Cora é um drama que tenta se passar por um documentário. Essa escolha de percepção, sob qual a forma de apresentar o filme ou como contar aquela história é só o primeiro de muitos equívocos em todo o longa. Por sorte não é um filme longo e, assim, o desafio em termina-lo não é tão grande.
Acompanhamos através de fotos, vídeos e relatos as histórias de três personagens: Xavier, Teo e Benjamin. Homens de três gerações diferentes. Avô, pai e filho. Sendo Benjamin o pai de Cora. Tal caminhada se torna cansativa uma vez que os personagens destacados para narrar as partes de uma grande história soam extremamente artificiais, a começar por Raul que em momento algum consegue transparecer verdade na atuação e no que fala. Há um certo incomodo no personagem, que talvez seja reflexo do incomodo do ator naquela interpretação. O que é certo é que as suas cenas não são nada naturais, fazendo com que nos distanciemos imediatamente do filme.
A visão distante de Cora quanto a tudo o que acompanha através das fitas, fotos e cartas também é um obstáculo para nosso convencimento do seu interesse em saber mais sobre sua família, seu pai, sua história e sobre ela própria. Ao não personificar essa personagem, a nossa conexão quanto às suas descobertas e às suas duvidas é muito ínfima. Sequer padecemos quanto à sua preocupação em relação a um “gene maldito” possivelmente hereditário.
Mesmo que exista um respeito a uma linha cronológica no desenvolvimento das histórias, ou partes dela, de cada um dos personagens de forma separada, Xavier, Teo e Benjamin, em determinado momento, esse formato se torna maçante e cíclico. Ainda que isso seja um ponto a ser provado no longa, uma vida de repetição dos três personagens, não me parece ser interessante o suficiente para nos fazer acompanhar com afinco as consequências que chegam para cada um deles.
Cora vai absorvendo todas essas informações através de uma espécie de documentário genealógico que seu pai brasileiro, Benjamim, antes de sumir, estava fazendo. Ela é uma mulher dinamarquesa, nascida em 2016. O filme se passa em 2064 e o Brasil sofreu um grande desastre e se encontra quase despovoado, sua superfície, frisada no longa, é só lama.
Essa distopia sequer é desenvolvida. Novamente tudo fica muito distante do espectador. Tudo o que é absorvido se dá através do que Cora está vendo ou assistindo. A questão é que, diferentemente de Cora, o público sequer sabe quem são aquelas pessoas e em momento algum é desenvolvida uma real importância para aquela história.
Um ponto que me agrada é na forma como o homem é retratado aqui. Alguns violentos, outros coniventes com as agressões. Alguns mentem, outros disfarçam bem. Já as mulheres são como fantasmas, tem seus nomes citados mas não são importantes para a trama.
Cora é um experimento que não deu certo. Falta intensidade. A narração distante da protagonista e a ausência de um rosto para ela prejudicou as conexões necessárias para estabelecer um interesse na sua história, no seu passado. Com isso, ao fim do filme, não temos qualquer empatia por nenhum personagem e muito menos com o que acabamos de assistir.
Filme: Cora Elenco: Vera Valdez, Fabio Marques Miguez, Sylvio Ziber, Andre Whoong, Charlote Munk Direção: Gustavo Rosa de Moura, Matias Mariani Roteiro: Gustavo Rosa de Moura, Matias Mariani Produção: Brasil, Dinamarca Ano: 2021 Gênero: Drama Sinopse: 2064. Cora, uma dinamarquesa, encontra um documentário inacabado no qual Benjamim, seu pai brasileiro, tentava investigar, 50 anos antes, a história dos próprios pais dele: Teo, que morreu louco quando ele ainda era criança, e Elenir, uma mulher misteriosa de quem ele mal ouviu falar. Em sua investigação, Benjamin descobre que ambos fazem parte de um complexo quebra-cabeça familiar, cheio de traumas e tabus, no qual ele começa a se ver como uma das peças principais. O material presente no documentário de Benjamim é organizado e comentado por sua filha, na tentativa dela de compreender o passado perdido de sua família. Classificação: 12 anos Streaming: Não disponível Nota: 3,0 |