CRÍTICA – BLUE JASMINE

CRÍTICA – BLUE JASMINE

Sou um grande fã de Cate Blanchett. Certamente é uma de minhas atrizes favoritas. Por isso, ao assistir a melhor performance de sua carreira em TÁR e ficar maravilhado, busquei assistir algumas de suas atuações em filmes que ainda não tinha assistido. Notas Sobre um Escândalo, de 2006, foi um deles. Simples, mas forte de assistir. Mas o que me cativou mesmo foi sua atuação em Blue Jasmine, de Woody Allen, que eu diria ser uma espécie de treinamento, mesmo que mais bem-humorado, para a complexa e inquieta Lydia Tár.

Nessa tragicomédia de 2013, Blanchett dá vida a Jasmine, uma mulher ricaça que se vê obrigada a mudar para a casa da irmã mais humilde Ginger, brilhantemente interpretada por Sally Hawkins, após seu marido ser preso e sua fortuna ser confiscada pelo governo. Ela está deprimida, sem rumo e à beira de um ataque de nervos, afinal, é uma protagonista de Woody Allen. E, como sempre, Cate está impecável! O filme não seria o mesmo sem ela. Sua personagem é superficial, despreza a irmã, não esconde o desconforto em estar vivendo uma vida que ela considera inferior e está literalmente enlouquecendo, mas também consegue ser divertida com seus sarcasmos e ironias. O filme, inclusive, é um tanto mais melancólico do que as produções do diretor costumam ser, e são nesses momentos em que a nossa protagonista brilha mais. É um fato que ela é uma excelente atriz, mas sempre achei que ela tem um dom especial para fazer personagens descompensadas. É nessa insanidade que enxergamos a fragilidade de Jasmine diante de uma casca rígida de egocentrismo.  Além disso, suas cenas com Sally Hawkins, que traz os maiores alívios cômicos do filme, são engraçadíssimas. 

Ginger é uma irmã bondosa que não teve a mesma sorte de Jasmine e que a apoia mesmo tendo sido desprezada por tantos anos pela irmã que a considera cafona. Sua autoestima é baixa e isso a faz migrar entre relacionamentos caóticos em busca de um homem que a faça mais feliz. Hawkings, então, consegue transparecer a sua ingenuidade e inocência só com gestos ou olhares, ao mesmo tempo em que traz um caráter cômico e sapeca para a personagem de um jeito descomplicado e bem delicado. Daquelas personagens que temos vontade de colocar num potinho para proteger de todo mal e dar todo carinho do mundo. Ao longo do filme, percebemos que ela é muito mais do que uma mulher vulnerável, mas é de uma força que não precisa ser bruta para impor respeito.

O longa é, estruturalmente, de muito bom gosto. A montagem composta por flashbacks é dinâmica e ajuda a ligar o passado com o futuro, não entregando o enredo de mão beijada para o espectador, e auxiliando a construir o caráter moral dos personagens. Além disso, o uso da câmera foi essencial para algumas cenas, principalmente para as do apartamento de Ginger. O travelling entre alguns cômodos e uma câmera que acompanha os passos e ações dos personagens ajudam a compreender a lógica de condução e funcionamento dentro do apartamento. Certos enquadramentos e essa grande movimentação nos dão uma sensação mais claustrofóbica ali dentro. Já em lugares de maior poder aquisitivo, os planos são mais abertos e expansivos.

O filme entretém e consegue trazer boas críticas. Aquilo que poderia ser somente um surto de uma socialite rica e loira diante da “tragédia” que é se tornar uma mulher da classe média de São Francisco, aborda questões morais sobre distinções sociais, assédio, saúde mental e a busca pela felicidade. Mesmo sendo um excelente filme, pode não ser o melhor da carreira do diretor, mas com certeza tem uma de suas melhores protagonistas e é uma das melhores atuações da carreira de Blanchett, ficando atrás de TÁR e possivelmente de Elizabeth, que a catapultou para o estrelato.

Filme: Blue Jasmine
Elenco: Cate Blanchett, Sally Hawkins, Alec Baldwin, Bobby Cannavale, Louis C.K, Andrew Dice Clay
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Produção: Estados Unidos
Ano: 2013
Gênero: Drama, comédia
Sinopse: Jasmine (Cate Blanchett) vive na alta sociedade em Nova York. Sua vida muda completamente quando ela separa-se do marido e perde todo seu dinheiro. Com isto ela é obrigada a ir morar com sua modesta irmã em São Francisco. Agora, distante de seu luxuoso universo, Jasmine precisará reorganizar toda sua vida.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Gravier Productions
Streaming: Prime Video
Nota: 7,5

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