O primeiro filme da franquia de “Através da Minha Janela”, adaptado do romance de Ariana Godoy, é um bom filme teen. Apesar de um enredo não tão original e talvez desatualizado diante das formas de se relacionar no século XXI, ele nos faz querer acompanhar a relação magnética e sexy dos protagonistas Ares e Raquel. Já que essa relação foi bem construída na primeira parte da franquia, a ideia de ter um segundo filme que mostrasse o desenvolvimento dela e o amadurecimento dos personagens parecia ser, no mínimo, interessante, mesmo sem ter tanta necessidade. Mas já ouviram o ditado “não se mexe em time que está ganhando”, não é?
Além Mar trata da distância física e emocional entre o casal protagonistas, que agora estão na faculdade e passam por novos conflitos. Ao entrarem de férias dos estudos, viajam junto com seus amigos para uma espécie de ilha paradisíaca, onde o filme se passa efetivamente. Acredito que pelo sucesso do primeiro longa, o segundo teve um orçamento maior e, consequentemente, um melhor apelo estético. As imagens da ilha e os planos dos personagens nesses locais são lindos. A maior parte das cenas são, imageticamente, de boníssimo gosto. Entretanto, o filme peca ao tentar reafirmar essa essência sensual proposta pela franquia. Há um exagero tanto na quantidade de cenas de sexo, quanto na maneira em que isso é feito. Em um certo momento no começo do filme, por exemplo, há uma montagem estilo videoclipe de todos os jovens transando, intercalando cenas deles lambendo sorvetes. Se aquilo era para ter sido sexy, falharam miseravelmente. Na verdade, foi muito mais cômico do que sexy. No fim das contas, é uma enorme preocupação em mostrar belas imagens dos personagens nus, mesmo que tome tempo de construir um bom enredo.
Uma parte legal dessa sequência é que os outros personagens possuem um maior destaque. Principalmente Yoshi, o melhor amigo apaixonado por Raquel. Os conflitos do personagem tornam-se mais aparentes e fazem sentido dentro da narrativa que o filme constrói. Já as tramas dos irmãos de Ares ainda são meras encheções de linguiça. A relação de Artemis com a funcionária Cláudia não leva a lugar algum, por exemplo. Aliás, só funciona para sentirmos ainda mais raiva dessa família. Ao menos é fofo e divertido acompanhar a jornada de descoberta sexual de Apolo com Daniela.
Nada é muito profundo em Além Mar. A história se movimenta, mas nada parece muito natural. Os personagens ficam meio burros, sabe? Não se comunicam e parecem não ter tanta coerência. Na parte final, inclusive, há uma mudança de tom inesperada que poderia ter funcionado muito bem, mas parece que foi inserida ali sem mais nem menos só para ter algum gancho para o terceiro filme. Os diálogos são terríveis! Péssimos mesmo! E a atuação nesse contexto não convence nem um pouquinho. É como se nem mesmo os atores acreditassem no que eles estavam fazendo.
Além Mar é, de fato, um filme de transição. Acredito que ele sirva para levar a história de um ponto a outro, mas não parece ser tão relevante assim. Espero que o terceiro longa da franquia faça jus ao que foi construído no primeiro. Ao pensar no gancho e na mudança da atmosfera proposta, o próximo filme pode finalmente se encontrar, ou pode ser um completo desastre. Tudo depende do bom aproveitamento do potencial das tramas que foram abordadas. Tomara que elas possam ser aproveitadas, aprofundadas e tudo faça um pouco mais de sentido. E, por favor, sem a ridicularização das cenas mais picantes.
Filme: A Través del Mar (Através da Minha Janela: Além Mar) Elenco: Clara Galle, Julio Peña, Hugo Arbues, Guillermo Lasheras, Eric Masip, Andrea Chaparro, Carla Tous, Emilia Lazo, Natalia Azahara, Ivan Lapadula, Rachel Lascar Direção: Marçal Forés Roteiro: Ariana Godoy, Eduard Sola Produção: Espanha Ano: 2023 Gênero: Romance, Drama, Comédia Sinopse: Depois de um ano separados, Raquel e Ares se reencontram em uma viagem. Será que esse amor vai resistir a novas tentações e inseguranças? Classificação: 16 anos Distribuidor: Netflix Streaming: Netflix Nota: 5,0 |