CRÍTICA – INFERNINHO

CRÍTICA – INFERNINHO

INFERNINHO: A CONSTANTE BUSCA HUMANA POR IDENTIDADE

 

“Inferninho” (2018) é um mergulho profundo em um universo único onde personagens marginalizados se refugiam em um bar incomum e repleto de segredos, a produção relaciona a marginalização social, a sexualidade e a violência de uma forma detalhista e complexa. Convidando-nos a entrar em um labirinto de emoções e experiências, explorando temas como amor, solidão e busca por identidade. Este é um ponto crucial na construção da personagem principal niponordestina travesti Deusimar, herdeira do bar Inferninho, que passa por um enredo de busca por identidade ao atrelar dependência emocional e solidão, em relação com o marinheiro Jarbas.

A direção de arte entrega uma estética visual marcante, cada cena é cuidadosamente construída, entregando no enredo detalhes simbólicos em uma produção audiovisual que convida a reflexão durante toda obra. Ambientes que refletem a angústia e a melancolia presentes nos arcos dos personagens, a trilha sonora complementa a atmosfera angustiante criando uma encruzilhada de sentimentos ao intensificar a experiência. Uma das maiores qualidades de “Inferninho” localiza-se em sua criatividade e surrealismo, a trama nos transporta para um universo particular, onde a realidade e a fantasia se misturam de maneira entrelaçada. Essa abordagem criativa permite explorar temas profundos e enigmático de forma não convencional, desafiando as expectativas do público e estimulando a reflexão.

A escolha em valorizar uma personagem travesti no papel principal é uma contribuição para a ampliação da diversidade de narrativas, porém a escolha de por um ator no papel colocando um homem cis para representar uma personagem travesti é contraditória com relação ao segmento da obra e a desvaloriza pelo fato de existir atrizes travestis capazes de encenar. Ademais a narrativa cansada de manter um mocinho com traços europeizados, limitando uma condição imposta de romance, embora a escolha possa se configurar também numa crítica a padrões de beleza. Pela falta de responsabilidade com a atuação de fato representativa os personagens do filme são retratados de forma superficial e estereotipada, sem uma exploração adequada de suas motivações e desenvolvimento.

O filme nos desafia a sair da zona de conforto, a enfrentar nossos medos e a enfrentar a complexidade da existência humana, desafiando as convenções sociais e nos convidando a abraçar a complexidade da vida. Sendo uma experiência cinematográfica que nos faz refletir sobre nossas próprias vidas e caminha conosco para encontrar beleza de forma sensível e profunda. A fotografia, por sua vez, reflete a dualidade presente na busca pela identidade ao combinar luz e sombra como se fosse uma dança. Com planos meticulosamente compostos e enquadrados expressivos somos levados a explorar os recantos mais obscuros da alma humana, mergulhando em um universo surrealmente inquietante.

Para conseguir ser atravessado pela obra é necessário uma entrega completa a experiência, o que pode se tornar um desafio para o público, porém quando a atenção não é impedida por fragmentos da narrativa ou pela falta de progressão linear, o resultado é um mergulho numa obra original e singular. A busca pela identidade é o fio condutor dessa trama complexa e profunda, “Inferninho” nos leva a questionar a forma como lutamos com a pressão de ser em contrapondo com a dádiva de ser quem somos e como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor. Através de personagens multifacetados e suas jornadas de autodescoberta, somos confrontados com nossas próprias esperanças e inquietações existenciais.

Em suma, “Inferninho” é uma obra cinematográfica que vai além dos limites do convencional, nos transportando para um universo de reflexões e inquietações. Sua abordagem técnica, poética e filosófica nos desafia a questionar nossas próprias identidades e a buscar uma compreensão mais profunda do que significa ser humano. Ao enfrentar o desconhecido e aceitar a complexidade de ser o que é, o filme nos convida a uma jornada de autoconhecimento e aceitação. “Inferninho” é um convite para explorar o bloqueio da alma humana e encontrar a beleza mesmo nas sombras mais profundas. É uma obra que nos lembra que a busca pela identidade é uma jornada contínua e que, ao compreender e abraçar nossa essência, podemos encontrar uma liberdade genuína e plena.


Inferninho (filme) – Wikipédia, a enciclopédia livre Filme: Inferninho
Elenco: Yuri Yamamoto, Demick Lopes, Jotacilio Martins, Paulo Ess, Rafael Martins, Samya De Lavor, Tatiana Amorim e William Pereira Monte
Direção: Guto Parente e Pedro Diógenes
Roteiro: Guto Parente e Pedro Diógenes
Produção: Brasil
Ano: 2018
Gênero: Drama
Sinopse: Deusimar é a dona do Inferninho, bar que é um refúgio de sonhos e fantasias. Ela quer deixar tudo para trás e ir embora, para um lugar distante. Jarbas, o marinheiro que acaba de chegar, sonha em ancorar, fincar raízes. O amor que nasce entre os dois vai transformar por completo o cotidiano do bar e a vida de seus funcionários: Luizianne, a cantora, Coelho, o garçom, e Caixa-Preta, a faxineira.
Classificação: 12 anos
Distribuidor: Embaúba Filmes
Streaming: Filmicca
Nota: 6,9

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