CRÍTICA – A FÚRIA

CRÍTICA – A FÚRIA

Em A Fúria, conhecemos a jornada de Peter Sandza (Kirk Douglas), um agente da CIA. O filho do homem, Robin (Andrew Stevens) nasceu com um dom; o garoto possui habilidades psíquicas. Certo dia, Robin é sequestrado. Então, Peter emprega todos os seus esforços para encontrar o filho. Para isso, recorre à ajuda de Gillian (Amy Irving), uma menina com poderes semelhantes aos de Robin. 

A Fúria e o cinema italiano

Neste suspense de ficção científica, De Palma se aproxima bastante dos terrores sobrenaturais italianos da mesma época; como os filmes de Dario Argento e Lucio Fulci. Existe toda uma construção que, de certo modo, reverência estes filmes. Seja a trilha sonora, a vivacidade do sangue, as pitadas de terror, ou até mesmo a escolha do elenco (Amy Irving parece ter saído direto de um filme de Mario Bava).

Entretanto, o diretor estadunidense também consegue se distanciar de suas referências a partir de um estilo muito próprio seu. De Palma é um homem que não se contenta com amarras. Ou seja, o que ele quer fazer, ele faz. E faz muito bem. A Fúria não é exceção nisto. Os trejeitos do diretor são explícitos. Em outras palavras, o filme sempre busca por uma maneira exagerada e artificial de construir a imagem.

Autoria de De Palma

Desse modo, estes exageros se refletem inclusive em aspectos mais frontais. Como, por exemplo, na maneira como o filme trata a violência. Em determinada cena, uma pessoa explode, e esse momento é repetido diversas vezes, em ângulos diferentes; ora com câmera lenta, ora sem, mas sempre ressaltando a bela absurdez visual daquilo. Ou, em outra hora, quando um personagem gira várias vezes — igual o peão da casa própria — e a cada giro ele jorra sangue em todas as direções, tingindo o cômodo de vermelho (um vermelho que remete, novamente, à Argento).

Contudo, as manias de De Palma também estão, mas não só, na montagem. Gillian, assim como Robin, possui poderes psíquicos. Além disso, ambos tem uma idade parecida. Dessa maneira, existem muitos paralelos entre os personagens. E esses paralelos são exaltados na imagem através da conexão mental que eles possuem. Em diversos momentos, Gillian enxerga literalmente com os olhos de Robin; ou se transporta mentalmente para o cômodo que o garoto está, vendo tudo que ele vê. De Palma utiliza da forma do filme para entregar o olhar do menino para a protagonista, e consequentemente para nós, nos fazendo ter vislumbres do que está ocorrendo com ele de tal forma que reforçe o suspense. Aquela sensação de ver algo grotesco acontecendo, mas não poder fazer nada, há não ser contemplar.

Dilatação do tempo

Em 1987, com Os Intocáveis, o diretor viria a fazer a famosa cena da escadaria; uma sequência de tiroteio na escada de um metrô de Nova Iorque, onde o tempo não corre da maneira normal. Aqui, em A Fúria, existe uma espécie de experimentação nesse sentido (que posteriormente levaria à cena comentada). Dessa forma, em um momento de fuga envolvendo Gillian e Peter, soa como se o tempo não fluísse como normalmente flui. Os personagens correm, correm, correm, mas não chegam. Avançam; voltam; coisas acontecem rápido; coisas acontecem devagar. 

Por conseguinte, a obra destroça nossa noção temporal para priorizar um estímulo emocional direto. Não está interessado em ser verossímil naquele momento, mas em elevar o nível da tensão do acontecimento. Desde os diferentes angulos até o zoom exagerado, soa como se De Palma sempre colocasse sua câmera para trabalhar em prol de alçar a capacidade sentimental do filme. 

Em suma, o que A Fúria deseja não é nada mais do que a atenção do espectador. Ou seja, um jogo de imagens que busca estimular a escalada dos sentimentos e da agonia para cosneguir trancafiar seus olhos na tela. Não é para você desviar o olhar, é para você olhar de diversas maneiras. Olha uma, duas, três vezes. Enxergue por um angulo, exergue por outro. Veja pelos olhos de Gillian, de Robin, de Peter; pelos seus. De Palma quer, principalmente, que você veja, como um bom artesão do cinema quer.


Pôster do filme A Fúria, dirigido por Brian De Palma. Filme: The Fury (A Fúria)
Elenco: Kirk Douglas, John Cassavetes, Amy Irving, Carrie Snodgress, Charles Durning, Fiona Lewis
Direção: Brian De Palma
Roteiro: John Farris
Produção: EUA
Ano: 1978
Gênero: Ficção Científica, Suspense, Terror
Sinopse: O filho de Peter, um agente da CIA, é sequestrado. O homem faz de tudo para encontrar o garoto novamente.
Classificação: 14 anos

Streaming: Looke
Nota: 9,0

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