A FERRUGEM

A FERRUGEM

La Roya, que no Brasil recebeu o nome de A Ferrugem, é um filme colombiano, dirigido e roteirizado por Juan Sebastian Mesa, cujo o tema é comum a tantos outros filmes que tratam sobre a juventude – período intenso e marcado pelo movimento de transação entre infância e vida adulta.

O filme se passa todo em uma zona rural com uma infraestrutura bem escassa. A câmera do diretor capta muito bem o ambiente que se tem ao redor das pessoas que vamos conhecendo pouco a pouco. A natureza, imponente, preenche a tela em cada plano aberto que Mesa escolhe fazer. A região montanhosa, frequentemente mostrada, tem sua beleza mas também corresponde a toda dificuldade na vida do protagonista Jorge.

Jorge, interpretado pelo ator, estreante no cinema, Juan Daniel Ortiz, vive em uma fazenda, herdade de seu pai, na qual cultiva café. Esta é sua única fonte de renda. O diretor faz questão, aqui, de mostrar um pouco do dia a dia e das preocupações com esse tipo de atividade. Atividade, esta, de forma caseira e totalmente manual. Mesmo assim acompanhamos o tratamento da plantação, a colheita do café, o processo de secagem e por fim a entrega de duas sacas de grão de café que se dá através de uma verdadeira jornada com direito a uma viagem de teleférico que atravessa todo um vale.

Todos esses momentos apresentados servem para desenvolver e mostrar que o tempo ali tem um ritmo próprio. Lento ou não, todas as pessoas daquela comunidade vivem suas vidas da forma que podem, aceitando que aquelas são as únicas vidas que tem. Existem preocupações como as que Jorge tem com seu avô, um homem enfermo, mas existe também o prazer, quando Jorge está com sua prima Rosa (Paula Andrea Cano).

Com a chegada dos seus amigos de infância que, atualmente, moram na cidade, Jorge vê toda essa estrutura temporal se modificar. A noite fria cheia de raios cortando o céu é o primeiro aviso. Essa cobrança que ele tem sobre quem ele é se transforma em uma pressão que o adoece e, assim, outro conflito se estabelece no filme. A religiosidade que aquelas pessoas possuem, algo fácil de se notar por tantos quadros de santos e de Jesus Cristo pendurados nas paredes das casas, contrasta com a crendice existente nos curandeiros.

Inevitavelmente o ritmo do filme muda com a chegada dos amigos de Jorge e, entre eles, uma antiga namorada, Andrea (Laura Gutierrez Ardila). Há aqui um ponto que transforma o protagonista, que o faz esquecer de todos aqueles que o cercaram no dia a dia até aquele momento. O diretor então faz questão de mostrar a perspectiva de Jorge, deixando tudo desfocado e sendo Andrea a única a receber atenção. É por ela que ele toma atitudes que não correspondem ao que vemos do personagem em praticamente todo o filme. Jorge se joga em uma corrida para alcançar o ritmo acelerado dos amigos, mesmo essa não sendo a vida que quis pra si.

Há uma forte critica do diretor quanto a essa volúpia dos jovens que se impressionam com a intensidade da cidade grande. E mesmo mostrando toda a pressa que eles têm em viver a vida, confirma, através do consumo da droga e em não colocar nenhum desses jovens como pessoas para além daquele unidimensionalidade, um vazio existencial que todos eles possuem. Vazio esse que não existe em Jorge.

Jorge tem uma missão e a lembrança de seu pai, que se dá através de sonhos/pesadelos, é o que consegue sempre puxa-lo para a realidade novamente. Mas, infelizmente, essa sua empreitada atrás de amigos que nunca estiveram ao seu lado e que não compartilham dos mesmos ideais e pensamentos, cobra um preço caro demais e que talvez ele não estivesse pronto ainda para pagar.

A vida é feita de escolhas e muitas delas são feitas quando ainda não possuímos capacidade de lidar com as consequências que virão. Mas é assim que somos forjados, nos erros e acertos que cometemos ao longo das nossas jornadas. Mesa consegue captar esse pensamento e constrói um filme que possui um final feliz e melancólico ao mesmo tempo. Há a dor da partida ao mesmo tempo que existe o sentimento de pertencimento através do sonho revelador de seu pai. Ali é seu lugar, ali é onde irá resistir ao tempo.


Filme: La Roya (A Ferrugem)
Elenco: Juan Daniel Ortiz Hernandez, Paula Andrea Cano, Laura Gutierrez Ardila
Direção: Juan Sebastian Mesa
Roteiro: Juan Sebastian Mesa
Produção: Colômbia, França
Ano: 2021
Gênero: Drama
Sinopse: Jorge (Daniel Ortiz) é o único jovem da sua geração que seguiu vivendo e trabalhando na fazenda de sua família, numa isolada comunidade em meio à floresta colombiana. Com o retorno de vários de seus amigos e da sua primeira namorada, vindos da cidade grande para as festas anuais locais, ele confronta o passado, mas também suas decisões sobre presente e futuro. Um retrato dos dilemas geracionais de uma população em busca de perspectivas.
Classificação: 14 anos
Streaming: Indisponível
Nota: 6,7

*Filme exibido no 11º Olhar de Cinema*

 

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