CRÍTICA – A ÚLTIMA INVOCAÇÃO

CRÍTICA – A ÚLTIMA INVOCAÇÃO

Outubro acabou, porém os resquícios do período de Halloween permanecem por aqui. A Última Invocação (禁じられた遊び, 2023) é um filme japonês escrito por Noriaki Sugihara e dirigido por Hideo Nakata – conhecido principalmente pelo clássico do terror asiático Ringu (1999). Essa credencial foi o que me levou a assistir este filme, que estreou nos cinemas brasileiros no dia 31 de outubro. Aqui, acompanhamos uma história que se ergue a partir do luto e da discussão sobre seitas e “rituais” religiosos.

Um dos principais pontos a se mencionar, nesse caso, é a decadência que o gênero terror vem sofrendo nos últimos tempos. É claro que há, ainda, bons filmes sendo produzidos e lançados dentro desse nicho no cinema. No entanto, e digo isso com um pouco de infelicidade, o exemplar do qual estou falando não se encaixa exatamente em uma das melhores experiências cinematográficas recentes.

O enredo de A Última Invocação se desenvolve a partir do trágico acidente sofrido por uma mãe e seu filho. Após a morte da mãe, pai e filho seguem sozinhos e em luto, e é quando eventos estranhos começam a acontecer dentro da casa da família. Paralelamente, uma “segunda” história é inserida na trama sobre uma jovem jornalista que filma eventos sobrenaturais e possui uma ligação passada com o viúvo e sua esposa morta.

Após uma brincadeira boba, onde o pai incentiva o filho a “plantar” o rabo de um lagarto e rezar para que ele renasça no solo, Haruto, a criança, resolve fazer o mesmo com um pedaço do corpo de sua mãe, plantando um de seus dedos e rezando todos os dias para que ela ressuscite no jardim de sua casa. A narrativa, que por si só já não possui a força necessária para se manter durante o filme, ainda conta com efeitos especiais toscos e atuações que transitam entre o mediano e o ruim.

O maior problema de A Última Invocação não está exatamente nas atuações ou nos efeitos especiais, mas em seu roteiro, que possui várias lacunas e não apresenta as passagens do tempo da melhor forma. Na verdade, todo o enredo parece estar inserido no mesmo período, ainda que haja um espaço de sete anos dentro da narrativa.

Outro problema de roteiro se relaciona com o elemento terror na trama. Acredito que o filme se demore demais em apresentar a história dos personagens que, infelizmente, não geram nenhuma empatia no público, uma vez que são apresentados de forma rasa e superficial, embora haja muitos minutos dedicados a esse tema. Por conta do tempo “perdido” em mostrar os personagens e seus problemas pessoais, as partes que deveriam ser assustadoras não têm o tempo de tela necessário para criar no espectador uma ligação mínima com a narrativa.

É até um pouco difícil de acreditar que A Última Invocação tenha saído da mesma mente que produziu Ringu, que até os dias atuais está entre os melhores filmes de terror já produzidos e que inspirou remakes tanto em Hollywood quanto em outros países da Ásia. Se pensarmos no filme de 1999, este se torna ainda pior, mesmo que não esteja interessada em fazer muitas comparações nesse momento. Cito Ringu somente para não assustar o público em relação ao trabalho de Nakata, que, embora possa não parecer, tem bons filmes em seu currículo cinematográfico.

Eu gostaria muito de ter gostado de pelo menos alguma coisa em A Última Invocação, porém, creio que não haja pontos positivos para citar sobre a obra. Talvez na grande tela do cinema a experiência seja diferente e gere algum divertimento ao espectador, porém, por hora, me faltam as palavras corretas para descrever o que senti ao assisti-lo.

Algo que me deixou ainda mais desgostosa nessa experiência foi a abordagem do luto no filme. Uma coisa que poderia ter sido bem explorada e utilizada para criar a atmosfera ideal para o gênero foi desperdiçada e diluída em uma “resposta” final rápida e anticlimática. Nem mesmo as autorreferências do roteiro funcionaram para gerar o clima desejado em um filme de terror.

Finalmente, e deixando um pouco de lado o meu sentimento pessoal sobre a obra, deixo bem claro que minha “missão” aqui não é dizer ao espectador que assista ou não a esse filme. Na verdade, incentivo nosso público a procurar por sessões dele no cinema, pois o contraponto de opiniões é um movimento importante na arte. A Última Invocação seguirá nos cinemas por algum tempo.


  Filme: 禁じられた遊び (A Última Invocação)
Elenco: Kanna Hashimoto, Daiki Shigeoka, Minato Shougaki, Maya Hotta, Uika First Summer, Yuki Kura, Shinobu Hasegawa, Kenta Izuka.
Direção: Hideo Nakata
Roteiro: Noriaki Sugihara
Produção: Japão
Ano: 2023
Gênero: Suspense, Terror
Sinopse: Um menino, após perder a mãe de forma trágica em um acidente, faz um feitiço de ressureição na esperança de reanimá-la. Porém, ele acaba despertando algo maligno.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Sato Company
Streaming: Indisponível
Nota: 2,0

Sobre o Autor

Share

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *