CRÍTICA – ALIEN: ROMULUS

CRÍTICA – ALIEN: ROMULUS

É leitor acontece de vez em nunca do crítico aqui comentar lançamentos! Aproveitem esses momentos raros que esse fenômeno se manifesta e, tristemente, quase todas as situações são frustrantes e de quebrar a expectativa já quase inexistente ser arremessada por inteiro para o fundo do poço! Alien: Romulus

Quase nunca me empolgo em escrever sobre lançamentos, porém, foi tanta propaganda de diferentes meios midiáticos acompanhados opinando que silenciosamente senti a implantação de um respingo de esperança no fundo do coração em relação a franquia Alien. Seria possível depois de tantos desacertos e desastres uma luz no fim do túnel? Já digo: a luz é fraca e se apaga com velocidade e intensidade na segunda metade do longa-metragem.

Não é de hoje que essa franquia possuí títulos no mínimo (para não fizer muito) errando e nada supera aquele que prometeu tanto e no fim não entregou absolutamente nada (desculpem a piada! É um título que não se pode perder nunca essa oportunidade!). O interessante é que mesmo com essa aura de roteiro amaldiçoada consegue nos levar as telonas para conferir se a tendência decepcionante seria quebrada. Quebrou a cara do próprio público que tenha o mínimo de bom senso, não é mesmo?

Mas, vamos lá, chega de pré-texto. Alien: Romulus, um novo título em que será encontrado uma das figuras mais icônicas da ficção científica e dos monstros que compõem o imaginário da cultura pop recente. Elenco cheio de atores da nova geração, com um marketing gigantesco nos efeitos práticos, revivendo aquela esperança carcomida pela poeira e ferrugem de dias gloriosos iniciais da franquia. Aquela luz (citada previamente) se implanta em nossos olhos quando nos deparamos com uma construção de cenário de encher a imaginação, pois, não estamos em uma nave clichê (apesar da cena de abertura já indicar tal situação), mas sim em um planeta colônia da famosa corporação Weyland Yutani, uma colônia de mineração. A elaboração do cenário, que nos diz muito mais pelos visuais do que por diálogos expositivos exaustivos demonstra inteligência para uma formulação da proposta narrativa e da estruturação verossimilhante desse mundo, ainda mais quando envolve personagens novos que desconhecemos em uma franquia com vários atores marcantes em seus papéis (mesmo nos longas com os roteiros mais pífios).

Rain (Cailee Spaeny) nossa protagonista e Andy (David Jonsson) seu companheiro androide estão praticamente em um trabalho escravo que precisam contribuir tantas horas para finalmente se verem livres para retornar ao planeta de origem de Rain. Formula-se aquela ideia de liberdade idealizada, do mundo em que o Sol pode ser testemunhado. Essa cena de abertura e seu desenrolar no planeta colônia em questão possuem uma qualidade muito única e original, apresentando uma perspectiva antes não testemunhada no universo, expandindo para possibilidades que geram certa imersão narrativa e aquela perspectiva de imaginar para longe da previsibilidade. Lógico que em nenhum momento desaparece do horizonte de buscar entender quais serão os argumentos e justificativas do roteiro para que tal grupo de pessoas tão mundanas (longe do estereótipo de cientistas buscando recolher resquícios do xenomorfo ou interesses corporativos predatórios que pouco se importa com os indivíduos) viriam a encontrar a tal “espécie perfeita” que tanto atormentou Ripley no primeiro longa Alien o 8° Passageiro (1979).

O elenco de personagens é pequeno, pois, para além dos dois já citados, temos Tyler (Archie Renaux), Kay (Isabela Merced), Bjorn (Spike Fearn), Navarro (Aileen Wu) que será a frota espacial vítima das várias maneiras criativas dos xenomorfos matarem. As personagens são todas vítimas dessa exploração de mão-de-obra humana quase escravagista na colônia espacial, logo, na primeira oportunidade de fuga e retorno para o planeta idealizado comentado pela protagonista (que em seus sonhos é um paraíso campestre equivalente aos dias antigos do planeta Terra) agarram-na para escaparem das garras exploratórias da Weyland Yutani.

A viagem até o planeta em questão levaria aproximadamente nove anos, assim a única possibilidade através da criogenia, no entanto, é uma tecnologia cara e somente para naves mais desenvolvidas. A trupe localiza próximo ao planeta colônia uma estação espacial abandonada que possui essas câmeras criogênicas que permitiria sua escapatória da condição atual e possível encontro da liberdade no planeta idealizado. Eis a primeira quebra: toda a construção anterior e ambientação riquíssima que diz tanto ao seu público pela direção de fotografia precisa é jogada por água abaixo. Novamente uma nave espacial. Uma tripulação que se tornará vítima da criatura. Uma corporação objetivista que ignora o risco humano. Cientistas malucos que ousaram pesquisar perigos de alto risco. Uma estação abandonada que contém exemplares do xenomorfo que não irá ficar tanto tempo desativado. Emboscadas pela nave e a construção da tensão até o fim do filme, em que com muita sorte haverá dois sobreviventes para contar a história.

E essa é a parte mais decepcionante e frustrante. Claro que os efeitos especiais práticos surpreendem, levantando aquele sabor nostálgico dos dias antigos em que isso era via de regra não exceção. Claro que existem cenas nojentas, um gore muito bem executado e muita criatividade. Claro que o suspense está presente, com cenas em que me vi contraindo os dedos pela tensão no ar. Claro que as ambientações da nave somadas com a sensual estética retro futurista do universo de Alien promovem um prazer nostálgico e único. Mas é claro que lidar novamente com todos os clichês que a franquia já trabalhou (desde a época e essencialmente no primeiro longa que estreou a franquia) não impressiona em nenhuma característica, pois, retorna com o conflito em que um androide recebe novas diretrizes possuindo objetivos corporativistas predatórios e seres humanos sendo executados das mais criativas maneiras. Quando todos esses aspectos clichês e já muito “manjados” das narrativas que permeiam a franquia são posicionados em contraste com o frescor do início da história, esses aspectos clichês se tornam empecilhos tediosos de uma refeição que foi repetida tantas vezes e a cada nova experiência pior fica.

