“Werdum, Acima da Dor” tem um roteiro bastante simples. Compreendemos rapidamente quem é o “vilão”, o herói e seus aliados, qual é seu objetivo principal e o caminho para conquistá-lo; tudo enquadrado na moldura do drama (com pitadas muito bem-vindas de humor). Os fãs de MMA farão, claro, uma leitura do documentário diferente da minha, mas não é um filme somente para eles, tem algo mais, um sabor especial que somente será devidamente apreciado quando ele terminar.
Treino duro, determinação, superação da dor, foco, idade “avançada”, limites do corpo, amizade e união. Numa leitura generosa pode-se ver tudo isso no filme, que é promocional, exaltando sem pudor a figura do Werdum, deixando de problematizar suas escolhas, não aprofundando suas contradições e seus limites. Ele é visto como bom pai, marido atencioso e dedicado, tremendo lutador, um sujeito com garra que sabe bem o que quer. Numa palavra: inspirador. E talvez seja por isso tudo que o final surpreende, pelo menos para mim.
Há um trabalho interessante com o tempo, com o ritmo, mais acelerado no início da jornada: Werdum atuando em várias frentes, um conjunto relativamente complexo de ações envolvendo diversos profissionais que vão restabelecer as condições necessárias para seu corpo e sua cabeça estarem prontos para luta. Mais dilatado próximo do confronto com seu adversário, com um ritmo um pouco mais lento, segurando por mais tempo na tela a situação pré-luta, o que cria um aumento gradativo de tensão e expectativa com a manipulação intencional do ritmo.
Chegamos, então, ao momento que antecede a luta, minutos antes dela começar. Quanto à isso não posso continuar sem dar spoiler! Portanto, leitor amigo, fique à vontade para abandonar o restinho de texto que falta ler. Werdum e a equipe de profissionais que o acompanhou até ali estão reunidos no vestiário. Há uma tensão natural no ar. Tudo o que tinha que ser feito foi feito. Não há mais nada que se possa fazer. Agora é lutar. Werdum sente o pé quebrado, parece estar doendo bastante. Perguntamos se ele será capaz de vencer com o pé assim. É certo que vai! Ele é um gigante. Não haveria filme se não houvesse este desfecho: a vitória. O momento mais esperado, principalmente para o fã de MMA, está chegando. É hora da luta! Então, como num golpe, há um corte, um salto violento no tempo, elidindo todo o confronto com o adversário. Vemos Werdum de volta ao vestiário, agora com o rosto destroçado, perguntando-se se deve ou não continuar. Ele, então, sem tempo para pensar, volta para o octógono e… perde a luta!
Confesso que saí um tanto aturdido da projeção, pensando no documentário como uma grande lição sobre o fracasso, mas também sobre a resiliência. Depois de um trauma, não há como seguir adiante e retomar o rumo normal das coisas sem essa força interna. A expectativa não era grande, confesso outra vez. E talvez por isso “Werdum, Acima da Dor” tenha sido uma grata surpresa, revelando-se um bom filme.
Revisão de texto: Vanina Cruz
 |
Filme: Werdum, Acima da Dor |
Sobre o Autor
