CRÍTICA – DOS 3 AOS 3

CRÍTICA – DOS 3 AOS 3

Dos 3 aos 3 é um documentário brasileiro, dirigido por Pablo Lobato e que possui um proposta clara sobre a abordagem a ser utilizada em boa parte da primeira infância de uma criança. O filme chegou aos cinemas no dia 04 de maio de 2023 e tem como seus protagonistas, se assim podemos chama-los, a artista plástica, pedagoga e mãe, Bianca Bethonico junto a seu filho Ravi, o qual acompanhamos dos 3 meses de vida até seus 3 anos.

Desde 2019, quando descobrimos (minha esposa e eu) que ela estava grávida, me debruço sobre temas como gestação, maternidade, paternidade e tudo o mais que envolva esta relação com um bebê e seu desenvolvimento. Nessa busca por conhecimento nos deparamos com diversas ideologias: Montessoriana, Criação Neurocompatível e, até mesmo, o Método Pikler. Este último é, de certa forma, o objeto de estudo deste documentário.

É evidente que todas estas metodologias/ideologias citadas possuem um número enorme de benefícios, mas a verdade é que a todas elas, a qual escolher, terá que adaptar ao seu dia a dia e à demanda de seu bebê. E é aí que está o principal problema de “Dos 3 aos 3”. O filme, com um alto teor panfletário, enxerga o método Pikler e o defende como se este fosse o único método a ser seguido na criação de um bebê nos seus primeiros anos de vida, e posso afirmar que não o é. Não há como conceber que uma metodologia que deixa o bebê tão distante de sua mãe e de seu pai seja algo benéfico. Mas é assim que a câmera de Pablo Lobato capta as cenas do Ravi. Com muita frieza. Dando uma impressão de que estamos diante de um experimento sem qualquer parcela de amor envolvido.

Se no paragrafo acima cheguei a citar a palavra pai, não é devido ao documentário, já que, aqui, o pai, se é que aparece – o documentário não deixa claro –, não interage em absolutamente nada. E aqui vai uma crítica pessoal, objeto de um estudo em processo sobre a representação da figura paterna no cinema, pois mais uma vez nos deparamos com a ausência do progenitor. E mesmo que o foco, evidentemente, não esteja nele, estamos falando de uma criança filmada dos seus 3 meses de vida aos seus 3 anos. É óbvio, então, que as intervenções da mãe e do pai tenham sido frequentes. E onde estão? Por qual motivo não foram filmadas?

Tem muitas passagens que percebemos uma carga teórica forte passada pela Bianca sobre o método Pikler. Mas a verdade é que isso, por si só, não significa muita coisa, haja vista a quantidade de livros e cursos sobre treinamento do sono para o bebê – uma picaretagem sem tamanho. Este documentário deixa de lado a essência que é acompanhar os passos do Ravi para, então, vender uma fórmula mágica de desenvolvimento do bebê, sobretudo o seu desenvolvimento motor.

Distância e frieza nunca poderiam ser associadas em um obra que trata sobre infância e que trata, de algum modo, sobre o maternar. É um incomodo real me deparar com um filme que possua esse olhar. Isso sem falar na falta de senso crítico com a realidade das mães brasileiras. Ao olhar o estilo de vida de Bianca, em uma casa ampla, com uma grande área verde, não podemos refletir isso para a nossa sociedade como um todo.

Outro problema deste documentário é a sua duração diminuta. 70 minutos para explorar 3 anos da vida de uma criança e seu desenvolvimento é muito pouco. E se torna ainda mais ínfimo quando este tempo é dividido entre captar Ravi e o seu explorar dos ambientes e as diversas reuniões online que Bianca fazia.

Aqui em casa seguimos muito da Criação Neurocompatível e não nos arrependemos. Acreditamos no respeito àquele individuo que já tem suas vontades e, sobretudo, suas demandas particulares. Além disso essa “metodologia” que seguimos consiste no diálogo e no afeto, outro ponto que faltou neste documentário. Há pouca interação mãe/filho. Existe uma passagem interessante onde o Ravi se desequilibra, cai e chora. A mãe, neste estudo que está realizando – a pratica do Método Pikler em seu filho mais novo -, chega a se sentir um pouco mal em não ter o acolhido, mas em uma conversa por vídeo chamada é incentivada a permanecer distante para dar autonomia a ele. Embora este momento em questão – a queda de Ravi -, não tenha sido, de fato, grave, me pergunto sobre os outros momentos onde deva ter precisado de uma intervenção mais direta. Afinal Ravi mora em uma local propenso a quedas, topadas e outros acidentes que é normal na vida de qualquer criança. Ao final Dos 3 aos 3 deixa muitas lacunas ao tentar mostrar a eficiência de um método.

Eu sigo acreditando no calor do afeto, no respeito e no acolhimento. Este é o caminho que seguimos com nossa filha, entendendo cada etapa, as suas frustrações e as suas conquistas.


Filme: Dos 3 aos 3
Direção: Pablo Lobato
Roteiro: Pablo Lobato
Produção: Brasil
Ano: 2023
Gênero: Documentário
Sinopse: Dos 3 aos 3 acompanha o crescimento de Ravi, dos três meses aos três anos de vida, a partir dos cuidados e do olhar atento da mãe, estudiosa da abordagem Pikler no Brasil. Ao longo da primeira infância do filho, Bianca coloca em prática o legado e os ensinamentos da pediatra vienense Emmi Pikler, onde o respeito à individualidade dos bebês, a promoção da autonomia através do brincar livre e a presença amorosa nos momentos de cuidados reforçam os vínculos e estimulam o pleno desenvolvimento motor, cognitivo, emocional e social da criança.
Classificação: Livre
Distribuidor: Embaúba Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 4,5

Sobre o Autor

Share

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *