CRÍTICA – MOTEL DESTINO

CRÍTICA – MOTEL DESTINO

Os gritos de horror dão lugar aos gemidos de prazer pelos corredores do “Motel Destino” neste Thriller erótico de Karim Aïnouz. Mais do que reconhecido pelos amantes do cinema e premiado por trabalhos anteriores, como “A Vida invisível” (2019) e “Abismo Prateado” (2011), o diretor cearense chamou novamente a atenção do Festival de Cannes, chegando a concorrer ao prêmio principal, com uma experiência cinematográfica instigante e um elenco de atores que combina estreantes e veteranos.

O filme narra a história de Heraldo (Iago Xavier), um jovem cearense determinado a deixar para trás sua vida no crime, tentando seguir um caminho honesto. No entanto, antes de conseguir essa tal sonhada mudança, ele precisa quitar uma dívida com a chefe do tráfico da região. O que começa como um esforço para se redimir rapidamente se transforma em uma série de eventos que fugirão ao seu controle, levando-o a enfrentar consequências cada vez mais graves e inesperadas.

Heraldo e seu irmão Jorge protagonizam a primeira cena, jogando capoeira em um cenário paradisíaco. A tranquilidade e a harmonia do momento são dominantes, mas a modulação sutil da trilha sonora começa a anunciar uma mudança iminente. Essa transformação sonora insinua um presságio sombrio, preparando o espectador para os caminhos trágicos que estão por vir, antes mesmo que qualquer ação se desdobre na tela.

Após uma ação malsucedida da dupla, Jorge perde a vida, deixando Heraldo consumido pela culpa da morte do irmão. Agora, além de carregar o peso do luto, Heraldo precisa lidar com a perseguição dos seus inimigos, que lhe querem morto. Em busca de refúgio, ele se esconde no “Motel Destino”, local que também dá nome ao filme. Confinado no motel, Heraldo é atormentado pelo passado recente, e, ao mesmo tempo, alimenta a esperança de um dia poder viver uma vida melhor.

Enquanto seus fantasmas o assombram, Heraldo começa a planejar uma fuga desesperada, em busca de redenção e liberdade. Ironicamente, ao tentar sobreviver, ele flerta cada vez mais com o perigo e até mesmo com a morte. No “Motel Destino”, o protagonista passa a trabalhar como “faz-tudo” para Elias (Fábio Assunção), o proprietário que permite que o jovem more no estabelecimento, mas que esconde algo sombrio. Aos poucos, Heraldo se envolve em tarefas cada vez mais perigosas, percebendo que sua tentativa de escapar pode estar levando-o ainda mais fundo no abismo.

Sentimos isso nas interações entre Heraldo e Elias, repletas de insinuações e comportamentos suspeitos do dono do local. A  interpretação de Fábio Assunção, que está ótimo em seu papel, se destaca como a principal força motriz desde sua primeira aparição. Dessa forma, a sua presença contribui para o sucesso da experiência como um todo. É também difícil ignorar o impacto das controvérsias envolvendo o ator na construção dos traços mais ambíguos do personagem (o envolvimento com drogas e a violência), que dão complexidade ao papel. Uma questão de percepção pública sobre o ator, que jamais deveria se confundir com o seu trabalho, acaba resultando em uma força antagonista verdadeiramente densa.

O filme segue uma estrutura de presságios recorrentes, onde pistas e indícios são apresentados. Essa construção eleva a tensão em diversos momentos e mantém o espectador em estado de alerta. O emprego dessas técnicas, além de intensificar o suspense, destaca as habilidades do diretor em manipular códigos e sinais, contribuindo para o enriquecimento da narrativa e construindo um efeito geral sobre o filme. Aqueles que assistirem serão agraciados com uma experiência cinematográfica, no mínimo, memorável.


Filme: Motel Destino
Elenco: Iago Xavier, Nataly Rocha, Fábio Assunção, Yuri Yamamoto, Fabíola Líper, Renan Capivara, Jupyra Carvalho
Direção: Karim Aïnouz
Roteiro: Wislan Esmeraldo, Mauricio Zacharias, Karim Aïnouz
Produção: Brasil, França, Alemanha
Ano: 2024
Gênero: Thriller, Drama, Crime, Erótico
Sinopse: O Motel Destino se torna o refúgio de Heraldo, um jovem que busca escapar das consequências de seu envolvimento com o tráfico de drogas. A chegada de Heraldo transforma a dinâmica do lugar, trazendo tensão e confrontos inesperados.
Classificação: 18 anos
Distribuidor: Pandora Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 7,0

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