CRÍTICA – JOHN WICK 4: BABA YAGA

CRÍTICA – JOHN WICK 4: BABA YAGA

John Wick 4 estreia hoje nos cinemas brasileiros. Lembro que quando John Wick Parabellum foi lançado, em 2019, eu ainda não tinha sido fisgado pela franquia, mas me forcei a assistir aos dois primeiros filmes – sorte a minha – e a mágica aconteceu. É impressionante como o ator Keanu Reeves, conhecido por filmes de ação como Caçadores de Emoção (1991), Velocidade Máxima (1994) e, sobretudo, a trilogia Matrix (que conta não com 3, mas com 4 filmes), consegue com este novo personagem criar algo inédito e nada parecido com seus personagens dos filmes citados: Johnny Utah, Jack Traven e Neo, respectivamente.

Como já pôde ser observado, o ator encara esse personagem com tamanho afinco que suas cenas são quase todas executadas sem dublês, exceto para aquelas em que a expertise da profissão se faz necessária. Mesmo estando diante do quarto filme é admirável como o ator e seu personagem, e aqui são indissociáveis mesmo, conseguem prender a atenção de todos em uma sala de cinema. Se já houve um momento em que os nomes Keanu Reeves e Neo pareciam se complementar, o mesmo vale para John Wick, que já pode ser considerado uma “extensão” do ator.

Assim como seus antecessores, John Wick 4 começa dias após aos acontecimentos no desfecho do terceiro filme. Com direito a um discurso efusivo de Bowery King (Laurence Fishburne) e muita pirotecnia, o espectador já entende que o quarto filme da franquia seguirá a mesma linha dos demais e não deixará faltar ação em um minuto sequer. A expectativa vai sendo alimentada, o que pode ser traiçoeiro, mas não o é. Para a nossa alegria!

Abusando de cenas ao nascer do sol e de toda a luz crepuscular que vem junto, fica claro que o maior desejo de John Wick é a chegada de um novo dia, o despertar para uma nova vida. O título do terceiro filme da franquia já dava esses sinais quando utilizou a palavra em latim Parabellum que, em uma citação do escritor romano Flávio Vegécio: “Si vis pacem, para bellum”, tem o entendimento de que para conseguir a paz é preciso guerra. E quem acompanha a franquia sabe que este é o quarto filme em que os dias de John Wick se repetem: a sua cabeça sempre a prêmio e centenas de assassinos na sua cola. Guerra, então, tem sido o resumo de tudo o que acompanhamos até agora.

Neste novo capitulo, apesar de um roteiro mais simples e sem grandes histórias paralelas, temos sempre a impressão de que o caminho percorrido pelo nosso protagonista está cada vez mais estreito e o som frequente de um “tic tac” reforça ainda mais a ideia de que o tempo está se esgotando para John Wick e que seu fim parece inevitável.

O longa faz uso do que já havia sido feito no segundo e terceiro filme que é explorar outros ambientes. A casa de John Wick é Nova York, mas nem por isso o filme fica preso a isso. Viajamos juntos para Japão, Alemanha e finalizamos em Paris, na França. Pode parecer capricho da direção, mas essa escolha diz muito sobre o mundo aberto pelo qual John trafega. Mas, para além disso, o diretor Chad Stahelski pontua cada cidade visitada por John com cenas de ação memoráveis. E como em todos os outros filmes da franquia a ação aqui é desenfreada e recheada de artes maciais com direito a muitas imobilizações e chaves de braço (em determinado momento passa do ponto e fica maçante), manipulações de diferentes armas de fogo e até duelos de espada.

Pouco a pouco a oferta pela cabeça de John Wick vai aumentando. E este é outro elemento que corrobora com o tempo cada vez mais escasso do protagonista. A cada nova oferta – que nesta altura já ultrapassa os 20 milhões – a violência vai ficando mais escancarada. As sequências na boate em Berlim e no Arco do Triunfo em Paris, por exemplo, são de tirar o folego. Seja pelas cenas realmente chocantes ou pela passividade dos jovens berlinenses e dos transeuntes franceses, como também por tudo o que compõe cada um desses momentos. Enquanto que em Berlim a música alta embala uma verdadeira batalha, a sinfonia francesa marcada pelas buzinas, o cantar de pneus e o ronco dos motores, mostra toda a urbanidade que o filme também possui. Mas nada se compara ao plano-sequência em um casarão em reforma que é captado por uma câmera aérea exigindo, assim, um nível de concentração impecável para que todos os movimentos e posições sejam perfeitamente encaixadas.

