E mais uma vez… Uma das produções mais icônicas da música eletrônica retorna para as telas de cinema, nos relembrando o quanto Daft Punk se trata de uma experiência sensorial e simultaneamente visual. Essa é daquelas obras que parece ter sido produzida em uma dimensão alternativa em que tivemos o prazer de acessar seus códigos através de máquinas intergalácticas que captaram os sinais desse filme! Interstella 5555
E mais uma vez uma… coprodução com um dos diretores/autores de animes e mangás mais influentes e clássicos de todo esse universo ficcional, o Sr. Leiji Matsumoto (1938-2023) – Capitão Harlock, Patrulha Estelar Yamamoto, Galaxy Express 999 – pioneiro da Space Opera, definidor de mãos dadas com Osamu Tezuka para definir a popularidade da ficção científica nos mangás e animes, possuindo um estilo único de desenho que somente por um lance de olhares você identifica suas obras.
E mais uma vez… O que seria da união das mentes criativas de Daft Punk com Leiji Matsumoto? O único resultado possível seria Interstella 5555. Uma narrativa romântica de um grupo musical alienígena sendo sequestrado por agentes galáticos interessados em lucratividade no planeta Terra roubando suas identidades e manipulando suas memórias para utilizar de sua criatividade. Uma história que é contada através dos visuais, sem falas a não ser a expressão das personagens, as sequências narrativas das imagens e a conexão com as músicas que nos tudo o que precisamos para acompanhar o longa-metragem.
É uma história de heroísmo ao mais clássico possível: o sequestro da trupe, a jornada do herói para resgatá-los, as perseguições, a dama em sua torre que ama o herói e aquele que se sacrifica para salvar sua amada, cumprindo sua missão e deixando a jornada nas mãos dos colegas para retornarem ao ponto inicial e derrotando aqueles responsáveis pelos atos maléficos. A divisão desses arcos narrativos acompanha cada faixa musical do álbum Discovery (2001) e também é repleto de referências clássicas com outras animações icônicas do Japão, como Macross etc.
É válido ressaltar que esse trabalho é o segundo de grande impacto da dupla Daft Punk, pois anteriormente já haviam lançado o clipe musical de Around the World primeira música a dominar rádios, colocando a dupla de DJ’s nos eixos populares realmente ao redor do mundo.
Impressionando com os visuais, com a sincronicidade dos dançarinos somando a própria musicalidade e toda a produção prática, encheu os olhos. Após isso, Daft Punk veio para ser um dos nomes mais influentes não só no gênero da música eletrônica, mas no cenário em geral. Sua trilha sonora também (e participação) no filme de TRON Legacy (2010) e a posterior música Get Lucky (2015) com Pharrel Williams fazendo os vocais mostram o nível de popularidade que atingiram ao longo de sua carreira.
Somente por todos esses fatores somados já valeria a pena abrir as possibilidades para testemunhar Interstella 5555, mas seus visuais estonteantes criam uma experiência sensorial de deixar qualquer entusiasta de animação boquiaberto. A divisão sincronizada com cada faixa musical, acompanhando os altos e baixos da narrativa, promovendo os mais variados sentimentos é no mínimo singular. Deixo aqui dois exemplos:
Utilizando desse segundo exemplo, comentando em específico sobre a música Something About, proponho uma viagem única nessa experiência para que se construa uma noção do todo que o filme propõe. Através de uma porta gostaria de instigar todos os leitores a ousarem também criarem sua própria sensação em relação à essa produção.
Vamos a letra então:
It might not be the right time
I might not be the right one
But there’s something about us I want to say
‘Cause there’s something between us anyway
I might not be the right one
It might not be the right time
But there’s something about us I’ve got to do
Some kind of secret I will share with you
I need you more than anything in my life
I want you more than anything in my life
I’ll miss you more than anyone in my life
I love you more than anyone in my life
Notamos o arco trágico daquele que vai resgatar não somente seus amigos, seus companheiros, mas aquela que dedica todos os sentimentos de seu coração. O herói em busca de sua amada que mesmo que rejeitado, no fundo pouco importa desde que consiga resgatar seu sorriso, sua felicidade, sua própria identidade, relembrando tudo o que gostaria de ter lhe dito enquanto estavam juntos. A beleza de um sentimento gigantesco contido em poucas frases traduzido visualmente em uma viagem onírica naquilo que foi idealizado, naquilo que foi parcialmente vivenciado e em tudo que foi perdido durante a tragédia do sequestro. Nada é comunicado verbalmente, somente aqueles que cantam, traduzindo os sentimentos visuais que os animadores delicadamente pincelaram. Ele a ama mais do que qualquer outra pessoa na sua vida. Pode ser no tempo errado e ele pode não ser a pessoa correta. Mas é preciso ser dito, afinal, existem sentimentos, existe algo entre eles já de qualquer forma. As batidas românticas acompanhadas do baixo que constrói toda a aura romântica, somadas ao solo cantado do próprio sintetizador parecem comunicar pela sonoridade toda essa poesia visual. É sincronizado com as simplicidades do expressionismo visual que realçam todo esse romance idealizado e trágico que não se concretiza, mas que é confessado e é resgatado pelo herói que cumpre sua missão mesmo tendo sua vida ceifada ao final de seu percurso narrativo. Os olhos se enchem de emoção e o coração bate mais forte com tal cenário idealizado, mesclando romance e tragédia que mesmo dentro dos mais clichês possíveis é um resultado exímio, único, experimental e belíssimo!
Se pode fazer um trabalho minucioso com cada faixa específica do álbum e dos visuais do longa-metragem como no exemplo previamente exposto. Recomendo para todos aqueles que querem experimentar algo que some visual + musical com uma narrativa coesa e muito bem animada. Pode ser sua porta de abertura para as visitar outras obras do Leiji Matsumoto ou quem sabe conhecer outros álbuns do Daft Punk. É uma recomendação para aqueles que perderam a oportunidade de testemunhar essa animação nos cinemas no fim de 2024 com visuais completamente remasterizado deixando tudo mais belo para ser contemplado pelas novas gerações (mas está inteiramente disponível no YouTube pelo perfil oficial do Daft Punk). Coloque na sua televisão, contemple sozinho ou acompanhado as minutagens, é um excelente plano de fundo também para um social em grupo que irá prender a atenção em vários momentos. Mais uma vez… Se tornou um clássico eterno no coração…
Filme: Interstella 5555 Elenco: Thomas Bangalter, Daft Punk, Romanthony Direção: Leiji Matsumoto, Kazuhisa Takenouchi, Hirotoshi Rissen, Daisuke Nishio Roteiro: Thomas Bangalter, Cédric Hervet, Guy-Manuel de Homen-Christo Produção: Japão Ano: 2003 Gênero: Ficção Científica, Musical Sinopse: Quatro talentosos músicos alienígenas são sequestrados por um produtor musical ganancioso que deseja usá-los para ganhar dinheiro. Mas Shep, um piloto espacial apaixonado pela baixista Stella, os segue até a Terra para salvá-los. Classificação: 14 Distribuidor: Toei Animation Streaming: Prime Video Nota: 10 |