A 15° edição do Festival Janela Internacional de Cinema do Recife trouxe consigo a reinauguração do aconchegante e nostálgico cinema São Luiz, um dos cinemas mais antigos da história do Brasil, que fica localizado às margens do rio Capibaribe, no centro do Recife. Além de lançamentos de filmes nacionais, com a presença de diretores e elenco, e em especial a pré-estreia de Ainda Estou Aqui, diversos clássicos foram reprisados, no qual, há tempos atrás, eram chamadas as “Sessões Memória”.
A vivência de três delas, em especial, foi incrível. No sábado pela manhã, uma manhã típica de verão, às 11 horas, com o céu completamente limpo, Love Streams (Amantes, 1984) de John Cassavetes abriu a programação. Batizado como o pai do cinema independente, Cassavetes migrou de diretor de elenco de teatro para ser cineasta. Incorporando uma estética crua e focando na organicidade das atuações, em especial da sua musa e esposa Gena Rowlands, o diretor trata, em Love Streams, o quão irracional o amor pode ser.
Ainda na vivência da Nova Hollywood, Love Streams foi seu último trabalho independente, antes de falecer aos 59 anos com insuficiência renal. O filme possui uma aura mágica e espontânea, com personagens rondando livres e soltos pela tela e nos fazendo questionar sua racionalidade. Os movimentos de câmera naturais dançavam belissimamente na tela do cinema São Luiz – e parecia que o filme tinha sido feito para uma projeção lá, onde dois murais floridos estabelecem a inigualável sensação de estar neste cinema do centro do Recife, fundado em 1950.
Durante a tarde, às 15 horas, com o sol um pouco mais baixo, Amadeus (1984), do diretor Miloŝ Forman, de Um Estranho no Ninho, foi exibido. A imponente cinebiografia do compositor italiano Antonio Sallieri, de 3 horas de duração, passou rápido e teve sua grandiosidade ainda mais aflorada no imaginário daqueles que acompanharam a sessão e da refinada engenharia de som da sala.
E finalmente, às 22h, numa rua da Aurora mais movimentada e viva do que nunca, fechamos a noite com Depois de Horas, de 1985, do próprio: Martin Scorsese. O recifense acostumado a passar perrengue de madrugada, sem as chaves de casa e esperando por um bacurau (ônibus que roda de madrugada), certamente se identificou com a aflita jornada de Paul Hackett, que só queria voltar pra casa após uma madrugada insana nas ruas de Nova York.
Vários paralelos e identificações foram traçadas com um público que interagia e se divertia muito naquela noite, que foi aberta com os comentários de Kleber Mendonça Filho sobre a subestimada obra de Scorsese. Um dia memorável para um local memorável. Foi um festival incrível do qual todos estão esperando ansiosamente por sua próxima edição.