Virtual Genesis é um curta-metragem de ficção experimental, idealizado e dirigido por Arthur B. Senra. O filme, premiado no 27º Cine PE com o troféu de Melhor Montagem – Competitiva de Curtas Nacionais, integrou a mostra competitiva Samaúma do CineAlter desse ano.
Concebida totalmente em ambiente virtual, a produção de Senra imagina um mundo criado dentro do universo da Inteligência Artificial. As primeiras imagens do curta fazem referência às fotografias de cavalos de corrida, do ano de 1872, de autoria Eadweard Muybridge e que marcam o início da imagem em movimento.
Ao adicionar à narrativa virtual de seu curta-metragem as imagens que dão à luz ao cinema como vemos hoje, o diretor cria um enredo de nascimento. O próprio título de seu filme faz referência ao ato primeiro de vida, ainda que não haja, de fato, vida em nada do que é criado e exibido em Virtual Genesis.
O uso de I.A. na concepção dessa produção se utiliza bastante da ideia de que se pode criar qualquer coisa em ambiente virtual. Porém, algo estranho fica perceptível ao olhar e, ironicamente ou não, essa atmosfera visualmente incômoda explora temas que vão do existencialismo – ao abordar as vontades e angústias provindas das mentes dos “seres” criados pela I.A – a temas relacionados ao cenário político mundial e mesmo do Brasil, quando a narração – também em I.A. – menciona a criação de bots de divulgação de imagens e notícias falsas.
Toda essa estranheza do mundo artificial é um dos pontos mais fortes do curta-metragem de Senra. Ao se propor a criar um filme a partir da máquina, o aspecto humano da produção se esvai, dando origem a uma criatura de difícil compreensão, ainda que os temas explorados por essa narrativa artificial sejam de nosso mundo, o mundo “real”.
Ao fim, acredito que uma das mensagens passadas por Virtual Genesis é a de que o cinema, as artes e, basicamente, qualquer campo de nossa realidade, ainda necessitam de pessoas de verdade para serem concebidos. Abordar questões da ficção científica como os sentimentos da I.A. – a lá Ela (2014) de Spike Jonze – é uma jogada acertada no roteiro, que se diz criado a partir de uma questão feita a um programa de Inteligência Artificial. Pensar assuntos que estão fora de nosso alcance é sempre instigante, e explorar as possibilidades dentro desse novo campo recheado de novidades é tarefa quase impossível de se resistir.
Virtual Genesis apresenta, em seu pequeno espaço de tempo, uma realidade caótica que poderia muito bem ser real em algum momento. A narrativa, que carrega certo tom de humor em seu texto, se alia as imagens geradas em alta velocidade, velocidade essa que não conseguimos alcançar em nossa humanidade “limitada”. Como vemos, tais criações advindas dos “cérebros” perfeitos das I.A. não são tão perfeitas assim.
Abraçar o “novo” é importante, mas atentar-se à série de consequências que vem junto em sua bagagem também é. Imagino que um dos pontos mais importantes de Virtual Genesis seja este. Sua narrativa ficcional é, em partes, bastante preocupante, se pensarmos nela como um futuro muito próximo. Deixemos esse tipo de enredos para as ficções científicas, elaboradas por mentes de verdade.
Filme: Virtual Genesis Direção: Arthur B. Senra Roteiro: Arthur B. Senra Produção: Brasil Ano: 2023 Gênero: Ficção, Experimental Sinopse: Era uma vez, em um futuro distante, um grupo de brilhantes cientistas e engenheiros criaram uma inteligência artificial tão avançada que era capaz de criar seu próprio mundo. Eles o chamaram de “Virtual Genesis”. Classificação: 10 anos Streaming: Indísponível Nota: 6,8 |