MEU NOME É JOHNNY

MEU NOME É JOHNNY

Não, eu não errei o título do filme brasileiro de 2018, protagonizado maravilhosamente por Selton Melo, tampouco este texto é sobre este filme.

Ontem, domingo, dia 16 de janeiro de 2022, perdi um “filho”. O seu nome era Johnny – não em referência ao filme citado, mas sim ao ator Johnny Depp, fazendo uma relação distante e sem muito a ver com um de seus personagens, o Jack Sparrow – e ele era meu cachorro, meu primeiro cachorro propriamente dito.

Johnny e eu nos conhecemos em 02 de setembro de 2017 em uma ONG de proteção aos animais. Ele, seus irmãos recém-nascidos e sua mãe foram resgatados por esta ONG. Todos os 8 filhotes foram colocados para adoção e, vendo as fotos daqueles pequenos cãezinhos, logo entramos na fila para adotar um. Havia um que era um charme só, possuía uma marca preta, em forma de bola, nos dois olhos, parecia um pequeno panda. Tínhamos nos apaixonado por esse. Mas um casal em nossa frente tinha a preferência. Fomos até esta ONG/Associação no dia 02 de setembro de 2016 com uma indicação por parte da veterinária para pegarmos uma fêmea, mas chegando lá não houve outra escolha que não fosse ele, meu pequeno Johnny. Na verdade foi ele quem me escolheu. Quando me abaixei para brincar com os filhotes, ele, como sempre foi, tratou logo de afastar todos os irmãos e pulou em meu colo. Estava ali o início de um grande laço de amor e de amizade.

Johnny é o que chamamos de SRD – um cachorro Sem Raça Definida -, no entanto, ninguém acreditava que aquele cão lindo pudesse ser um “vira-lata”. Ele era enorme em comparação com esses cachorros, comumente, encontrados andando nas ruas. Ele tinha um pêlo bonito, branco com manchas circulares pretas. Há quem dissesse que ele era um dálmata e outros, impressionados com seu tamanho, tinham a certeza que seu pai seria um Dog Alemão. Na verdade isso nunca nos importou. Johnny foi, independente da sua raça, o meu melhor amigo desde 2017 até ontem.

A primeira noite dele conosco (Rudíny e eu) foi bem difícil. Afinal estava sozinho e em um local totalmente estranho. Tentei colocar até musicas para acalmá-lo, mas não teve jeito, tive que passar a madrugada toda perto dele e só assim ele conseguiu ficar tranquilo.

Uma coisa que logo percebemos quando nos mudamos da casa de meu sogro para a nossa casa, é que agora morávamos de frente para uma rua agitada e o barulho dos carros passando o assustava. Ele cresceu, este barulho não o incomodava mais, entretanto dias com fogos e trovões eram, ainda, assustadores para ele. Quando ainda pequeno, colocávamos ele dentro de casa e ficávamos com ele. Ele cresceu, sua irmã (Rottweiler) também, e aí acabou que em muitas dessas ocasiões que o amedrontava, a simples companhia de Dama (a Rottweiler) o acalmava. Mesmo assim, tinha dias que só mesmo colocando os dois para dentro de casa para termos “paz”. Digo paz, pois nesses dias ele batia nas janelas, latia alto – muitas vezes no meio da madrugada – e raspava a nossa porta de entrada (A pintura azul dela tem uma obra de arte feita pelo Johnny). Isso sem contar quando ia para baixo do carro, e ali, mais calmo, começava a ver fios e tubos que, para ele, eram brinquedos. Tivemos muito o que consertar no carro por conta das suas peripécias.

Quando nasceu Luize, minha filha, algumas coisas mudaram. Principalmente a redução de nossa resistência aos latidos dele e o fato de que entrar em casa, agora com uma bebê, era perigoso. Não por acharmos que ele poderia atacar a Luize, isso nunca, mas por ele não saber o seu próprio tamanho, o seu próprio peso. Todos que chegavam aqui em casa, quando eu não o segurava, eram recebidos com pulos e muita lambeção. Muitos quase caiam devido ao peso e à ação espalhafatosa de Johnny.

