Nam June Paik: A Lua É A TV Mais Antiga é um deleite. Para quem gosta de arte e aprecia a arte performática, acompanhar a trajetória de Nam June Paik, considerado o pai da videoarte, e o desenvolvimento de seus trabalhos que misturavam a tecnologia e a cultura é sensacional. Através dele, podemos acompanhar as evoluções culturais e tecnológicas, das quais o artista sempre tirou proveito, que formaram o mundo que conhecemos hoje.
Paik nasceu na Coreia e sempre foi um grande fã da música performance de John Cage. Esse espírito de anarquia sempre esteve presente em sua vida, o que dificultava a relação dele com seu pai. Ele cresceu acompanhando o rádio e as transformações da televisão em um mundo conflituoso. Nesse sentido, acreditava que o rádio era um meio de comunicação ultrapassado, já que servia como propagandas de governos nazifascistas. Para ele, a TV representava o futuro. O mundo era um oceano de informações que todos deveriam ter acesso. A globalização já pairava em sua mente.
Sua vida não foi fácil. A ida para os Estados Unidos o legitimou, mas o fez passar por muita dificuldade. Dificuldades essas que, aparentemente, ele sempre contestou através da arte, apropriando-se de quem ele era para adentrar os meios em que desejava estar. “Sou um cara pobre de um país pobre, então tenho sempre que distrair as pessoas”. Trazer essa representação oriental na mídia era importante. Nesse sentido, ele questionava com leveza. Buddha TV, sua obra mais famosa, é exatamente isso. Participar do grupo Fluxus, junto com Yoko Ono, foi de extrema importância para que a arte valorizada não fosse só a europeia. A televisão, então, era seu principal objeto de pesquisa, mas mesmo assim atacava sua santidade e poder de influência. “Retrucar é o significado da democracia”.
E tudo isso é contado brilhantemente através de imagens de arquivo e de uma direção excelente de Amanda Kim. Nós, espectadores, ficamos vidrados no que se vê em tela. Conta-se a história através de diferentes estilos documentais, o que traz um dinamismo ímpar para o filme. Vale ressaltar a combinação entre a narração de Steven Yeun, de The Walking Dead, e a voz do próprio Nam June Paik, que funciona quase que como um diálogo entre o artista e seu público. As entrevistas de amigos e pessoas próximas, então… Incríveis! Destaco, inclusive, a cena pós créditos sensacional com Marina Abramović.
Nam June Paik: A Lua É A TV Mais Antiga é obrigatório para todo mundo que trabalha com comunicação. Cada detalhe parece ser muito bem pensado para que a gente possa construir aos poucos a linha de raciocínio. Essa simbiose entre cultura, tecnologia e representatividade que ele traz em suas obras é única e revolucionária. E o documentário consegue fazer jus à sua grandeza sem transformá-lo em um mito. A gente se envolve, ri, chora e reflete. É inspirador.
Filme: Nam June Paik: A Lua é a TV Mais Antiga Elenco: Steven Yeun, Nam June Paik Direção: Amanda Kim Roteiro: Amanda Kim Produção: Estados Unidos Ano: 2023 Gênero: Documentário Sinopse: Narrado pelo ator Steven Yeun; o documentário apresenta a viagem quixotesca de Nam June Paik (1932-2006); considerado o pai da videoarte e um dos artistas asiáticos mais famosos do século XX. Nascido na Coreia do Sul; ele revolucionou o uso da tecnologia como tela artística e profetizou as tendências fascistas; as redes sociais e a compreensão intercultural que surgiriam no mundo interconectado. Classificação: 12 anos Distribuidor: JBS ARTS Streaming: Não disponível Nota: 10 |