Independente das más ou das boas intenções que cercam um filme, sempre será possível configurar algum potencial trágico ao mesmo. Agora, imagine uma produção de terror em found-footage, que mira numa junção entre Buscando (2018) e Amizade Desfeita (2014), que pretende deixar uma lição moral com relação ao acesso a internet por jovens, e que não consegue, literalmente, fazer o mínimo para a elaboração de uma ameaça de suspense, que ainda banaliza as temáticas de suicídio e chantagem online. O jogo da morte
Com origens sequer muito justificáveis, O Jogo da Morte, uma produção do leste europeu, chega no Brasil sem apresentar nada além de muito tédio disfarçado pelos, inclusive, já batidos aparatos virtuais do estilo de filme proposto (que se passa inteiramente nas telas dos dispositivos). As mídias digitais avançaram, e em um cinema cada vez mais vertical (pelas câmeras do smartphone), naturalizou-se a essa postura mais instantânea (como nos ditos “shorts” de redes-sociais) das encenações – porém, da pior forma possível, já que a rapidez com que o público é forçado a digerir os, supostamente, momentos-chave da trama, torna tudo com o sabor de lasanha de micro-ondas.
Tematicamente próximo, o episódio “Manda quem Pode”, da série Black Mirror, sem ousar quaisquer apelos sobrenaturais ou pseudo derivações disso, é capaz de criar uma atmosfera absurdamente carregada de tensão e sátira, ao passo que se configura como um exemplar supremo quando o assunto é malícia e chantagem virtual. Pois bem: partindo desta comunalmente explorada érea em contos dessa natureza cibernética, a trama acompanha Dana, que decide investigar o suicídio da irmã através das redes-sociais, e acaba se deparando com uma perigosa rede de abusos. Além da ineficácia da trama no desenvolvimento orgânico da apariçãoe suspensão da descrença numa criatura ‘sobrenatural-virtual’ tediosa, a situação piora quando explicitamente é abordada a onda da Baleia Azul.
Ganhando, inclusive, graves proporções no Brasil entre 2016 e 2017, o ‘jogo da Baleia Azul’ foi uma rede obscura que circulou pela internet atraindo jovens e incentivando-os a automutilação, atos humilhantes, e a um desequilíbrio piscológico geral. O Jogo da Morte, para sermos sinceros, sequer bem se utiliza desse aparato narrativo, pois a incompetência do novato trio de roteiristas é tanta que, ao invés de alguma apropriação do acontecimento real, o que se vê é uma bagunça inofensiva. O público, na verdade, é até opcionado a escolher se deseja mesmo fazer questão de considerar certas cenas avulsas que pouco surtirão efeito na narrativa. O conceito de avanço narrativo, aqui, reside num espectro plasmático. O problema mesmo, como já relatado, é o tédio que vez por outra impera.
Infelizmente a diretora estreante (que também compõe o trio de roteiristas), Anna Zaytseva, parece desconhecer a saturação da fórmula, e ao mesmo tempo caprichar em um exemplar desestimulante. Seus próprios atores parecem mal guiados, como se protótipo e execução das cenas, por natureza, possuísse um mal encaixe. Não é apenas a narrativa que é avulsa, mas a concepção visual do filme também. Ainda que possa haver a crença de que tudo no cinema é referência, ou que já foi feito, certamente aqui se confirma que iniciar uma produção com o maior dos entusiamos está longe de configurar uma ideia boa – ou pior: uma execução, nesse caso, pífia e desinteressante.
Filme: YA idu igrat (O Jogo da Morte) |
Acabei de ver o filme russo e gostei muito, cidadão!! Sim, sou fã de terror de qualquer país do mundo (caso você esteja me perguntando, Leonardo). Além disso, eu sei desde longa data que os filmes russos, sobretudo, de terror (qualquer que seja o subgênero) tem a péssima fama de ser ruins (infelizmente) para quase todos os críticos ao redor do mundo todo, principalmente, aqueles que são para mim uns, digamos “baba no ovo” dos filmes de Hollywood (que possuem cada coisa ruim também). Mas, que a verdade seja dita: vocês críticos também são muito cruéis e creio que um dia desses algum filme da Rússia poderá mudar a opinião de todos vocês, parcialmente!! Enfim, eu gostei muito do filme e, ao mesmo tempo, respeito a sua opinião, Leonardo!! Abraços e viva bem!!
Olá, Carlos! Obrigado pelo respeito que apresentou com minha pessoa. Na verdade, o que fica implícito no que escrevi é que eu sou um verdadeiro entusiasta de filmes de terror nessa pegada com investimentos baixos e, sobretudo, dos found-footage. Há diversos filmes marginalizados nessa classe que foram massacrados pela crítica e que considero espetaculares, como Fenômenos Paranormais (2011), As Fitas de Poughkeepsie (2008), The Bay (2012), entre outros, e fica também como recomendação esses que citei. O grande problema que sinto com “Jogo da Morte” não vai de absolutamente nenhum fator externo ao que é abordado na crítica: me parece um filme com ideias recicladas e um encaminhamento desinteressante. Não curti mesmo. E muito obrigado pelo feedback.