Quando pensamos em filmes religiosos a primeira coisa que vem em nossas cabeças são aquelas infinitas adaptações da Paixão de Cristo que passam durante a pascoa e Natal. Mais recentemente, podemos lembrar dos filmes nacionais que esgotaram bilheterias, produzidos pela Rede Record de televisão. Todos apresentam os temas da mesma maneira, quase criando um estilo e uma estética próprios. Coração Ardente entra nessa gaveta, mas tenta inovar ao contar a história do “Sagrado coração de Jesus” misturando dois gêneros: Drama e Documentário.
O filme é uma espécie de mistura de novela mexicana com aqueles programas documentais da History Channel. Uma combinação que, por ser exótica, poderia apresentar um resultado muito interessante, já que não se vê com muita frequência esses dois gêneros misturados. Não é o caso aqui. Em alguns momentos a parte dramática acaba cortando o ritmo do documental, deixando o filme com pouca ou quase nenhuma liga emocional. Quem assiste não se importa com o que está acontecendo.
A parte do drama entrega um roteiro bem simples, baseado em fatos reais que, por incrível que pareça, não convence nem o melhor dos católicos. O arco narrativo de Guadalupe, personagem central da trama, tem uma motivação boa apesar de muito usada: A escritora com bloqueio criativo que está estourando o prazo de entrega. O desfecho é ruim e apressado, forçando situações nas quais aceitamos na base da fé. Atuações horríveis e cartunescas, dão a sensação de estarmos assistindo a um folhetim mexicano do SBT (apesar da obra ser espanhola).
Já a do documentário é melhor. Apresenta uma cronologia histórica muito interessante acerca do Sagrado coração de Jesus, contando histórias e casos que aconteceram durante os séculos que se passaram desde a primeira visão de Lugarda de Tongeren ou Santa Lutgarde, até os dias de hoje. Tudo de maneira bem didática e limpinha.
Financiado por varias instituições católicas, o filme tem a pretensão de não só passar a mensagem do sagrado coração de jesus para frente como também de catequisar quem o assiste. Extremamente tendencioso, o que acaba perdendo a força como produto de cinema, justamente por apresentar o tema de maneira nichada. Se a ideia era que o alcance fosse grande, a direção erra em escolher o formato e a dramatização. Em alguns momentos, a sensação é de estar em uma aula que não acaba nunca. Ou estar assistindo a um vídeo institucional enquanto espera uma consulta médica. Em outras palavras, Coração Ardente é uma propaganda de 1 hora e 25 minutos.
De maneira geral, da para sentir que o filme foi feito para ser popular e atingir o maior numero de pessoas possíveis, não só os católicos espalhados pelo mundo. É praticamente um trabalho de catequização, de conversão e de propaganda. O que acaba sendo ruim, pois isso acaba por desviar o foco da interessante e bonita história do Sagrado coração de Jesus e acaba se tornando o contrário: Nichado. Provavelmente, mais um filme que passara na tv durante a pascoa e o natal.
Filme: Corazón ardiente (Coração Ardente) Elenco: Karyme Lozano, María Vallejo-Nágera, Carmelo Crespo, Yolanda Ruiz, Claudio Crespo, Pablo Viña, Ignacio Ysasi Direção: Andrés Garrigó Roteiro: Andrés Garrigó e Pedro Delgado Produção: Espanha Ano: 2020 Gênero: Drama, Documentário, Religioso Sinopse: O filme “Coração Ardente” conta a história de Lupe Valdés (Karyme Lozano), uma escritora de sucesso que investiga as aparições do Sagrado Coração de Jesus, em busca de inspiração para o seu próximo romance. Guiada por Maria (María Vallejo-Nágera), perita em mistérios, Lupe descobrirá as revelações de Jesus a Santa Margarida Maria de Alacoque e encontrará santos, assassinos, exorcistas, papas, presidentes, conspiradores… além de milagres e crimes. Por meio de sua pesquisa, Lupe também descobrirá os segredos do seu próprio coração, afligido por velhas feridas que precisam ser curadas. Classificação: Livre Distribuidor: Kolbe Arte Produções, Magnificat Entretenimento Streaming: Indisponível Nota: 4,0 |