Johnny era um cachorro muito ansioso. Era assim quando passeávamos, era assim quando meu sogro chegava, era assim todos os dias em que acordava e não nos encontrava na cozinha. Nesses dias ele batia de janela em janela, latia e, assim, conseguia o que queria: todos acordados.

Aqui no pátio de casa, onde eu ia, lá estava ele. Sempre me olhando, esperando algum movimento meu que o fizesse pensar que era hora de brincar. E sempre brincávamos. De pé, suas patas alcançavam meu ombro e eu tenho 1,85m de altura. Quase sempre eu ficava todo arranhando depois de nossas brincadeiras. Mas eu faria qualquer coisa para mais dias assim.

E esse é o ponto que quero chegar. Com nossas vidas corridas, com nossa filha, acabamos usando disso como uma desculpa para repetir várias vezes que não tínhamos tempo. E, com isso, a frequência que eu brincava com o Johnny já não era a mesma. O número de vezes que saíamos para passear também diminuiu bastante. Na última semana estávamos pensando, muito por conta de todo estresse sofrido por ele na virada de ano – que acaba ano e chega ano, os fogos insistem em ter barulho e o pior é que tem gente que defende isso –, em levá-lo aos parques que são permitidos cães e, até mesmo, a cada 15 dias, dar um Day Care para que estivesse na presença de outros cães e, assim, pudesse liberar toda a sua energia. Mas na madrugada de sábado para domingo, com uma parada cardiorrespiratória, Johnny se foi.

Infelizmente demorei e me sinto culpado por isso. Tenho a sensação de que não fiz o suficiente para deixá-lo mais feliz. Espero que esse seja um sentimento inerente ao luto, mas dói ao ficarmos sem ouvi-lo latir quando acordamos ou quando o carro de lixo passa ou quando chegamos de carro em casa. Dói ver a Dama sofrendo sem saber – talvez até saiba – o que aconteceu e ficar à procura do Johnny em volta da casa. Eles, desde a primeira noite juntos, nunca dormiram só, sempre tiveram a companhia um do outro. Nossa filha Luize não sente ainda, tem 1 ano e 7 meses. Adorava o Johnny, era o preferido dela, mas provavelmente lá na frente nem se lembrará mais. Rudíny e eu estamos juntando nossos cacos. Certamente muito da nossa alegria vinha dele e precisaremos ressignificar essa perda. Transformar essa dor em boas lembranças, em algo que nos motive com quem ainda está aqui.

Tempo. Johnny tinha só 4 anos e viveu sempre com a gente. Ainda não acredito em como o encontrei na manhã desse último domingo. E vai demorar algum tempo para que a ficha caia. Se eu tenho um conselho, por mais clichê que pareça, aproveite todo o tempo que tem para fazer as coisas. Priorize mais a ação do que os planejamentos.

São tantos filmes – como um site de cinema me vejo obrigado a fazer a relação – que abordam sobre o bom uso do tempo, sobre os arrependimentos por não ter feito mais enquanto tinha tempo, sobre as dores que sentimos com a perda desses nossos amigos de 4 patas – para este último cito dois: Marley & Eu e Quatro Vidas de Um Cachorro –, mas precisei sentir na pele para ver como a vida é um sopro.

Eu, provavelmente, não fui o melhor pai – sim, eu me considero um pai de pet – que eu poderia ser, mas Johnny foi um filho, um amigo e um companheiro muito melhor do que eu merecia.

A saudade dói e não passa.

Te amo Johnny.

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One thought on “MEU NOME É JOHNNY

  1. Aaah, sempre nos cobramos, se eu…se eu…se eu…mas sabemos q temos o nosso tempo, n agimos com tanta racionalidade para darmos conta de tdo, n somos máquinas, cansamos, priorizamos o q fazemos e nessa hora inversa acontece isso, n se culpe, apenas se dê ao direito de sentir a perda, sentir saudade, vc foi um ótimo pai de pet sim, pq ele sentiu seu amor e cuidado, a Dama está aí curtindo esse paizão, como você disse ressignifique, redestribua suas prioridades sempre q puder. Fica bem. ❤

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