Existe ainda uma breve e rápida cena que busca contextualizar melhor a estação espacial abandonada em que as personagens procuram as câmaras criogênicas. É uma estação espacial gêmea nomeada como Romulus e Remo, fazendo uma menção ao mito fundador de Roma, os dois irmãos órfãos criados pela loba. Um centro de pesquisa responsável por buscar meios tecnológicos para avançar a qualidade de vida da espécie humana. Essa exposição vem acompanhada de pinturas históricas que geram muito mais um ar de prepotência e uma formação simbólica que não possuem relevância alguma para a narrativa. Não faria diferença em nenhum momento do longa-metragem se a estação espacial fosse somente nomeada como “estação espacial abandonada”, pois no fim é somente isto. O cenário periculoso que possui as condições narrativas para a perseguição do elenco pela criatura monstruosa.

Quando busca um foco no arco narrativo das personagens para além da dupla de protagonistas Rain e Andy tudo fica incrivelmente pior. Suas características pessoais são ridículas a tal ponto que não se constroem personagens com personalidades que conseguimos gerar o mínimo de empatia (pois, a partir do momento em que seus pés tocam na estação o roteiro entra em uma maratona tão veloz de sequências que sobra nenhum tempo de tela para o desenvolvimento do elenco humano), pois, só me recordo da personagem Bjorn por conta da mesma odiar androides por problemas relacionados com esses seres humanos artificiais que tomaram decisões no passado que fizeram sua mãe vir a falecer. Interessante, explorar essa problemática da relação dos seres humanos e as máquinas. Esquece, plano de fundo que vem tão rápido quanto é eliminado para pano de fundo de tensão pós filme, afinal o famoso planeta paraíso idealizado não recepciona seres artificiais. Os outros personagens além de Bjorn são… É. A piloto. A mulher grávida. O irmão com bom senso. É isso. Nada além desses títulos superficiais que cabem extremamente bem para denotar a superficialidade em que as personagens são desenvolvidas.

De todas as atuações, há pelo menos uma que merece ser mencionada em questão de qualidade: Andy (David Jonsson). Na sua primeira aparição já é possível identificar todos os trejeitos de um androide não tão avançado, porém, apesar de máquina, gerar empatia no público e preocupação com essa figura artificial que em outros filmes sempre tem tendências vilanescas. Apesar de um dado momento se tornar um antagonista frio e calculista (como todos os outros androides da franquia) orientado por um modelo antigo de androide – Ash que através de efeitos especiais se manteve o rosto do excelentíssimo e falecido ator Ian Holm que interpreta o androide no primeiro longa-metragem da franquia – ainda há um conflito (que fica também superficial) das reais intenções e sentimentos dessas máquinas artificiais.

Seguir a fórmula dos antigos filmes não é de todo um problema, pois, quando comparado aos roteiros que buscaram uma tentativa de inovação e saíram pela culatra, Alien: Romulus consegue fazer uma manutenção muito bem equilibrada de sua tensão e quando somado aos efeitos especiais práticos há uma genuína imersão no desespero do elenco que é caçado pelo xenomorfo. Outro mérito de elogio é a escalonada de tensão que em momento algum tem sua diminuição e nesse ponto o roteiro não se envergonha: do primeiro segundo ao seu momento de conclusão haverá novos momentos que escalonam o desafio para o elenco e a criatividade envolvendo as peripécias das criaturas em capturar as personagens. A problemática vem dos famosos conflitos clichês já tão explorados anteriormente que em nenhum momento se tornam novos. Talvez essa sensação de familiaridade e (sabendo que sempre o protagonista sobrevive na franquia) a exaustão dos problemas apresentados para serem solucionados pelas personagens com todo o aparato de mais uma vez cientistas estarem manipulando o DNA do xenomorfo por conta de interesses corporativistas, se mostrou outra vez cansativo.

É um respiro cansado. Exaurido. Copioso. Clichê. Mas, consideravelmente melhor do que as últimas tentativas. Talvez seja a experiência de um indivíduo que gosta demasiadamente da franquia (principalmente dos dois primeiros longas) sofrendo continuamente que mesmo quando algo retorna as fórmulas originais, não se sente alocado corretamente com a proposta narrativa. Talvez, pela imersão promovida no início do longa-metragem, esteja mais interessado nas relações humanas sociais-econômicas da exploração espacial do que em novas experimentações científicas envolvendo o Alien. Falta um gás que real faça a roda girar para um novo horizonte. Alien: Romulus é isso. Um clássico feijão com arroz que comparado as refeições anteriores não inovou tanto e nem teve tanta praticidade na sua execução…


Filme: Alien: Romulus
Elenco: Cailee Spaeny, David Jonsson, Archie Renaux, Isabela Merced, Spike Fearn, Aileen Wu, 
Direção
: Fede Alvarez
Roteiro: Fede Alvarez, Rodo Sayagues, Dan O’Bannon, Ronald Shusett
Produção: Estados Unidos
Ano: 2024
Gênero: Terror, Suspense.
Sinopse: Um grupo de jovens colonizadores espaciais se aventuram nas profundezas de uma estação espacial abandonada. Lá, eles descobrem uma forma de vida aterrorizante, forçando-os a lutar por sua sobrevivência.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Walt Disney Studios
Streaming: Indisponível
Nota: 6,5

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