CRÍTICA – DEPOIS DE SER CINZA

CRÍTICA – DEPOIS DE SER CINZA

Todas as Mulheres do Mundo

“Depois de ser cinza”, novo longa de Eduardo Wannmacher, com roteiro de Leo Garcia, traz a história de Raul (João Campos) a partir de seus relacionamentos com três mulheres – Isabel (Elisa Volpatto), Suzy (Branca Messina) e Manuela (Branca Lourenço). E aqui, claro, é inescapável a inspiração em Todas as Mulheres do Mundo. 

Por meio de cortes nas histórias, podemos aos poucos entender como Raul foi parar na Croácia de Isabel nas cenas iniciais do filme. O filme é uma jornada que se aprofunda na figura interpretada por João Campos. Mas para aonde nos leva essa jornada? 

 

Falta de conexão

Como espectadora, a minha opinião é que Raul não me convenceu como alguém com uma história interessante o suficiente para que eu quissesse acompanhá-lo. Queria muito mais saber sobre Isabel. Ou até sobre a Manuela, arriscando sua profissão daquele jeito. Mas o filme tentava muito fazer com que Raul fosse interessante e ele simplesmente não conseguia atravessar a tela para mim. 

Raul não era uma pessoa particularmente legal ou boa, mas isso no cinema não é necessário. Muitas vezes a gente torce e se interessa por pessoas que não são tão legais ou tão boas, então a questão não era essa. Para mim, foi uma combinação de escolhas de direção, escolhas de roteiro e escolhas do ator que, novamente, para mim, não funcionaram. 

Elas acabaram criando um homem genérico progressista de Pinheiros em São Paulo (eu sei que o filme não se passa em São Paulo, mas eu moro aqui e não no RS) que não sabe respeitar os limites alheios e se declara feminista enquanto desrespeita as mulheres ao seu redor. No fim, Raul para mim era isso – genérico. 

 

As mulheres

Leves spoilers à frente: Senti falta de mais tridimensionalidade nas mulheres, o desenvolvimento de personagens dela é muito raso e, para mim, só estão lá como acessório para a história de Raul. Suzy é a que mais foi submetida ao olhar masculino, da menina cool, com a nudez sem propósito, mas também foi a única que se desvencilhou de Raul para ter um propósito para além dele, por exemplo. 

Já Manuela, o único traço de personalidade dela que é mostrado para além da sua relação com Raul é um distanciamento emocional em prol do desejo sexual. Isabel, por fim, é a garota fugindo de um problema que vai ajudar Raul a se resolver, outro clichê cinematográfico. 

Apesar da proposta do filme é, aparentemente, desenvolver a história de Raul a partir do ponto de vista dessas três mulheres, não consegui sacudir esse sentimento acima. No fim, todas elas são arquétipos femininos um tanto conhecidos do cinema.

As coisas boas

Esse problema com o Raul tornou o filme um pouco desafiador. Mas muitas escolhas foram também positivas: as escolhas de edição, a locação na Croácia, os pequenos momentos poéticos, e a Branca Lourenço e a Elisa Volpatto. 

A decisão de segmentar a história ao invés de fazer três blocos de começo, meio e fim para Isabel, Suzy e Manuela foi acertadíssima. Foi um recurso de ajudou a segurar o roteiro e o problema com o Raul como protagonista, as quebras ajudaram a levar adiante o mistério de como ele tinha machucado alguém. 

A locação na Croácia foi uma surpresa positiva, ela adiciona uma quebra de expectativas e um ar de novidade ao arco narrativo que se passa lá. Dá o frescor necessário ao arco presente, mais do que se esse se passasse na mesma cidade das outras personagens. Isso enriqueceu tanto o filme quanto a personagem da Isabel, dando um pouco mais de tridimensionalidade à ela. 

Os pequenos momentos poéticos, como o isqueiro que aparece em todas as histórias, a direção de fotografia e o olhar delicado da câmera, contribuem para trazer essa história para a realidade. 

Por vim, Elisa Volpatto e Branca Lourenço foram, para mm, os destaques do elenco. Sem exagero e sem contenção exagerada, elas conseguiram transmitir muito mais com seus olhares e gestos do que lhes foi dado para suas personagens, e eu queria ter seguido suas histórias, principalmente a de Isabel (Elisa Volpatto), mais do que a de Raul. 

 

Pensamentos Finais

Primeiramente, apoie o cinema brasileiro. Eu sempre quero fazer cabines e críticas de filmes brasileiros pois só tendo mais mídia e mais salas de cinema que mais gente vai assistir e mais filmes nossos são produzidos. Então assista! 

Mesmo que eu não tenha me convencido por Raul, sua experiência pode ser diferente. Filmes são, no fim do dia, experiências subjetivas. As resenhas estão aqui para te guiar e te dar uma ideia se é algo que você vai gostar ou não. E também estão aqui para que você, pessoa que está lendo, discorde de mim. 

“Depois de ser cinza”, apesar das minhas críticas, trouxe coisas muito interessantes e mostrou o potencial de  Wannmacher para futuras produções, e espero ver seu trabalho nas telas novamente. 

 

Depois de ser cinza - Poster Filme: Depois de ser cinza
Elenco: Elisa Volpatto, Branca Messina, Silvia Lourenço e João Campos
Direção: Eduardo Wannmacher
Roteiro: Leo Garcia
Produção: Brasil
Ano: 2020
Gênero: Drama, Experimental
Sinopse: “Três mulheres (Elisa Volpatto, Branca Messina e Silvia Lourenço), de histórias completamente distintas, têm uma coisa em comum: amaram e se relacionaram com o mesmo homem. Sob o ponto de vista destas mulheres, através de uma estrutura intrincada de idas e vindas no tempo, vem à tona a história de Raul (João Campos).” (Sinopse Oficial, Vitrine Filmes)
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Vitrine Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 6,5

*Estreou nos cinemas no dia 03 de agosto de 2023*

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