Cabana (2023) é um curta-metragem de ficção escrito e dirigido por Adriana de Faria. O filme foi exibido na mostra Açaizeiro no CineAlter, na sexta-feira, dia 03 de novembro. Em Cabana, acompanhamos o decorrer do encontro de Margarida e Maria Lira. Ambientado no período da Cabanagem na região do Grão-Pará, o título do curta faz um jogo de palavras ao passar quase que por completo em uma cabana.
O filme de Faria é uma obra silenciosa. Não há a voz das protagonistas, ainda que elas conversem entre si. Aqui, é escolhido apresentar o texto proferido por Margarida e Maria através de legendas. O fato de ambas estarem em uma espécie de “esconderijo” faz desse recurso ainda mais agregador à experiência, uma vez que o silêncio nessa ocasião é de suma importância.
Ambientar um filme em somente um cenário é uma tarefa complicada, uma vez que os recursos são poucos, ainda mais se considerarmos o local pequeno e escuro onde Cabana se passa. Nesse caso, a pouca iluminação e espaço reduzidos se somam à atmosfera opressora de perigo a que as personagens estão expostas, tornando a apresentação da narrativa contundente.
Enquanto Margarida espera por seu marido, o cabano Joaquim, voltar à casa, ela recebe em seu lugar Maria Lira, companheira de batalha que vem portando notícias ruins. Durante os poucos minutos de interação entre essas duas personagens, somos capazes de sentir a tensão da suspeita durante as conversas silenciosas de Maria e Margarida que, empunhada de seu terçado, não cede até que sejam confrontadas pelas autoridades.
A senha para entrar na cabana, “Morte aos portugueses”, é a primeira frase do diálogo silencioso entre protagonistas, e exalta-se o fato de que um dos únicos momentos em que vozes são ouvidas durante o curta, é quando uma voz masculina as ameaça. Não podemos ver o rosto de quem profere essas ameaças, apenas sua voz e as batidas do lado de fora da cabana são sonorizadas, enquanto assistimos às reações das protagonistas em meio ao tumulto.
Os últimos minutos de Cabana trazem em sua narrativa a melhor parte do roteiro de Adriana de Faria, quando Maria Lira rompe a barreira do tempo entre o período da Cabanagem e a atualidade, indo de encontro ao Memorial da Cabanagem, erguido no centro da cidade de Belém, no Pará, para homenagear as inúmeras vidas perdidas, entre indígenas, negros, mestiços e a população mais pobre do Grão-Pará. Esse pequeno ato de fantasia, se pudermos dizer assim, carrega em seu desenvolvimento toda a força do enredo do curta. Ao exibir Maria Lira face a esse símbolo, o grito que sai de sua garganta tem significados diversos.
Relembrar a Cabanagem é manter acesa a história de luta do povo do Norte, que teve grande parte de sua população à época dizimada. Assim sendo, Cabana é um curta-metragem que alcança muito em pouco tempo de tela. Seus quase 14 minutos são preenchidos com belas atuações e uma direção de fotografia muito bem conduzida, focada em não desperdiçar nenhum segundo de duração do filme.
Filme: Cabana Elenco: Isabela Catão, Rosy Lueji Direção: Adriana de Faria Roteiro: Adriana de Faria Produção: Brasil Ano: 2023 Gênero: Drama Sinopse: Em uma cabana na floresta amazônica, duas mulheres do movimento da Cabanagem têm seus destinos cruzados e precisam fugir antes que sejam descobertas pelas autoridades. Classificação: 12 anos Distribuidor: Marahu Streaming: Indisponível Nota: 8,0 |