CRÍTICA – PELE

CRÍTICA – PELE

Uma Odisseia Urbana Pintada com Arte e História

Por Kim Gomes | Letterboxd

O cinema documentário, desde seus primórdios com os irmãos Lumière no final do século XIX até as explorações contemporâneas em plataformas de streaming, permanece como uma poderosa forma de narrativa. No contexto mundial, os documentários começaram como breves instantâneos da vida cotidiana, expandindo-se para desbravar culturas, registrar eventos históricos e, eventualmente, adotar abordagens mais imersivas e observacionais.

No Brasil, o movimento do Cinema Novo na década de 1960 e o trabalho seminal de cineastas como Eduardo Coutinho deixaram uma marca indelével na trajetória do documentário. A contemporaneidade testemunha um renascimento, com cineastas brasileiros explorando uma gama diversificada de temas, elevando o documentário a novos patamares de reconhecimento e influência global.

Além da mera documentação, os documentários têm o poder intrínseco de informar, educar e, muitas vezes, advogar por mudanças sociais. Eles se tornaram uma ferramenta crucial para explorar a complexidade do mundo que nos cerca. Ao adentrar o universo de um filme documentário, convidamos o espectador a não apenas testemunhar, mas a participar de uma experiência imersiva que transcende as fronteiras do entretenimento, abrindo portas para a compreensão mais profunda do nosso mundo multifacetado.

A arte urbana conta histórias:

Em um cenário cinematográfico onde os documentários muitas vezes seguem a trilha convencional de entrevistas e narração, “Pele” emerge como uma lufada de ar fresco, desafiando as normas do gênero. Dirigido por Marcos Pimentel, o filme leva os espectadores a uma jornada pela arte de rua em Belo Horizonte, Minas Gerais, e surpreende positivamente ao adotar uma abordagem não convencional.

A narrativa, ao invés de depender de entrevistas e narradores tradicionais, se desenrola por meio de pequenos vídeos, que mostrar pixações na ambientação da cidade. A arte urbana apresentada é mais do que tinta nas paredes, é uma crônica viva dos períodos que o Brasil atravessou e dos anseios de uma população que, por vezes, pede por algo tão simples quanto o amor.

O mérito do diretor fica evidente ao abordar a trajetória de uma cidade e de um país através das expressões nas paredes. Marcos Pimentel tece uma narrativa espetacular, acentuada por uma trilha sonora eficaz que eleva “Pele” a um deleite não apenas visual, mas também auditivo. As sensações experimentadas funcionam como uma segunda camada de “Pele”, ou da Pele, aprofundando a conexão emocional com a narrativa.

Além disso, a escolha por performances artísticas é uma adição brilhante que eleva a experiência documental. Danças, música e teatro não apenas complementam, mas enriquecem o que o diretor deseja transmitir através de seu filme. Essas performances proporcionam uma dimensão adicional, transformando “Pele” em uma experiência multissensorial que transcende as fronteiras do documentário convencional.

A divisão do documentário em blocos temáticos é uma escolha intrigante. Por um lado, facilita a compreensão para o público, proporcionando uma estrutura organizada. No entanto, compromete a imersão, já que somos envolvidos emocionalmente em uma história apenas para sermos abruptamente deslocados para outro bloco de pixações que clama por atenção.

“Pele” desafia as expectativas, destacando a riqueza da arte de rua como um meio poderoso de contar histórias. A cidade de Belo Horizonte torna-se o palco, e as paredes se transformam em um livro aberto, revelando capítulos da história do Brasil de maneira única e envolvente. Marcado por uma abordagem inovadora e uma trilha sonora cativante, o filme é uma experiência sensorial que ressoa além da tela.


Filme: Pele
Direção: Marcos Pimentel
Roteiro: Marcos Pimentel
Produção: Brasil
Ano: 2021
Gênero: Documentário
Sinopse: As paredes da cidade brasileira de Belo Horizonte estão inundadas com imagens e palavras pintadas, desde murais impressionantes até grafites antigos, e desde enigmáticos clamores do coração até xingamentos furiosos. Marcos Pimentel utiliza sua câmera em grande parte estática para capturar um impressionante número dessas declarações públicas.
Classificação: Livre
Distribuidor: Embaúba Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 10,0

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