CRÍTICA – O EFEITO MARTHA MITCHELL

CRÍTICA – O EFEITO MARTHA MITCHELL

Em 1972, um grupo de cinco homens tentou invadir a sede do Partido Democrata americano, dentro do complexo Watergate, em Washington, com a intenção de grampear os telefones e ter acesso ilegal às informações confidenciais da campanha de George McGovern, rival de Richard Nixon na corrida presidencial. O plano fracassou e todos foram presos. Descobriu-se mais tarde que eram homens ligados ao Partido Republicano. Um crime político grave, portanto. Um escândalo.

Para compreender a relevância do documentário “O Efeito Martha Mitchell”, que concorre na categoria de melhor documentário de curta-metragem no Oscar 2023, é preciso, então, saber o que foi esse escândalo (pelo menos nas suas linhas gerais) e quais foram seus desdobramentos posteriores.

Nixon concorria à reeleição, e ele fez lá nos Estados Unidos o que os candidatos à reeleição presidencial aqui no Brasil fazem o tempo todo, independente da orientação política: usou a máquina pública — dinheiro do contribuinte, mas não só — para vencer a disputa a qualquer custo, de qualquer maneira, jogando bastante sujo inclusive. E o que aconteceu? Apesar de Watergate, Nixon ganhou de lavada as eleições.

E Martha?

Martha Mitchell era casada com John Mitchell, que foi procurador geral e coordenador de campanha de Nixon. Um homem muito próximo do ex-presidente. Um pouco depois da posse presencial em 74, um dos cinco homens presos resolveu abrir o bico e fez ressurgir o caso Watergate, afirmando que John Mitchell sabia de tudo, que ele tinha conhecimento prévio de toda a operação. Ora, se o procurador sabia, Nixon, claro, também sabia. O caso, assim, voltou à tona com força e obrigou Mitchell a inventar uma desculpa e sair do governo.

As diretoras do documentário, Anne Alvergue e Debra McClutchy, mobilizam, então, vasto material de arquivo envolvendo todos esses personagens históricos masculinos mas alçando Martha Mitchell, dentre todos eles, à condição de protagonista. Uma figura chave do ponto de vista delas não só para entender mais profundamente aquele conjunto de eventos políticos dos Estados Unidos naquele período, mas principalmente para compreendermos como Martha, na condição de mulher, foi desacreditada, ridicularizada e humilhada durante anos diante da opinião pública norte-americana. Inclusive, acusada de estar louca, tentaram silencia-lá. O que, sem dúvida, foi bastante sério.

Há, inclusive, uma imagem dela de boca aberta, sorrindo, que não por acaso era constantemente utilizada pela imprensa americana, dando a impressão maldosa de que era frívola e um tanto parva. Mas Martha, ao contrário, era astuta e bem relacionada. Ela conhecia muita gente da imprensa, e foi a primeira a dizer para eles que Nixon precisava renunciar; e que, embora o então presidente negasse com veemência, ele também estava envolvido no caso Watergate.

A execração pública de Martha Mitchell, portanto, fez parte de uma campanha massiva que enganou os americanos durante anos para que Nixon ganhasse novamente as eleições. Toda essa narrativa está bastante bem articulada numa montagem de ritmo dosado, construído com muito zelo, e que soube explorar com mestria todo material de arquivo disponível sobre o escândalo.

Se você estiver nos EUA, agora já sabe, toda vez que alguém for duramente desacreditado num determinado momento, acusado de estar delirando, e, tempos depois, descobrir-se que o sujeito estava certo, que ele tinha razão, eis o tal “efeito Martha Mitchell”.

É um bom filme, voltado para um assunto bem americano. Como não entendo nada de Oscar, não faço ideia se tem alguma chance. O documentário está disponível na Netflix.


Filme: O Efeito Martha Mitchell
Elenco: Martha Mitchell, John Mitchell, Richard Nixon
Direção: Anne Alvergue e Debra McClutchy
Roteiro: Anne Alvergue
Produção: EUA
Ano: 2022
Gênero: Documentário
Sinopse: O documentário traça o perfil de Martha Mitchell, que foi taxada de louca por fazer denúncias contra o governo no caso Watergate.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Netflix
Streaming: Netflix
Nota: 7,5

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