CRÍTICA – FÉRIAS TROCADAS

CRÍTICA – FÉRIAS TROCADAS

No cenário das comédias nacionais recentes, Férias Trocadas surge como mais uma aposta do talento irreverente de Edmilson Filho. Conhecido por trabalhos como Cine Holliúdy, Shaolin do Sertão e Cabras da Peste, o humorista cearense apresenta mais uma vez sua marca registrada de ‘humor exagerado’ neste novo longa. A trama gira em torno de duas famílias que, por um engano, acabam trocando de hotéis durante as férias em Cartagena. José Eduardo (Zé), interpretado pelo próprio Edmilson, ganha uma viagem para um hotel simples no meio do nada. Já o outro José Eduardo (Edu), vivido também pelo mesmo ator, está destinado a desfrutar de um resort luxuoso. Porém, uma troca de reservas faz com que as duas famílias vivenciem experiências opostas às esperadas.

A partir de referências a episódios reais, Férias trocadas tem a capacidade de criar piadas a partir dessas referências que ganharam repercussão no Brasil. Um ótimo exemplo é quando Edu, o personagem rico interpretado por Edmilson, reclama que o aeroporto está parecendo uma rodoviária – uma referência direta às polêmicas palavras elitistas de Lilian Aragão em 2019. A partir desse cenário, o filme explora a dicotomia entre o comportamento de uma pessoa de classe mais abastada e alguém que, de repente, tem acesso a um mundo bem diferente do seu habitual. Seja no aeroporto ou no próprio hotel de luxo, o roteiro utiliza esses contrastes sociais para gerar algumas piadas.

Enquanto Edmilson Filho se mostra extremamente competente no humor caricato e exagerado que propõe, sua performance acaba sendo desigual na construção dos dois personagens principais. Como Zé, ele reitera seu talento consolidado em trabalhos anteriores, extraindo ótimo timing cômico. Porém, ao tentar imprimir um tom mais sério em Edu, com mudanças inclusive na voz, o humorista peca em sua atuação. Os momentos em que Edmilson busca explorar o humor de situações constrangedoras e de “vergonha alheia” com Edu acabam sendo os pontos fracos de sua atuação. É quando ele retorna às suas raízes de comédia alucinada e despropositada que Férias Trocadas realmente brilha.

Entretanto, o maior entrave de Férias Trocadas acaba sendo seu próprio roteiro, que impõe barreiras significativas na sustentação da comédia. A premissa central de comparar os comportamentos de uma família humilde vivendo como ricos e vice-versa inicialmente se mostra promissora. Contudo, ao insistir nesse mesmo conflito de forma repetitiva durante quase todo o filme, apenas alternando as situações, o roteiro acaba gerando uma sensação de estagnação na trama.

Não bastasse isso, mesmo que as cenas não tragam necessariamente progressão narrativa, elas poderiam se sustentar se ao menos fossem consistentemente engraçadas e trouxessem uma constante renovação do humor. Infelizmente, este também é um ponto fraco, com o filme oscilando drasticamente na obtenção de risos, culminando em piadas que se tornam repetitivas e desgastadas. É somente nos momentos finais, quando a trama se vê obrigada a criar tensões adicionais – como quando Edu percebe que houve uma troca em suas férias ou quando as duas famílias estão próximas gerando expectativa de conflito direto – que Férias Trocadas consegue momentaneamente recuperar certo dinamismo.
Ainda assim, trata-se de uma pena que uma premissa rica em possibilidades cômicas acabe sendo mais uma vez prejudicada por um roteiro que não soube extrair todo o seu potencial, deixando o espectador com a sensação de oportunidades desperdiçadas.

Quando o inevitável conflito entre as famílias finalmente acontece, o filme tenta criar tensões dramáticas nos personagens, que são prontamente resolvidas de forma apressada. É nesse momento que o diretor, Bruno Barreto, também começa a enforcar lições de moral bastante simplistas e infantilizadas para os protagonistas. Não que essas mensagens em si sejam ideologicamente problemáticas, mas elas soam tão óbvias e básicas que acabam gerando mais um incômodo do que qualquer reflexão verdadeira. Em vez de momentos edificantes, esses desfechos moralizantes criam uma sensação de “vergonha alheia” que enfraquece ainda mais o já combalido roteiro.

No fim, Férias Trocadas acaba sendo apenas um filme razoável. Apesar do inegável talento cômico de Edmilson Filho e de uma premissa com possibilidades cômicas, o longa míngua justamente por um roteiro que não soube extrair o máximo de suas situações. Entre piadas desgastadas, tramas estagnadas e desfechos moralizantes forçados, o que poderia ter sido uma deliciosa sátira sobre diferenças sociais acaba ficando pelo caminho. Ainda assim, Edmilson Filho certamente entrega bons momentos para se divertir.


FilmeFérias Trocadas
Elenco: Edmilson Filho, Carol Castro, Matheus Costa, Aline Campos, Klara Castanho, Gustavo Mendes
DireçãoBruno Barreto
Roteiro: Edmilson Filho, Juliana Araripe, Bia Crespo, Dario Pato, Otávio Martins
ProduçãoBrasil
Ano: 2024
Gênero: Comédia
Sinopse: José Eduardo, conhecido como Zé, é proprietário de uma pequena escola de futebol e ganha uma viagem com sua esposa e filha blogueira para Cartagena em um sorteio. José Eduardo, conhecido como Edu, é um empresário bem-sucedido que está indo de férias com sua esposa e filho. A confusão começa quando, por engano, Zé fica no hotel de luxo de Edu, que, por sua vez, acaba no simples albergue de Zé. Essa troca proporciona experiências às duas famílias que elas não estavam acostumadas, mas que acabam por uni-las ainda mais.
Classificação12 anos
Distribuidor: Paris Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 5,0

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