Poucos são os filmes que desenvolvem uma protagonista feminina tão naturalmente errática ao mesmo tempo em que não joga sobre ela o olhar do julgamento. A Professora de Violino, filme alemão de 2019, dirigido por Ina Weisse – o fato de ser uma diretora é o provável motivo dessa condescendência com a protagonista – nos traz uma história sobre uma mulher, em um primeiro momento, desprovida de qualquer entusiasmo em sua vida. Anna Bronsky (Nina Hoss) dá aulas de violino e vê, com a chegada de um novo aluno, Alexander (Ilja Monti), uma oportunidade de se provar como uma excelente professora/profissional. A grande pergunta é para quem, a todo momento, ela se coloca a prova?
O longa se inicia em uma audição anterior ao ingresso dos novos alunos. Percebemos em Anna um lado mais humano, sem tanta rigidez em seu olhar para com aqueles que pretendem estudar naquela escola. De imediato já existe uma dicotomia entre ela e outra professora, Frau Köhler (Sophie Rois) – que mais a frente sabemos se tratar da professora de seu filho Jonas (Serafin Mishiev).
Ina constrói o início do filme, principalmente, através de imagens e de aparências. Ao vermos, em um jantar, a família de Anna reunida em uma mesa iluminada, uma grande estante abarrotada de livros e seu marido, Philippe (Simon Abkarian), tocando e cantando uma canção para ela, logo temos diversas impressões sobre tudo aquilo e uma delas é de que a harmonia reina ali. Mas basta uma primeira troca de palavras entre o avô (pai de Anna) e seu neto Jonas, para percebermos algumas fraturas dentro daquela casa. As relações ali são todas conflituosas. Algumas mais ruidosas (Ana e Jonas), outras silenciosas (Anna e seu marido) e outras bem empoeiradas (Anna e seu pai).
Muito embora o filme seja curto, contando com quase 100 minutos de duração, há um problema grave de ritmo e que se deve ao fato de que existem muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. Anna e seu desafio com o aluno Alexander, a sua relação complicada e de muita pressão com seu filho Jonas, o seu relacionamento inerte com seu marido, a sua vontade de voltar a ser uma violinista e algumas outras coisas que a rodeiam, mas que não chegam a ser tão agudas aqui, como a figura de seu pai, Walter (Thomas Thieme) e de seu amante, Christian Wels (Jens Albinus). Essa falta de foco prejudica por tirar minutos importantes do que realmente importaria para a história, pois a perceber em como o filme termina, a trama envolvendo Anna, seu filho e seu aluno, tem, nestes três personagens, o tripé de toda a obra.
Cada personagem desses citados no parágrafo acima preenche um pouco da grande lacuna que é a protagonista. Seu pai nos leva a acreditar em uma infância complicada, uma criação sob muita rigidez de um pai que pode ser cruel mesmo quando acha que está “ajudando”. Seu marido a conhece como ninguém e o maior exemplo disso é a “dança” que fazem em um restaurante para saber qual a melhor mesa a se sentar. Philippe é o inverso do homem que é/foi seu pai. No meio disso há o amante, Christian, uma espécie de válvula de escape, com quem ela pode passar horas sem se sentir observada, cobrada ou julgada. Onde sentados em uma cozinha conversam sobre o passado dela de forma leve enquanto olham para um frango sendo aquecido em um forno.
Nesse sentido tanto o roteiro quanto a direção ampliam o significado da protagonista e, assim, o interesse em Anna é cada vez maior. O grande problema está na contrapartida. Se com Anna é fácil notar uma preocupação em desenvolve-la através de várias camadas, os outros personagens carecem muito de um “algo” a mais. Todos eles orbitam em Anna, funcionam para a história transcorrer mas sofrem com suas unidimensionalidades.
Em uma passagem, ainda no início do filme, em que Alexander é indagado por Anna sobre o que o impressiona em uma determinada música de Bach, a sua resposta considerando ela “muito regular” pode ser utilizada para conceituar este longa. A Professora de Violino é um filme extremamente protocolar. Sem altos e baixos. Tudo caminha em uma escala de cinza. Esse não julgamento do publico e do filme para com a protagonista deixa tudo muito apático. Há, apenas, um momento realmente tenso que é o que define o fim do filme, fora isso, a monotonia, quebrada algumas vezes por Alexander e seu violino, dá o tom desta obra.
Entretanto é necessário destacar como é importante quando um filme, que coloca a câmera para captar os movimentos das mãos tocando o violino, usa um elenco que domina o instrumento. Sem o uso apenas de enquadramentos em plano detalhe das mãos, sem artimanhas para colocar a câmera em posições que não daria para perceber os movimentos completos dos atores e sem recorrer a recursos de montagem e edição, A Professora de Violino nos brinda com verdadeiros mini shows, a começar pela primeira cena de Alexander, a qual enche os olhos de Anna e os nossos de muita emoção.
A Professora de Violino não gera expectativas mas consegue impressionar com o ato final. A atuação de Nina Hoss dá muita intensidade para a personagem e, esta, a cada cena, nos apresenta algo novo. A trilha sonora, basicamente, em cima do que é ensaiado por Alexander e Anna é um pequeno afago para os amantes da música clássica. Para o espectador fica um pouco de frustração, principalmente, quando se depara, aqui, com relações e referências de filmes como “A Professora de Piano” (2001) de Michael Haneke e “Whiplash” (2014) de Damien Chazelle.
Filme: Das Vorspiel (A Professora de Violino) Elenco: Nina Hoss, Ilja Monti, Simon Abkarian, Serafin Mishiev, Jens Albinus, Sophie Rois, Thomas Thieme, Thorsten Merten Direção: Ina Weisse Roteiro: Daphne Charizani, Ina Weisse Produção: Alemanha, França Ano: 2019 Gênero: Drama, Musical Sinopse: Anna é uma professora de violino em uma academia de música. Contra o conselho de seus colegas, ela impõe a admissão de Alexander, um aluno em quem vê um grande talento. Classificação: 14 anos Distribuidor: Filmicca Streaming: Filmicca Nota: 6,7 |