que fizeram parte daquela produção?
E, aqui, não estou considerando apenas os atores, mas, sim, todos que fizeram parte direta e indiretamente do filme.
Compartilho da ideia de que a indústria não deva mais dar espaço a estas pessoas. Pois algo assim poderia soar como impunidade e conivência. Mas aquilo que já foi feito e de forma marcante para o cinema, não pode ter o cobertor do esquecimento colocado em cima.
Mas e se novos filmes forem protagonizados por Kevin Spacey ou dirigidos por Polanski?
“Haverá uma infinidade de profissionais envolvidos no filme também”
Nesse caso minha opinião é um pouco mais rígida. Contrariando o que eu esperava da indústria, oportunidades foram dadas para quem não as merecia e todos aqueles que aceitaram fazer parte do mesmo projeto, de certa forma, passam pano para as atrocidades cometidas no passado.
Exemplificando: Eu me nego a assistir “O Oficial e O Espião” e acho o cumulo da falta de respeito Roman Polanski ter ganhado o Cesar de melhor diretor. Foi sem duvidas um afronta a todas as mulheres, principalmente, àquelas que já passaram por tamanha humilhação, como foi o caso de Adele Haenel.