O maior antagonista em Lobisomem (2025) não é a figura que dá o título ao longa-metragem. Não mesmo. O maior vilão presente nessa mais nova entrada no multiverso dos monstros da Universal é o roteiro. Este sim é o verdadeiro monstro colossal que culminou na bomba de eternas reciclagens do produtor Jason Blum – fundador da BlumHouse e que, de um início de carreira modesto com orçamentos minúsculos como Atividade Paranormal, hoje acumula poder no baixo clero do horror hollywoodiano. Logo, um dos inúmeros problemas é a falta de qualquer critério de qualidade para que uma produção humilhante como Lobisomem possa ganhar sinal verde. Mas, contanto que o bolso de Blum ($) fique satisfeito: o céu é o limite!
Foi convocado o diretor Leigh Whannell – o que não ironicamente foi, à princípio, um bom sinal. Ele dirigiu O Homem Invisível (ao que tudo indica, já inserido no multiverso de releituras de clássicos de terror da Universal), um dos últimos lançamentos comerciais antes da pandemia, em março de 2020, com a ótima Elisabeth Moss e uma intensidade que deu ao diretor a impressão de ser autoral. Ele conseguiu ali, genuinamente, até mesmo convocar um tenso subtexto de ghosting e de relações abusivas ao lidar com a frenética perseguição enfrentada pela protagonista.
Com essa pseudo autoralidade em mente, os primeiros segundos de projeção de Lobisomem nos apresentam ruídos realmente originais de algum bicho aparentemente tenebroso. Mas morre ali mesmo. Digo isso porque, respeitosamente, não se pode afirmar que o que temos é a apresentação de um mostro que carregue o título de lobisomem. Negativo. Existe, durante toda a rodagem, a presunção de existência desse ser; e uma insuportável prolongação até um auge inexistente, em que não há apenas negligência de folclore, como também a de um enredo (literalmente falando). Com isso, digo que a produção, em seu excesso de confiança, sabia que sustentar, via domínio de direitos autorais, a entidade lobisomem no título seria o bastante para levar público, em especial jovens, às salas de cinema gerando uma bilheteria razoável, como já esperado, para continuar a patética reciclagem em futuros (e já confirmados) longas-metragens.
É triste. É triste porque, para fazer isso, não era necessário testar a paciência do espectador. E pior: insultar sua inteligência. Nisso, o cinismo que o diretor Leigh Whannell aplica é insultante. Veja: a menos que você não tenha, antes em sua vida, vivenciado nenhuma catarse em peças de teatro, literatura, ou visto quaisquer filmes genuinamente dramáticos (ou então, tenha menos de 15 anos), é impossível sentir qualquer empatia pelos personagens aqui. E mesmo assim, o diretor reiteradamente gasta tempo com cenas constrangedoras, apelando para o uso de uma trilha sonora excessivamente melancólica e frases de efeito enfadonhas como “a função do papai é te proteger”. Tudo isso levando em conta a anulação de um enredo: se a intenção dos “cineastas” envolvidos é confeccionar as ditas cenas de terror, a problemática na narrativa aparecerá do nada e esse mesmo arco se encerrará igualmente do nada – quando não são essas cenas em tela, definitivamente nada acontece. E sem depositar crença nenhuma num lobisomem. Faça o seguinte exercício: troque o aspirante a lobisomem e a floresta por um monstro aquático e um lago, ou um Frankenstein-zumbi e um cemitério. Pronto, nada muda.