Uma boa surpresa – algo que a franquia não cansa de entregar – é a escalação do ator Bill Skarsgård para viver o personagem “Marquis” (Marquês), o maior antagonista deste longa. O ator empresta seu 1,92 metros de altura para um personagem que tem poucas falas e que, por isso mesmo, precisa sempre demonstrar poder para além da posição que já ocupa naquela estrutura criada pela “Alta Cúpula”. Ternos de cortes finos, obras de artes faraônicas, tudo isso impõe um certo respeito, mas o ator soube dosar cada movimento que fazia para incrementar ainda mais potência para o seu personagem, como fica bem evidenciado na cena entre o Marquês e o Mr. Nobody (Shamier Anderson).

Personagens como Winston (Ian McShane), Charon (Lance Reddick) e Bowery King permanecem na trama como porto seguro para as transições, pois nem mesmo Keanu Reeves conseguiria ter folego para uma câmera o acompanhando por quase três horas de filme. Outros personagens adicionados aqui, com o propósito, como já citei, de mostrar o mundo aberto em que a história se passa e, com isso, deixar pontas soltas que podem ser melhor desenvolvidas em outras oportunidades – um exemplo claro disso é o spin-off Ballerina que será protagonizado por Ana de Armas e já conta com Keanu Reeves e Ian McShane no elenco –, não só renova a franquia como, nos casos dos personagens Mr. Nobody – e seu cachorro – e, principalmente, Caine (Donnie Yet), um velho amigo de John, favorecem ao espetáculo que é feito neste novo filme.

Uma fala especifica do personagem Marquês quando diz que matar a “ideia” John Wick é muito mais importante do que matar o próprio John Wick reflete muito sobre o que foram esses quatro capítulos. John Wick se mostrou muito mais do que um assassino de primeira linha. O seu nome ganhou novos significados. E o desfecho deste longa passa muito por isso também.

Ao melhor estilo faroeste o duelo final entrega tudo o que pode.

John Wick 4 mesmo sem ser inventivo consegue surpreender. Apresenta em suas quase três horas tudo o que, de certa forma, vimos nos três primeiros filmes, mas aqui tudo junto e misturado – e funciona.

O quinto capitulo ainda é uma incógnita. Nem o diretor e nem o astro principal confirmaram que um novo filme virá. Em todo o caso sugiro que fiquem até o final dos créditos, pois há uma cena – maldito seja quem inventou as inoportunas cenas pós-créditos – que dará sentido a algo que, provavelmente, assim como eu, você ficará se indagando durante o filme.

Agora corra e garanta já seu ingresso. John Wick 4 é para assistir no Cinema!!!


Filme: John Wick: Chapter 4 (John Wick 4: Baba Yaga)
Elenco: Keanu Reeves, Laurence Fishburne, George Georgiou, Lance Reddick, Clancy Brown, Ian McShane, Marko Zaror, Bill Skarsgård, Donnie Yen, Hiroyuki Sanada, Shamier Anderson, Rina Sawayama
Direção: Chad Stahelski
Roteiro: Shay Hatten, Michael Finch, Derek Kolstad
Produção: Estados Unidos
Ano: 2023
Gênero: Ação, Policial, Suspense
Sinopse: Enquanto a recompensa por sua cabeça aumenta de preço rapidamente, ele terá que superar os adversários mais mortais e violentos do submundo, enfrentando a Alta Cúpula de Nova York a Paris, de Osaka a Berlim. Não há caminho de volta, só um sobrevive. John Wick (Keanu Reeves) descobre um caminho para derrotar a Alta Cúpula. Mas antes que ele possa ganhar sua liberdade, Sr. Wick deve enfrentar um novo inimigo com poderosas alianças e forças que transformam velhos amigos em inimigos.
Classificação: 16 anos
Distribuidor: Paris Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 8,0

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