A ausência de uma essência.
A frase que inicio esse texto é o que resume meu ‘sentir’ e minha experiência assistindo ao filme. Há um sentimento amargo quando você imagina e almeja uma relação com uma obra e ela não se concretiza. Contudo, é inegável que as expectativas que criamos são propriedades nossas e nada mais do que isso.
Esse foi meu primeiro contato com a diretora Anna Biller, que é muito conhecida por reproduzir a estética hollywoodiana clássica sob outros parâmetros e olhares, fazendo isso, muitas vezes, de forma sarcástica. Em ‘A Bruxa do Amor’, iremos acompanhar Elaine, protagonizada por Samantha Robinson, que está determinada a encontrar um homem para amá-la. Ela, constantemente, faz feitiços e poções na intenção de seduzir os homens ao seu redor, por exemplo, o marido de Trish, Laura Waddell, uma de suas vizinhas. Nessa caminhada, os percalços de relações conturbadas culminam em frustração e desespero para Elaine.
Particularmente, o que mais me atraiu a atenção no começo do filme foi a fidelidade com a reprodução digital do Technicolor. As cores, suas saturações, matizes e luminosidades estão belíssimas e bem trabalhadas. Além disso, acredito que tenha sido usado algum filtro na câmera, pois, a imagem realmente reflete grãos próprios de uma película. Com certeza quem é apaixonado pelo Technicolor is natural color (Technicolor é cor natural), vai ficar com um brilho no olhar. Entretanto, é uma pena que esse recurso tão bem construído tenha sido relegado à pura estética, ao invés de encontrar base concreta na narrativa e seus condicionamentos.
A linguagem desdenhosa sobre o patriarcado é ótima, e a zombaria das opiniões misóginas dos homens sendo trazidas à realidade é hilária. Trish estava certa sobre como o trabalho de uma mulher não é agradar um homem, e Elaine estava certa sobre os homens serem fáceis e frágeis. Toda a história da bruxaria está entrelaçada com o medo da sexualidade feminina. Todavia, após uma hora de filme fica difícil continuar aceitando a história, que começa a girar em torno de si mesma, ao invés de ir exponencialmente para outros lugares. É cansativo a não-expansão do filme, logo, é tedioso ficar vendo a face pálida e sem expressão de Elaine por duas horas.
A protagonista não me convenceu, nem enquanto uma suposta e reformulada femme fatale, nem enquanto bruxa. Tudo soa insípido, desde suas motivações, quanto suas ações e relações. Mesmo que a intenção tenha sido subverter os discursos e práticas sociais machistas, que nos conduzem enquanto sociedade, o filme sucumbe no raso de sua própria estética. Portanto, para além da estética bem reproduzida, infelizmente não há nada que me cative nesse filme.
Filme: A Bruxa do Amor Elenco: Samantha Robinson, Gian Keys, Laura Waddell, Jeffrey Vincent Parise Direção: Anna Biller Roteiro: Anna Biller Produção: Estados Unidos Ano: 2016 Gênero: Romance, Terror, Comédia Sinopse: Elaine (Samantha Robinson) é uma jovem bruxa que está determinada a encontrar o homem de sua vida. Ela leva homens para seu apartamento e faz magias e poções a fim de seduzi-los. Tudo funciona bem, mas ela acaba com uma série de vítimas infelizes. Quando ela finalmente encontra o homem de seus sonhos, seu desespero para ser amada a torna insana. Classificação: 16 anos Distribuidor: Supo Mungam Films Streaming: Filmicca Nota: 4,0 |