O novo longa da DC, Adão Negro, que estreia hoje dia 20 de outubro de 2022, traz Dwayne Johnson, vulgo The Rock, com as vestes do personagem título. Adão Negro é na verdade um anti-herói que já foi reescrito diversas vezes e dentro da própria DC possui várias origens. Em um primeiro momento, é bem verdade, há uma sintonia entre o ator e o personagem. É perceptível o potencial daquela sinergia inicial entre os dois, mas ao tentar soar sério demais, afim de seguir o ritmo do que vamos conhecendo do seu passado, essa energia entre o ator e o personagem vai se dissipando pouco a pouco devido à falta de contundência na história que está sendo contada.
O universo estendido da DC não funciona mais uma vez. Por mais que pôsteres de super-heróis como Super-Homem, Batman e Aquaman apareçam como decoração do quarto do jovem Amon, ou até mesmo alguns destes personagens se façam presentes em diálogos breves, a verdade é que o filme não se conecta com absolutamente nada do que já fora feito, a não ser como é dada a origem do herói/anti-herói Teth Adam que, posteriormente, se torna Black Adam (Adão Negro).
O diretor Jaume Collet-Serra, já acostumado com filmes de ação – principalmente aqueles com Liam Neeson –, aqui traz uma abordagem extremamente genérica dando ao espectador a sensação de que tudo que está ali já foi visto em outros filmes. A narração inicial é enfadonha. Toda a explicação dada no inicio precisa ser recapitulada algumas vezes para mudar o rumo da história bem como seu entendimento. As justificativas utilizadas, que serviriam para trazer um pouco de camada ao personagem principal, na verdade não se consolida devido ao pouco tempo que é dado para explorar cada cena, não conseguindo corroborar, então, com o que está sendo dito.
Adão Negro (Johnson) junto com Carter (Aldis Hodge), o Gavião Negro, travam embates cansativos e diálogos ainda mais sonolentos. E tudo isso é colocado para que essa construção improvável renda frutos ao fim do filme. O problema, como já mencionei, é que existe uma quantidade grande de elementos neste filme, que são jogados na tela sem nenhuma preocupação em fazer sentido e nessa conta estão personagens sem qualquer carisma como são os casos do Esmaga Átomo e Cyclone (Quintessa Swindell). O primeiro vivido pelo apático, mas tentando a todo custo ser engraçado, Noah Centineo. A segunda completamente deixada de lado, tendo apenas alguns minutos para usar seus poderes e mais nada. Aliás esta é uma outra grande falha aqui, afinal estamos falando de um filme de super-heróis com superpoderes, no entanto é o que pouco vemos. As batalhas começam e terminam num piscar de olhos. Nada passa a ideia de dificuldade. O roteiro, aqui, peca em não entregar tensão, conflitos e um real perigo para aqueles por quem tenderíamos a torcer. A escolha, novamente, é por dar um ritmo brando, carente de emoção e novamente quem perde é o espectador que a todo momento quer uma fagulha para se reconectar com o filme, mas a direção bem como o roteiro não cansa de estragar esses planos.
Há um resquício de boa vontade, que se deve ao talento, obviamente, de Pierce Brosnan (Kent/Sr. Destino), no qual podemos observar um capricho maior em toda a construção do personagem. É, talvez, o único arco que faça sentido. O resto é confuso nas suas próprias motivações.
A DC carrega o fardo de não ter um background robusto e consolidado de muitos de seus personagens. As constantes mudanças nas histórias, principalmente, de origem de diversos personagens tornam tudo mais difícil. Com isso não há outra possibilidade que não seja a fragilidade do que é desenvolvido em cena. A conexão do passado com o presente, por exemplo, conectando o personagem Adão Negro a estes dois momentos é tão simples que faz o espectador deixar de levar a sério as muitas escolhas do roteiro. E tal situação já acontece nos primeiros minutos. Essa falta de credibilidade do filme para com o publico vai aumentando com o passar dos minutos até que se torna insustentável. Nem mesmo a cena pós credito oferece qualquer sentimento que leve a uma maior proximidade com o filme.
Adão Negro é um herói que é adorado, pelo menos aqui neste longa, apenas pelo povo de Kahndaq. Mas este mesmo povo em nenhum momento é elevado a fator importante. Sequer é dado a ele um papel de coadjuvante na trama. Há um momento ou outro que a direção indica este personagem coletivo como sendo fundamental para a virada de chave da trama, mas que ao final essa expectativa não chega nem perto de ser alcançada.
Frágil também é o trabalho feito com os efeitos especiais. Não há absolutamente nada que chame a atenção. É até um tanto quanto primário tudo o que é apresentado. Com tantos filmes já feitos, era de se esperar por aprimoramentos ou cenas que tais poderes fossem colocados em evidencia, mas, ao contrario disso, eram nessas cenas que o ritmo se tornava frenético e a câmera entrava em um frenesi digno de filmes do Michael Bay. Muitos cortes, viradas de lado, confusão na tela e você não sabia mais para onde olhar e nem mesmo o que estava, de fato, acontecendo. Ou seja uma saída razoável para quem não tinha o que mostrar nesse tipo de cena.
O filme que embarca numa ação leve – era o de se esperar pela classificação de 12 anos que recebeu –, tenta misturar humor e um leve romance. No final absolutamente nada funciona como foi pensado para funcionar. O romance claramente termina antes mesmo de começar, o humor se dá através de tentativas frustradas do personagem Esmaga Átomo (Centineo) e a ação não passa de meia dúzia de socos trocados com direito a muita gente voando – esse foi o poder mais utilizado neste longa, o que não demanda de muita tecnologia e nem mesmo criatividade para fazer.
Adão Negro se torna mais uma decepção desse universo estendido da DC. A Marvel nesse sentido, mesmo não repetindo o sucesso dos filmes do fim da última fase, vem conseguindo reestruturar a franquia através de suas séries e dos primeiros filme da fase 4 da MCU. Já para a DC resta esperar o que virá a seguir com Shazam! Fúria dos Deuses, Aquaman 2 e The Flash, os únicos com datas de estreia já determinadas.
Filme: Black Adam (Adão Negro) Elenco: Dwayne Johnson, Sarah Shahi, Viola Davis, Pierce Brosnan, Noah Centineo, Aldis Hodge, Quintessa Swindell, Marwan Kenzari, Mohammed Amer, Bodhi Sabongui Direção: Jaume Collet-Serra Roteiro: Adam Sztykiel, Rory Haines, Sohrab Noshirvani Produção: Estados Unidos Ano: 2022 Gênero: Ação Sinopse: Quase 5.000 anos após ter sido agraciado com os poderes onipotentes dos deuses antigos – e aprisionado logo depois – Adão Negro (Dwayne Johnson) é libertado de sua tumba terrena, pronto para levar ao mundo moderno sua forma singular de justiça. Classificação: 12 anos Distribuidor: Warner Bros. Pictures Streaming: Indisponível Nota: 5,9 *Estreia dia 20 de outubro de 2022 nos cinemas* |