CRÍTICA – IN WATER

CRÍTICA – IN WATER

As obras dirigidas por Hong Sang-Soo geram, em sua maioria, geram curiosidades devido a um tipo particular de cinema que ainda não foi completamente compreendido, apesar das apresentações acadêmicas e textos temáticos em festivais. Seu estilo, caracterizado por práticas de zoom, encenações em ambientes afetuosos, o realismo do cotidiano e os passos que dialogam com um distanciamento físico com a própria câmera, constituem traços marcantes do seu cinema. Porém, cada filme do autor deve ser absorvido como um material singular, caso contrário, o pensamento crítico acabará por manter um padrão em suas obras, sem desenvolver ideias interessantes dentro da experiência com o material artístico. Em seu novo filme, intitulado “In Water” e lançado no Festival de Berlim, Hong Sang-Soo escolhe a histórica câmera fixa para a cena de abertura. No entanto, desta vez, as imagens carecem de nitidez, uma escolha estética que se mantém não apenas na cena inicial, mas permeia quase todo o filme por meio da sua captação. O espectador é envolto em uma atmosfera que se assemelha a uma pintura impressionista do século XIX, ou talvez aos pensamentos de um dos cineastas mais criativos na contemporaneidade.

Nas representações fílmicas anteriores do autor, ele era reconhecido por suas abordagens lineares ao retratar o cotidiano em interação com a encenação. Nesta obra, seu cenário é totalmente pictórico, trazendo uma “nebulosidade” através da profundidade de campo, que gera intersecções nas imagens por meio das cores e movimentos capturados pela câmera. De certa maneira, estamos diante de uma experimentação do diretor, que opta por esse desfoque a fim de introduzir novos símbolos imagéticos. No entanto, quando o personagem principal está dentro de sua casa, seu campo criativo e estreito, observamos uma diminuição dessa técnica para realçar certas interações. Nesses casos, os três personagens debatem sobre uma possível conclusão de uma obra, lançando palavras que acrescentam banalidade e também pensamentos intrigantes.

Com uma duração de 61 minutos, acompanhamos o protagonista por meio de imagens que não podemos visualizar completamente. No entanto, nessas imagens, desvendamos o personagem que aspira reproduzir um filme realista, também refletindo um tipo de cotidiano baseado em suas memórias. Mesmo quando os três personagens permanecem envolvidos em diálogos longos, o protagonista parece identificar-se com as imagens fora do plano, fixando seu olhar no extra-campo. Quase imóvel, ele observa o mar, em busca de uma ação que capture uma realidade que existe no seu território interpretativo, até avistar uma mulher recolhendo lixo na praia, desacompanhada de todas aquelas pessoas que ocupam a praia.

No dia seguinte, ao se levantar para gravar o material para seu trabalho, mesmo em sua casa, o desfoque persiste. Sem grande ansiedade ou momentos climáticos, ele sai do sofá para realizar sua tarefa dedicada: sua obra. Ao chegar à praia, fornece orientações à atriz e expressa sua visão para aquela composição. No entanto, em meio ao processo, ele caminha em direção ao mar, numa tentativa de se integrar à correnteza. Sua interpretação desenvolve um prazeroso diálogo com as imagens nebulosas que vimos durante todo o filme, criando até mesmo uma fusão do seu corpo em contato com as distorções pictóricas do mar. A plateia que acompanha aquela ação é reduzida a um fotógrafo, uma atriz e uma câmera; mesmo assim, ele decide se unir à câmera, e o filme se encerra com uma tela escura, dessa vez, sem desfoque.


Filme: In Water
Elenco: Seok-ho Shin, Seong-guk Ha, Seung-yun Kim; Kim Min-hee
Direção: Hong Sang-soo
Roteiro: Hong Sang-soo
Produção: Coreia do Sul
Ano: 2023
Gênero: Drama
Sinopse: Um jovem ator explora os arredores, espera que surja a luz certa e observa o horizonte da costa.
Classificação: 12 anos
Distribuição: Jeonwonsa Film Co
Streaming: Indisponível
Nota: 9.0

 

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