EXORCISMO SAGRADO

EXORCISMO SAGRADO

O cinema de horror/terror, não é de hoje, tem conseguido chamar a atenção não só da indústria cinematográfica, e isso é medido pelos orçamentos cada vez maiores para esse tipo de filme, como tem caído, também, no gosto do público cinéfilo. Filmes como “A Bruxa” (2015), “Corra!” (2017) e “Hereditário” (2018) fizeram grande sucesso ao propor novas ideias, não necessariamente sobre as suas histórias, mas sim em como contar essas histórias. Os diretores desses três filmes, Robert Eggers, Jordan Peele e Ari Aster, respectivamente, apresentam uma jovialidade no olhar da câmera, usam do terror para discursos conscientes sobre os problemas reais e nos entregam muito mais do que sustos a cada 5 minutos. Esses fatores são a chave do sucesso desses filmes.

Exorcismo Sagrado, novo filme de terror que chegou aos cinemas no dia 10 de fevereiro de 2022, vem com a chancela da crítica de ser um filme que subverte tudo o que imaginamos a respeito do subgênero de filmes de exorcismos. Esse subgênero do terror é formado por filmes como o clássico “O Exorcista” de 1973, “O Exorcismo de Emily Rose” (2005), “Constantine” (2005) e a franquia de terror da atualidade, “A Invocação do Mal”.

Este novo longa do diretor Alejandro Hidalgo vai atrás de referências de outros filmes do gênero como a cena mais batida de “O Exorcista” que também é a capa do mesmo filme, na qual há a silhueta de um padre na rua entre postes iluminados, além disso insiste no uso de mulheres possuídas e continua tendo o México como pano de fundo para a sua história. A maquiagem se assemelha aos recentes filmes A Freira (2018) e A Maldição da Chorona (2019) e os efeitos não trazem nada de especial, na verdade até deixam a desejar como na cena em que um Jesus possuído anda pelas paredes. Então o que vemos, na verdade, é mais do mesmo durante boa parte do filme. Não posso deixar de pontuar, também, como acho incrível essa crença da infinidade de demônios provenientes do México. Ao que parece o país tem, para a indústria cinematográfica,uma imagem de um grande exportador do mal.

Peter Williams (Will Beinbrink) é um padre estadunidense que trabalha em uma cidade do México e ao se deparar com uma mulher possuída, mesmo sem ter tido todo o treinamento, não hesita em ajuda-la expulsando o demônio do seu corpo. Em filmes como esse não há espaço para interpretações equivocadas de bem e mal. Aqui fica muito claro quem está de cada lado, sem relativizações e omissões de personalidades. Nesse ponto o filme faz uma crítica interessante e que até então é uma novidade para o gênero. A religião não é mais algo intocável e acima de qualquer suspeita. Homens são falhos, e mesmo os padres são suscetíveis a todo e qualquer tipo de comportamento vil.

A ideia de um bem maior em detrimento da ética e moral é reforçada sempre, Hidalgo faz questão de mostrar isso em diversas passagens do filme, e não só com um personagem, mas com três, todos padres. É nessa desconstrução da igreja e da religião, principalmente, da imagem do homem santo, que o filme se torna inovador e interessante. Contudo Hidalgo escolhe apenas pontuar isto e não as desenvolvem. Claro que existe uma lacuna, deixada ao final, para uma possível continuação, mas essa é uma aposta muito alta e que será difícil de ser concretizada.

É inegável que o roteiro propõe certas discussões inovadoras, mas elas tem menos peso do que os elementos já tão batidos desse tipo de filme e, o pior, há aqui um flerte com um tipo de terror, que é aquele que usa de artifícios que não são do gênero para servir de isca para o grande público. A primeira mulher possuída neste filme está coberta de uma roupa que mal cabe nela, sendo assim seu corpo fica praticamente a mostra e seus seios são insinuados a todo momento pela câmera, além da insinuação da própria personagem para o padre. Esse desenho que se faz das mulheres, como pecadoras, um corpo aberto para a maldade, além de serem sempre hipersexualizadas, demonstra que Hidalgo não está sendo tão revolucionário assim. Na verdade existe uma parte do filme, o eixo principal, que é o movimento de segurança do diretor e, em cima disso,ele dá algumas pitadas de uma ideia não tão comum, mas que se demonstra de forma bem superficial.

O padre Peter, 18 anos após seu primeiro exorcismo e consequentemente seu “primeiro” pecado, é retratado como um personagem inserido na comunidade, não só como um padre, mas como um trabalhador comum a todos aqueles daquela cidade. Um dos momentos mais constrangedores desta obra é a tentativa, única, de deixar o ar leve e fazer do padre um sujeito engraçadinho, um contador de piadas. Esta cena não só não funciona como é totalmente descartável para o filme, até porque seu propósito, se é que existe um, termina ali. O filme simplesmente esquece desse movimento que fez para abraçar de vez o ambiente em torno de uma malignidade que se instaura naquela comunidade e assola, principalmente, as crianças, tirando-as a vida sem qualquer vestígio de alguma doença.

A direção tão preocupada em deixar tudo explicado não se cansa de usar os flashbacks para que saibamos toda a história envolvendo o Padre Peter, a Irmã Magali (Irán Castillo) e Esperanza (María Gabriela de Faria). Essas idas e vindas se tornam bem cansativas por repetirem à exaustão algo que já fica subtendido nas primeiras voltas ao passado. Exorcismo Sagrado promete muito mas entrega quase nada. Nem o terror chega a assustar.


Filme: The Exorcism of God (Exorcismo Sagrado)
Elenco: Will Beinbrink, Irán Castillo, Joseph Marcell, María Gabriela de Faría, Hector Kotsifakis, Juan Ignacio Aranda, Raquel Rojas, Eloisa Maturen, Alfredo Herrera, Nuria Gil, Jesse Celedon, Maria Antonieta Hidalgo, Patricia Pacheco, Evelia Di Gennaro.
Direção: Alejandro Hidalgo
Roteiro: Santiago Fernández Calvete, Alejandro Hidalgo
Produção: México, Venezuela, Estados Unidos
Ano: 2021
Gênero: Terror
Sinopse: Ao ser possuído durante um ritual de exorcismo, o padre Peter Williams (Will Beinbrink) acabou cometendo um terrível sacrilégio. Dezoito anos depois, as consequências de seu pecado voltam para assombrá-lo e acabam desencadeando uma batalha ainda maior entre o bem e o mal.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Imagem Filmes
Streaming: Não disponível
Nota: 5,0

*EM EXIBIÇÃO NOS CINEMAS*

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