AMBULÂNCIA – UM DIA DE CRIME

AMBULÂNCIA – UM DIA DE CRIME

“Ambulância” é o mais recente filme do diretor Michael Bay que estreará nesta quinta nos cinemas. Michael também participa como um dos produtores e conta com um elenco recheado com nomes como Jake Gyllenhaal, Yahya Abdul-Mateen II, Eiza González e a sútil mas pertinente Olivia Stambouliah. Michael nos entrega um filme que, embora seja de ação, é também e sobretudo de confusão. O filme consegue fazer com que mesmo o público já experiente, descubra junto com as personagens o que virá. O que, em filmes do gênero, é uma grande surpresa.   

Logo no início, a Fotografia assinada por Roberto De Angelis, traz movimentos semelhantes a truques que têm como resultado um embaraço mental que dificulta uma visão detalhista por parte do público e insere-nos no ritmo mais que frenético, tenso, que permeia o filme. Sua cadência, aliás, é formada de forma peculiar e interessante. O primeiro ato cumpre bem seu papel e o faz sem perder tempo ou ganhar espaço para as obviedades e clichês. A típica resistência pela tentação e a sedução da mesma, ocorrem de forma justa. Sim, isso nós já sabemos no que dará. No mais, se tratando de um filme de aventura policial, o roteiro e/ou a montagem já nos garantem desde o início novidades. 

Do início ao fim, tudo acontece de forma altamente imprevisível do ponto de vista das personagens e do público que, embora diante de um gênero tão explorado e desgastado, encontra em “Ambulância” uma nova forma de lidar com as ações. Isso porque o filme não trabalha apenas a ação, mas também a tensão. E é  principalmente através dela que o filme se move. Embora a tensão possa parecer inerente à ação, não é e as duas têm nítidas diferenças. 

Os truques da câmera, o tom da atuação, o ritmo acelerado, buscam a tensão e desaguam, por sua vez, nos seguidos momentos de “quase-perda-total”. O filme seguidas vezes brinca com isso e ganha nossa admiração, êxtase e suspensão. Realmente, não são poucos os momentos que acreditamos, junto com as personagens, não haver saída. Mas tem de se criar uma, não há outra solução. E isso descobrimos em conjunto. 

Claro que, para que o filme não acabe em meia hora e de forma tosca, essa tensão tem que vazar e para isso é necessário encontrar uma forma de a contornar. É aí que o roteiro de Chris Fedak baseado num thriller dinamarquês de 2005, encontra formas curiosas de fazer o filme seguir. Talvez seja esse um ponto não tão inteligente do filme. Ele desfaz a tensão e faz com que o filme  ganhe tempo na maioria dos momentos críticos, usando o clichê recurso da motivação ou impulso pessoal. Um dos apegos emocionais que servem para bombear o gás do filme, é o apego que uma das personagens tem por um cão, por exemplo.  A motivação geral, no entanto, faz um pouco mais de sentido: salvar um ou dois reféns. Algo que, embora justo e digno, ainda pode parecer pouco real diante do estrago feito. Mas no fim, é justificável. 

O final, aliás, ele sim é de surpresa e espanto paradoxais. Após o público ser guiado por esse roteiro que tensiona e “alivia” com frequência e qualidade, espera-se o mesmo no final. O que ocorre é o já citado espanto paradoxal. Sim, pois embora seja uma saída “atípica” nos filmes do gênero, não é uma saída à altura daquelas apresentadas no filme. Mesmo que o filme não apresente possibilidade de outro fim, esperamos que, assim como ao longo do filme, invente-se uma. Descobrimos logo no início que os planos mudam ou se perdem, mas logo em seguida assistimos à invenção de novas saídas ora mais ora menos fáceis e efetivas. Aliás, nunca são efetivas e é isso que buscamos no fim. 

O que se apresenta, no entanto, é uma espécie de moral da história com noções humanistas que já estão presentes no filme embora não percebamos ligeiramente. O filme consegue, com uma sutileza que faz falta ao seu final, mostrar as sutis violências e constantes episódios de desrespeito aos quais os homens submetem as mulheres através do assédio em ambientes que supostamente deveriam ser de trabalho, não de flerte (e mesmo nos “ambientes de flerte” não cabe assédio porque é um crime e não cabe em lugar algum). Há também um tema sensível e belo sutilmente presente no filme: a relação entre dois irmãos, sendo um preto e outro branco,  e um deles adotado. Em meio a tantos conflitos temos uma exaltação à ética e ao caráter no seu sentido mais humano. Um amor, por maior que seja, não vale a vida de alguém. Mesmo que esse alguém seja uma pessoa desconhecida. Ainda é possível perceber no fim uma mensagem quando cada um tem um destino. Quem foi por necessidade, quem foi por desejo, quem foi sem desejar…

“Ambulância” disfarça bem todo o seu “sentimentalismo” e só o destaca com a ajuda da trilha sonora assinada por Lorne Balfe que por vezes sobrecarrega o filme ao tentar imprimir mais emoção do que a cena pode ter em si, ao invés de destacar a  emoção já presente nela.  Nos muitos filmes nos quais isso ocorre, a sensação é de que a trilha tenta reparar uma falha do roteiro nesse sentido. E, embora o roteiro de Ambulância tenha falhas, não deixa que elas deixem de ser instigantes e façam instigante o filme. Com a ajuda de interessantes atuações, o filme garante ao público uma experiência de suspensão e algum êxtase que permanecerá por algum tempo após os créditos.


Filme: Ambulance (Ambulância – Um Dia de Crime)
Elenco: Jake Gyllenhaal, Yahya Abdul-Mateen II, Eiza González 
Direção: Michael Bay
Roteiro: Chris Fedak
Produção: Estados Unidos
Ano: 2022
Gênero: Ação, Aventura
Sinopse: Durante um dia em Los Angeles, três vidas se transformam para sempre após um assalto a banco dar errado e os dois assaltantes sequestrarem uma ambulância. 
Classificação: 14 anos
Distribuidor: Universal Pictures
Streaming: Indisponível 
Nota: 7,8

*Estreia dia 24 de março nos cinemas*

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