CRÍTICA – MEU VIZINHO ADOLF

CRÍTICA – MEU VIZINHO ADOLF

Polsky é um homem solitário que mora numa região do interior da Colômbia. Ele cultiva rosas negras no seu quintal, um hábito adquirido com a esposa antes da guerra. O velho rabugento e sem paciência foi o único de sua família que sobreviveu ao holocausto. Portanto, a ida para aquele lugar remoto foi para escapar das pessoas que fizeram mal para ele e para todos aqueles que amava. Uma tragédia pessoal de enorme magnitude.

O conflito do Sr. Polsky recomeça quando descobre que seu novo vizinho é um alemão idoso e ensimesmado como ele. E piora ainda mais quando se convence de que aquele homem enigmático poderia ser o próprio Adolf Hitler, que, segundo acredita, teria forjado sua morte em 1945 e fugido para América do Sul como outros nazistas.

“Meu Vizinho Adolf” vende-se como uma tragicomédia (ou comédia dramática), mas de engraçado ele não tem quase nada — para mim, pelo menos. O filme é estrelado por David Hayman (O Menino do Pijama Listrado), que está bastante bem no papel, e Udo Kier, ator que já trabalhou em diversos filmes de Lars von Trier.

Polsky, então, tenta persuadir o Mossad, serviço secreto israelense, a investigar o alemão. Mas, para isso, ele precisa reunir provas concretas aproximando-se do novo vizinho e se tornando amigo dele. A graça do filme está (ou estaria se fosse realmente uma comédia) nessa aproximação gradativa entre os dois desconhecidos. Mas como divertir-se com uma situação na qual um dos personagens é a encarnação absoluta do mal, o líder supremo dos nazistas? Não dá para esquecer disso em nenhum momento.

“Meu Vizinho Adolf” pode ser compreendido também como uma espécie de parábola sobre dois homens cindidos pela radicalização política. Pessoas que jamais seriam capazes de superar as divergências profundas que as separam. Em Israel, o filme faria eco à relação conflituosa entre palestinos e israelenses. Já aqui no Brasil, guardadas as proporções, remeteria à polarização cada vez mais acirrada entre lulistas e bolsonaristas, com cada um dos lados desejando, no limite, eliminar fisicamente o outro.

Apesar de não ser engraçado, o longa-metragem dirigido pelo israelense Leon Prudovsky tem bom ritmo. E uma narrativa simples que amarra o espectador na busca pela única resposta que realmente importa no filme: o vizinho recém chegado seria mesmo Adolf Hitler? “Meu Vizinho Adolf” participou do Festival de Locarno do ano passado.


Filme: Meu Vizinho Adolf
Elenco: David Hayman, Udo Kier, Olivia Silhavy, Kineret Peled
Direção:  Leon Prudovsky
Roteiro: Leon Prudovsky, Dmitry Malinsky
Produção: Israel, Polônia e Colômbia
Ano: 2022
Gênero: Drama, Comédia
Sinopse: América do Sul, 1960. Polsky, um solitário e miserável sobrevivente do Holocausto, se convence de que seu novo vizinho não é outro senão Adolf Hitler. Não sendo levado a sério, ele inicia uma investigação para provar sua afirmação, mas quando as evidências ainda parecem inconclusivas, ele é forçado a se envolver em um relacionamento com o inimigo a fim de obter provas irrefutáveis…
Classificação: 14 anos
Distribuidor: A2 Filmes
Streaming: Não disponível
Nota: 6,4

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