NOSTALGIA: UM FILME MELANCÓLICO
Por Kim Gomes | Letterboxd
“Nostalgia” é um filme que evoca sentimentos profundos e complexos por meio da jornada de Felice Lasco, interpretado por Pierfrancesco Favino. Dirigido por Mario Martone e escrito em colaboração com Ippolita Di Majo, o filme se passa na pitoresca cidade de Nápoles, na Itália, onde Felice retorna após quatro décadas de ausência. A premissa inicial promete uma exploração fascinante da nostalgia, mas, infelizmente, o filme falha em manter a consistência ao longo de sua narrativa.
Um dos aspectos mais destacados de “Nostalgia” é a sua estética visual. A direção de fotografia captura de forma deslumbrante a beleza da parte sombria de Nápoles, revelando também seus cantos mais escondidos. Cada cena é uma fotografia em movimento, e a escolha de locações e composições visuais contribui para a construção de uma atmosfera melancólica e de certa forma cativante.
Pierfrancesco Favino entrega uma atuação sólida como Felice Lasco. Sua interpretação consegue transmitir as complexidades emocionais do personagem, especialmente as camadas de confusão, medo e entusiasmo quando falamos de suas memórias mais antigas, as quais o atormentam à medida que revisita seu passado. Favino consegue expressar com sucesso as nuances da experiência de Felice, fazendo com que o público se conecte com a sua jornada de autodescoberta.
O filme inicia sua narrativa de forma promissora, introduzindo os espectadores a um drama familiar, onde o protagonista busca ajudar sua mãe, e que se baseia fortemente na nostalgia como elemento central. As primeiras cenas estabelecem um tom envolvente, explorando a relação de Felice com sua cidade natal e com sua mãe. É interessante que boa parte das conversas entre o protagonista e sua mãe são sobre memórias antigas.
No entanto, a trama toma uma guinada abrupta durante o segundo ato, perdendo-se em uma série de eventos desconexos e com novos personagens que entram na história sem uma introdução adequada deixando mais complicado para o público se colocar nessa situação e sentir empatia com o novo rumo da história. Essa mudança brusca na narrativa deixa o filme desequilibrado e totalmente oposto ao clima que ele tinha construído no primeiro ato, e muitas vezes me vi perdida sobre o que a história estava querendo me falar e aonde ela queria me levar.
A inclusão de personagens secundários que recebem destaque súbito e inexplicado também prejudica a coesão da história. A falta de desenvolvimento adequado desses personagens dificulta a empatia do público por suas jornadas, tornando-os elementos narrativos superficiais em vez de contribuir para o enriquecimento da trama principal.
Um dos principais pontos de crítica é a sensação de que o filme não tem um foco claro em sua narrativa, resultando em uma experiência fragmentada para o espectador. Em certo ponto da história, torna-se difícil discernir qual é o objetivo final da trama e qual arcos do protagonista será resolvido. Essa falta de clareza cria uma sensação de desinteresse e frustração.
O final do filme também deixa muito a desejar. A falta de um desfecho satisfatório e a presença de um anticlímax, contribuem para a decepção geral da experiência do espectador e dando a sensação de que o filme não foi concluído. O filme parece se perder ainda mais em sua narrativa, deixando pontas soltas em todos os cantos.
Em sua busca por explorar a profundidade da nostalgia, “Nostalgia” falha em manter a promessa de sua premissa inicial. Embora apresente elementos visuais deslumbrantes e uma atuação centrada de Pierfrancesco Favino, o filme perde sua coesão narrativa e se perde em uma trama desconexa e personagens subdesenvolvidos. A mudança brusca na direção e a falta de um desfecho satisfatório contribuem para a sensação de insatisfação ao final da história de Felice Lasco em sua cidade natal. Em última análise, “Nostalgia” é um filme que, apesar de seu potencial, deixa o público com a sensação de que suas memórias mais profundas e significativas permaneceram, assim como as de seu protagonista, perdidas e não resolvidas.
Filme: Nostalgia |