CRÍTICA – 13 FANTASMAS

CRÍTICA – 13 FANTASMAS

13 Fantasmas, dirigido por Steve Beck, tem início quando o insólito e recluso Cyrus Kriticos (F. Murray Abraham) morre. O homem deixa para seu sobrinho, Arthur Kriticos (Tony Shalhoub), uma herança inesperada: uma casa incrivelmente luxuosa e complexa, feita inteiramente de vidro. Arthur, recentemente viúvo e lutando para sustentar sua família, vê a herança como uma bênção. No entanto, ao se mudar para a casa com seus dois filhos, Kathy (Shannon Elizabeth) e Bobby (Alec Roberts), e a babá Maggie (Rah Digga), eles descobrem que a casa é, na verdade, uma prisão elaborada para fantasmas vingativos.

A sensibilidade camp

Susan Sontag, em seu ensaio “Notas sobre o camp“, escreve: “A essência do camp é seu gosto pelo inatural: pelo artifício e pelo exagero. […] É uma maneira de ver o mundo como fenômeno estético. Essa maneira, a maneira do camp, não se dá em termos de beleza, e sim em termos do grau de artifício, de estilização”. 

Dessa maneira, me foi impossível assistir 13 Fantasmas e não lembrar desse texto da, incrível, Susan Sontag. Afinal, o filme se desdobra como uma evocação exuberante e exagerada de tropos do horror, levando-os a níveis quase caricaturais. Um tropo, a saber, é um elemento ou uma convenção recorrente dentro do gênero. Assim sendo, pensemos em alguns. Casas mal assombradas são comuns em longas de terror, certo? Por consequência, fantasmas também. Um cientista maluco, com teorias mirabolantes?

13 Fantasmas então, coleta estes tropos e os exagera a ponto de torná-los artificiais. Isto é, sabe o fantasma? Agora são treze, e eles compõe o que, dentro do filme, é conhecido como Zodíaco Negro (o que, por sí só, já é uma exageração de nosso próprio zodíaco). A casa mal assombrada? É uma mansão que, com suas paredes cobertas de inscrições místicas, funciona quase como um personagem próprio. O cientista maluco? Aqui, um milionário excêntrico (e também cientista maluco). As mortes? Sangrentas e absurdas, como se tivessem se originado em um desenho animado.

Terror “infantil”

O visual é tão distintivo e absurdo que lembra a misè-en-scene — termo em francês para denominar a construção cenográfica — de um programa infantil. Os fantasmas do zodíaco são caricatos, deformados para sua aparência soar o mais sobrenatural possível. A casa de vidro é uma ideia tão tosca no papel, que parece ter saído da cabeça de uma criança. Dessa forma, evoca uma sensação do que seria um filme de terror adulto caso tivesse sido produzido pela Disney Channel ou a Nickelodeon. Este visual, com detalhes minuciosos e uma fantasia latente, transforma a casa em um playground macabro que é simultaneamente assustador e fascinante.

No entanto, é justamente essa qualidade brega e exagerada que torna 13 Fantasmas um filme tão encantador. O longa se entrega completamente à sua própria proposta, exibindo uma confiança inocente em sua narrativa e estética. É um filme que não tem vergonha de ser o que é, revelando uma autenticidade cativante. Steve Beck acredita sinceramente em sua própria premissa, e essa dedicação transforma o que poderia ser considerado um exagero ridículo em uma experiência única e divertida.

A paixão de 13 Fantasmas

Retomando Sontag, o camp é uma sensibilidade que valoriza o artificial, celebrando o estilo e a estética. Também: “Camp é a arte que se propõe como séria, mas que não pode ser levada totalmente a sério porque é ‘demais’. […] Sem paixão, o que se tem é um pseudo-camp, meramente decorativo, inofensivo. […] Há seriedade no camp no grau de envolvimento do artista”. Ou seja, o autor, Steve Beck, precisa levar a sério sua proposta e acreditar verdadeiramente no sucesso de sua essência. E é exatamente o que ocorre no longa; se entrega completamente a sua paixão. O resultado é uma obra que é tanto um tributo ao gênero de horror quanto uma exploração encantadora da teatralidade e do estilo.


Pôster do filme 13 Fantasmas, dirigido por Steve Beck. Filme: Thirteen Ghosts (13 Fantasmas)
Elenco: F. Murray Abraham, Tony Shalhoub, Shannon Elizabeth, Rah Digga, Alec Roberts
Direção: Steve Beck
Roteiro: Neal Marshall Stevens, Richard D’Ovidio, Todd Alcott
Produção: EUA
Ano: 2001
Gênero: Suspense, Terror
Sinopse: Arhur herda uma casa de seu falecido tio. Entretanto, o homem não esperava que a casa estaria repleta de fantasmas.
Classificação: 16 anos

Streaming: Max
Nota: 10

Sobre o Autor

Share

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *