CRÍTICA – CANÇÃO AO LONGE

CRÍTICA – CANÇÃO AO LONGE

Nem tão longe assim 

“Canção ao Longe”, novo longa de Clarissa Campolina, segue Jimena (Mônica Maria), enquanto esta busca por seu lugar ao mundo. Seja em uma busca mais externa no sentido profissional, pouco explorada pois é o que menos interessa entre todas as buscas dela, seja em uma busca de caráter mais profundamente interior, como sua busca por seu autoentendimento como mulher negra filha de pai negro e mãe branca, a canção ao longe que Jimena ouve não é tão longínqua assim para quem assiste sua jornada. 

 

Identificação

Em graus muito diferentes, cada pessoa assistindo ao filme pode se identificar com alguma de suas buscas – o seu autoentendimento racial, a sua busca por independência do lugar onde sempre viveu, a sua busca por pertencimento, a sua busca por um pai (só vou falar isso para não dar spoiler de qualquer outro desdobramento), a busca amorosa, enfim… São tantas buscas. 

E é particularmente interessante que, para uma personagem que tanto busca seu lugar, suas buscas sejam tão “universais” ao mesmo tempo. E isso diz muito sobre nós como humanidade, especialmente em uma era pós-Covid na qual 50% dos brasileiros dizem se sentir solitários. Uso esse exemplo como um alento, de que muitas pessoas estão passandos por coisas muito similares, por mais que se sintam solitárias em suas buscas ou perdas. Sobre o tema, revisito aqui minha crítica sobre o filme “O Livro dos Prazeres”, que agora está disponível pela Globoplay! 

Não seria uma crítica minha sem alguma tangente, já sabem né. 

 

Roteiro compacto

De volta ao assunto central: o roteiro, assinado por Campolina, Caetano Gotardo e Sara Pinheiro, poderia muito bem deslizar gravemente ao se propor cobrir tantas buscas nos curtos 76 minutos de filme. No entanto, me surpreenderam muito positivamente. Apesar de um ritmo calmo, não perdem tempo, e, para mim, conseguem endereçar todas as buscas ao final do filme. 

Isso não significa que tudo está finalizado e embalado com um lindo laço, não estamos em Hollywood onde todos os arcos dramáticos precisam ser finalizados ao término do filme. É comum no cinema independente brasileiro não termos esses finais fechados tão ordinários ao cinema mainstream americano. E acho isso super válido também, afinal a história da Jimena, apesar de fictícia, representa a de muitas brasileiras como ela, e não acaba ali depois de 76 minutos. 

 

Conexões e Conclusões

“Canção ao Longe” foi um filme que levei uns dias para escrever a crítica. Deixei respirar um pouco antes de refletir sobre o que vi. Algumas críticas que li acharam que o roteiro do filme foi enxuto demais e acabou por afetar a conexão. Mas isso acho que é uma coisa tão subjetiva, e depende muito das experiências pessoais de quem assiste. Eu sou uma mulher branca que mora em São Paulo. Jimena é uma mulher negra de pais de raças diferentes que mora em Belo Horizonte.  Várias buscas dela eu jamais entenderei no âmago do meu ser. Mas várias da buscas dela são buscas que eu já vivi também. E por isso eu não precisei de mais nada no roteiro para me conectar com ela. A tridimensionalidade dada à personagem já foi suficiente. 

 

Poster Canção ao Longe Filme: Canção ao Longe
Elenco: Mônica Maria, Margô Assis, Jhon Narvaez, Matilde Biagi, Carlos Francisco, Ricardo Campos
Direção: Clarissa Campolina
Roteiro: Caetano Gotardo, Sara Pinheiro, Clarissa Campolina
Produção: Brasil
Ano: 2023
Gênero: Drama, Ficção
Sinopse: “Em Canção ao Longe, a jovem Jimena busca sua identidade. O filme acompanha o convívio da jovem com a mãe e a avó, mulheres brancas da classe média, e a troca de cartas com o pai, um homem estrangeiro e negro, com quem a jovem se parece. Buscando libertar-se do sentimento de inadequação, Jimena reescreve suas relações familiares, e cria outras formas de viver os vínculos amorosos, de amizade e de trabalho. Através do seu olhar, o filme pensa questões sobre classe, família, tradição, raça e gênero.” (Sinopse Oficial, Vitrine Filmes)
Classificação: 14 anos
Distribuidor: Vitrine Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 8,0

*Estreia nos cinemas no dia 06 de julho de 2023*

Sobre o Autor

Share

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *