Com a chegada do Halloween, surge a oportunidade perfeita para explorar o universo do cinema de terror, repleto de histórias que provocam medo e instigam a imaginação. A tradição de assistir a filmes assustadores nessa época do ano é uma maneira de entrar no clima do feriado cada vez mais popular no Brasil. Neste ano, o Club do Filme se propõe a guiar os espectadores por uma seleção de obras que vão além do mero entretenimento, apresentando narrativas que exploram o sobrenatural, o desconhecido e o inquietante. Lista Halloween Club do Filme
Na lista de 2024, nossos colunistas trazem suas recomendações, reunindo títulos que vão desde clássicos do terror até obras menos conhecidas. Cada filme na lista foi meticulosamente escolhido com o intuito de ser uma recomendação intensa para sua noite de 31 de outubro (e não nos responsabilizamos pelas consequências na hora de dormir!).
Abaixo estão listados os 6 filmes recomendados:
Madre Joana dos Anjos (Matka Joanna od Aniołów, Polônia, 1961) – dir: Jerzy Kawalerowicz
Bruno Barros
Em uma época de recursos visuais limitados, Madre Joana dos Anjos (1961) apoia-se nas habilidades físicas de seus atores para construir uma atmosfera de terror autêntica. O filme nos envolve tão profundamente que somos convencidos da presença de uma força maligna naquele local, transmitindo a sensação de que os personagens estão, de fato, possuídos. A atuação intensa e corporal dos atores torna essa possessão quase palpável contribuindo para uma experiência angustiante e visceral.
Isolados no mapa, os personagens enfrentam uma prisão tanto física quanto mental, onde a fé surge como único refúgio contra o medo. Esse isolamento, somado à tensão religiosa e aos conflitos internos, cria uma atmosfera inquietante que desperta arrepios no espectador e intensifica o peso da história a cada cena.
Doutor Sono (Doctor Sleep, EUA, 2019) – dir: Mike Flanagan
Wandryu Figuerêdo
Mike Flanagan se move entre duas grandes forças de referência: Stanley Kubrick e Stephen King. Em Doutor Sono, ele consegue unir esses dois nomes e, ao mesmo tempo, desenvolver um estilo próprio de narrativa, especialmente perceptível na versão final de três horas do filme.
Stephen King, conhecido por exigir que adaptações sejam fiéis ao espírito de suas palavras, vê aqui um diretor que constrói a obra com paciência e um olhar imerso na noção de “morte.” O protagonista, enfermeiro, mergulha em alucinações induzidas pela convivência com o fim da vida e, entre essas visões, inicia uma jornada para salvar uma garota distante. Esse caminho exige que ele enfrente e mate, repetidamente, seus próprios medos, fraquezas e sombras egoístas.
À medida que se transforma, Flanagan nos guia por cenários que evocam o perfeccionismo de Kubrick, mas ele o faz com um olhar imperfeito, trazendo uma complexidade que permite que a narrativa vá além da “morte” e transite para o antônimo: a vida. Suas imagens ganham uma potência própria, um presente vivo que conversa com o espectador além de qualquer referência direta.
O Lamento (Gokseong, Coréia do Sul, 2016) – dir: Na Hong-jin
Juliana Figueira
O Lamento é um filme de 2016 sobre uma pequena comunidade sul-coreana que recebe um visitante “indesejado”. Paralelamente à chegada desse homem – um japonês misterioso -, assassinatos começam a assolar a região gerando um problema para a polícia local, que, além de não possuir os meios para conduzir a investigação, conta com policiais despreparados para a função.
Uma das maiores qualidades de O Lamento está em conduzir seu espectador através de uma narrativa que se desenha lentamente e com vários detalhes quase imperceptíveis. O enredo labiríntico a todo momento dá pistas e as tira de nossas mãos nos levando a não acreditar em nada do que está sendo apresentado. A atmosfera sombria e desconfortável cresce à medida em que os eventos violentos e assustadores vão se enfileirando. A narrativa que se assenta em temas “locais”, como o xamanismo asiático, se funde com as tradições cristãs que conhecemos no ocidente, o que acrescenta muito ao roteiro, tanto no terror quanto na profundidade do texto e das performances dos atores.
O Triângulo do Diabo (Satan’s Triangle, EUA, 1975) – dir: Sutton Roley
Elpidio Rocha
No início dos anos 1980, a televisão era um aparelho cada vez mais comum no cotidiano das famílias. Havia uma programação segmentada nas madrugadas da onipresente Rede Globo, que exibia diversos gêneros cinematográficos conforme o dia da semana. Não me lembro do dia exato (talvez, a quinta-feira) em que os filmes de terror ou horror marcavam presença; porém, foi na telinha que assisti O Triângulo do Diabo, telefilme com uma explicação sobrenatural para os desaparecimentos no mar das Bermudas.
É a história de dois oficiais da guarda-costeira que, num helicóptero, encontram um veleiro abandonado com alguns corpos e a sobrevivente Eva; ela vai narra a história que acompanhamos em flashbacks. Nessa narrativa, conheceremos o padre Martin, que é resgatado de um naufrágio – e sua presença, associada ao título excessivamente explicativo, já indica o que vai acontecer.
A tensão está lá e o clima derivativo do clássico O Exorcista consegue prender a atenção. É bem provável que o impacto de uma revisita hoje não me encante novamente, mas o final certamente ainda vai funcionar: e o sorriso daquele(a) personagem ficará na sua lembrança.
P.S.: O filme está disponível no Youtube, com a dublagem da época.
Noroi (Noroi: The Curse, Japão, 2005) – dir: Kōji Shiraishi
João V. Batistute
Quer uma excelente porta de entrada para o Terror Asiático? Fica a dica para seu dia de Halloween! Noroi: The Curse é um terror found footage com todos os elementos clássicos do gênero, porém com toda a aura amaldiçoada dos rituais ocultistas distantes que ocorrem nas Ilhas Nipônicas. Prepare-se para cenas aterrorizantes e ficar com os cabelos arrepiados e as costas tensionadas a cada nova revelação. Utilizando desses elementos folclóricos, existe uma aura tanto fantasmagórica quanto de dúvidas cósmicas sobre o que é verdadeiramente a problemática sobrenatural que nos envolve junto das personagens em sua trajetória trágica. Pegue as pipocas e vá de vez ter aquele dia memorável na noite mais tenebrosa do ano!
Fenômenos Paranormais (Grave Encounters, Canadá, 2011) – dir: Colin Minihan, Stuart Ortiz
Leonardo Monteiro
Quando falamos em filmes de espíritos, é comum imaginarmos assombrações clássicas, como em Invocação do Mal. Mas em Fenômenos Paranormais, as coisas são diferentes. Ao invés do tormento sobrenatural ser pontual, os espíritos dos ex-pacientes de um hospital psiquiátrico resolvem brincar de forma densa e intensa com o psicólogo de uma equipe de TV mexendo com o espaço-tempo.
O dia não amanhece mais – é noite para sempre. E os corredores agora são um labirinto infinito. Fenômenos Paranormais é um found footage muito específico, que satiriza programas de TV sobre “relatos de espíritos” ao mesmo tempo que tem uma atmosfera muito intensa com a desolação do grupo e o iminente encaminhamento para a insanidade – como tornarem-se os próprios pacientes do local.