CRÍTICA – BRAVURA INDÔMITA

CRÍTICA – BRAVURA INDÔMITA

Desde seu início como cineastas, os irmãos Coen sempre demonstraram uma inclinação para o gênero do faroeste. Com obras como “Barton Fink” (1991) e “Onde os Fracos Não Têm Vez” (2007), eles construíram uma reputação de inovadores dentro do gênero, criando histórias que são, ao mesmo tempo, únicas e fiéis às convenções clássicas do faroeste. Em seu remake de “Bravura Indômita” (2010), os irmãos Coen mostram mais uma vez sua habilidade de mesclar elementos do gênero com seu próprio estilo de narrativa, criando uma experiência cinematográfica empolgante e divertida para o espectador.

Baseado no livro homônimo de Charles Portis, a história se passa no final do século XIX, quando uma jovem e determinada garota chamada Mattie Ross contrata o rude e bêbado caçador de recompensas Rooster Cogburn para ajudá-la a encontrar e capturar o assassino de seu pai, Tom Chaney. Acompanhados pelo esperto Texas Ranger LaBoeuf, eles enfrentam diversos desafios enquanto perseguem Chaney pelas terras do Oeste Selvagem.

O filme utiliza uma narrativa clássica do gênero western, com elementos familiares como a paisagem árida e desolada do Velho Oeste, tiroteios e perseguições a cavalo. No entanto, os irmãos Coen acrescentam seu humor ácido e irreverente à história, o que torna a experiência mais divertida para o espectador. A cena em que invadem a cabana, por exemplo, apesar da tensão dramática, consegue, pelo fato de o personagem de The Kid morrer de uma forma tão inesperada e irônica, adicionar um toque de humor negro à cena. Assim como a cena em que Matt Damon é arrastado pelos pés ou a discussão entre Rooster Cogburn e LaBoeuf sobre a idade e habilidades de tiro de Rooster também são bons toques de humor que compõem um dos elementos marcantes na carreira dos irmãos.

No entanto, mais do que o humor característico, ‘Bravura Indômita’ traz alguns simbolismos interessantes. Mattie Ross é a personagem central do filme e pode ser vista como uma metáfora para o amadurecimento dos Estados Unidos como nação. Ela é determinada, corajosa e inteligente, e está disposta a fazer o que for necessário para alcançar seus objetivos. Sua busca por justiça representa a busca do país por uma identidade nacional e por um lugar no mundo.

Rooster Cogburn, por outro lado, representa uma era mais antiga e tradicional, quando a justiça era feita através de meios mais diretos e violentos. Ele é um caçador de recompensas que segue seus próprios códigos de conduta, muitas vezes ignorando a lei e a ordem para alcançar seus objetivos. Essa tensão entre Mattie e Rooster pode ser vista como uma reflexão mais ampla entre a justiça pessoal e a justiça institucionalizada na sociedade americana, que é muitas vezes debatida em torno da interpretação da segunda emenda da Constituição.

Mattie representa a visão de que a justiça deve ser buscada dentro do sistema legal e que a lei deve ser respeitada e seguida. Ela está determinada a ver Chaney julgado pelo crime que cometeu e não se contenta com a ideia de simplesmente matá-lo. No entanto, quando ela sente que precisa agir para proteger a si mesma e a Rooster, ela não hesita em atirar em Chaney. Rooster representa uma abordagem mais pragmática, em que a justiça é buscada através de meios mais diretos e às vezes violentos.

Embora a resolução da história possa parecer um pouco apressada, a trama se concentra mais na relação entre os personagens principais do que em criar um grande conflito entre o herói e o vilão. Os irmãos Ned são introduzidos na trama rapidamente e podem parecer um atalho para resolver a história, mas isso pode ser visto como uma forma de enfatizar que o verdadeiro foco da história é a relação entre os personagens principais e não o conflito entre o herói e o vilão.

No clímax do filme, quando Mattie Ross enfrenta o assassino Tom Chaney ela atira em direção à câmera, uma referência ao filme “The Great Train Robbery”, de 1903, que foi um dos primeiros filmes a apresentar uma cena em que um personagem faz tal gesto, servindo de inspiração para diversos outros filmes. Outra referência interessante é na cena em que Mattie atravessa o rio a cavalo, uma homenagem a “Meu Ódio Será Sua Herança”, de Sam Peckinpah (1969), em que os personagens cruzam um rio a cavalo em uma cena semelhante.

No geral, ‘Bravura Indômita’ é uma combinação bem-sucedida de um clássico do gênero western com a marca registrada dos irmãos Coen, adicionando seu humor e estilo característicos à história. Utiliza elementos familiares do gênero para explorar questões mais profundas sobre a sociedade americana e seu processo de amadurecimento e evolução. O conflito entre Mattie e Rooster representa a tensão mais ampla entre a justiça pessoal e a justiça institucionalizada na sociedade americana, o que torna o filme uma reflexão interessante e perspicaz sobre a cultura e a história dos Estados Unidos.


Filme: True Grit (Bravura Indômita)
Elenco: Jeff Bridges, Hailee Steinfeld, Matt Damon, Josh Brolin, Barry Pepper, Domhnall Gleeson, Bruce Green, Roy Lee Jones, Paul Rae
Direção: Joel Coen, Ethan Coen
Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen
Produção: Estados Unidos
Ano: 2010
Gênero: Drama, Western, Aventura
Sinopse: Mattie Ross, uma menina de 14 anos, contrata o veterano xerife Rooster Cogburn para ajudá-la a encontrar Tom Chaney, o homem que assassinou o seu pai. A dupla briguenta não está sozinha em sua busca: um texano chamado LaBoeuf também vem monitorando Chaney por razões próprias. Juntos, o trio se aventura em um território hostil na caçada ao bandido.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Paramount Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 8,0

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