A patética experiência é gerenciada por personagens enfadonhos. Christopher Abbott faz um protagonista intragável, sem nem se esforçar para tornar palpável o desaparecimento de seu pai (mostrado em um flashback no início). Sua filha, vivida pela Matilda Firth, de 10 anos, faz pena, pois é uma ótima atriz mirim desperdiçada em diálogos e reações escandalosamente ruins. E Julia Garner, como a esposa, além do desperdício, possui uma construção de personagem machista. O limítrofe roteiro acredita que dar a ela alguma inteligência em momentos de pânico, como quando utiliza uma nova bateria para restaurar uma picape, mostraria algum empoderamento – ou seria disruptivo quanto à papéis femininos no gênero. No entanto, é evidente a tentativa enfadonha e insultante, já que qualquer feito “inteligente” da personagem é anulado logo depois. O machismo também aparece quando reparamos que ela apenas topou a viagem à cabana do sogro porque foi convencida a sair de seu emprego como jornalista (motivo de piada em outra cena), e, mais uma vez, o ofensivo roteiro dá uma desculpa quando o personagem de Abbott diz que ela poderia tirar esse tempo para “continuar seu livro” – livro nunca mais mencionado.
A já mencionada anulação de um enredo, tapada pelas cenas “chamativas” que certamente estarão nas propagandas, não consegue oferecer nem 1% de qualquer conteúdo novo em um ritmo que é morto-vivo. Literalmente todas as informações apresentadas, em todos os âmbitos, são ultrapassadas e clichês ao cubo; e de forma abrupta, como se tudo fosse um grande cenário inverossímil e a cronologia não importasse. A única coisa exclusiva, que é a visão em primeira pessoa do lobisomem (uma visão noturna com LSD), é completamente ridícula e com efeitos vexatórios. Já a maquiagem, quando falamos das dentaduras, unhas e pelos, é regular e cumpre a execução básica, mesmo que para um filme sem a menor inspiração.
Por fim, um filme de lobisomem que odeia a mitologia do próprio Lobisomem. Para os fãs de terror de verdade, é não apenas como consumir um produto de microondas, mas consumi-lo inteiramente congelado – sem alma, com uma fórmula automática e previsível. Ou seja: um produto. Da mesma forma que bonecos de lobisomem podem ser vendidos em lojas de brinquedo, o filme Lobisomem (2025) será projetado em salas de cinema. E não seria surpresa que essa analogia fosse verdade, afinal, mais parece que o filme foi pensado e projetado por crianças – que até poderiam ser o público alvo. Sair da sessão de Lobisomem, de Leigh Whannell, pode causar desistência em acreditar no cinema, pois, se um dia a BlumHouse já recebeu milagres, para chegarmos onde chegamos é porque Deus não existe mais.
Filme: Wolf Man (Lobisomem) Elenco: Christopher Abbott, Julia Garner, Matilda Firth, Sam Jaeger, Ben Prendergast, Benedict Hardie, Zac Chandler, Beatriz Romilly, Milo Cawthorne Direção: Leigh Whannell Roteiro: Leigh Whannell, Corbett Tuck Produção: Estados Unidos Ano: 2025 Gênero: Terror, Suspense Sinopse: Um homem deve proteger a si mesmo e sua família quando eles são perseguidos, aterrorizados e assombrados por um lobisomem mortal à noite, durante a lua cheia. Mas conforme a noite avança, o homem começa a se comportar de forma estranha. Classificação: 16 anos Distribuidor: Universal Pictures Streaming: Indisponível Nota: 1,0 |
Crítica profunda e perfeita! Filmeco de quinta categoria que não mostra o que almejava….nem lobisomem tem. Um show espetacular de canastrice, presunção intelectual e falta de aprimoramento técnico. Tudo parece amadoristico e o filme inteiro não chega aos pés da cena de transformação do pretensamente ultrapassado (só que não!) An american werewolf in London, que ainda por cima é assustador e divertido! Talento puro é isso, o resto é pretensão!A blumhouse vai de mao a piao, cada vez pior! Só não fui até a bilheteria pedir meu dinheiro de volta pois já sou velho e não pago mais para entrar num cinema…amém!
A crítica está ótima, só não concordei com esse tal “machismo”. Muito pelo contrário, isso é o famoso “forçar a barra”, o feminismo em seu escândalo desnecessário final. O filme é simplesmente ruim. Ainda fui generoso em dar um 4,5/10.