CRÍTICA – MISS VIOLENCE

CRÍTICA – MISS VIOLENCE

Há, no cinema contemporâneo, uma pegada que vêm agradando e formando entusiastas: o suspense frio e realista. Um precursor amplamente considerado é o austríaco Violência Gratuita, dirigido em 1997 pelo “feiticeiro” Michael Haneke. Tratar com certo cinismo a violência crua em tela é uma medida que pode ser explorada de diversas formas para causar uma angústia e explorar vários aspectos a respeito de sociedade e patologias.

Disponível no catálogo da Looke, o grego Miss Violence é divisivo, mas tem tudo para instigar ao máximo os adoradores dessa pegada. Contudo, é preciso pontuar que a obra dirigida em 2011 por Alexandros Avranas fica devendo em diversos sentidos temáticos. Assim como em Violência Gratuita, acompanhamos em Miss Violence uma família sendo testada pelo impacto da brutalidade e perversidade – mas, dessa vez, a entidade causadora de perversão estava sempre debaixo do mesmo teto familiar.

Através de planos estilisticamente domésticos e com sutis movimentos, somos desde o princípio condenados à uma morbidez sem a menor vida, com fotografia dessaturada e enjaulada – inserindo os membros da família como seres muito distantes da felicidade, em especial quando na presença do pai rígido e conservador.

Com momentos pontuais de choque, é natural se perguntar qual o real objetivo do filme. Qual sua intenção ao retratar cenas de abuso sexual à menores de idade? Acorrentado à sua amarra estética, que hoje se percebe não ter envelhecido tão bem, Miss Violence acaba se tornando limitado ao que pode oferecer. Tematicamente vazio, questionável quanto a sua abordagem, e em alguns momentos até intelectualmente insultante.

Enviesado pela sua necessidade artística, o filme chama atenção demais para sua alquimia artificial na elaboração da mise-en-scene, muitas vezes forçando emoções através da mesma, desconhecendo a possibilidade de gerá-las através de algum meio que não seja inorgânico. Querendo impactar desde a primeira cena, temos um suicídio que é revelado através de movimentos de câmera, entre muitas aspas, “estilosos”. Pois bem: falta algo.

O diretor, até os dias de hoje sem demonstrar muita experiência, parecia que tentava impressionar a todo custo com sua captação fílmica, mas sem se dar conta da necessidade do esforço em demais fatores dramáticos que corroborassem para a identidade efetiva de seu filme. Por exemplo, são recorrentes planos fechados nos rostos de seus atores em momentos de surpresa ou revelações, em que os mesmos fazem expressões exageradas (caretas). Mas como existe pouca preparação lógica para tais revelações, o espectador não consegue sintonizar-se na reação esperada. Torna a experiência austera.

Existe incômodo, mas não existe procedência para o que está sendo mostrado. Os desfechos são apresentados como supostas descobertas, mas com um andamento robotizado e uma insignificância que faz parecer com que o filme não tenha sido  escrito por seres humanos. São tentativas constantes de dissimular um realismo, quando o que se obtém é uma constância de cenas monótonas e de pouco sentido, tornando agora sim as cenas de violência, cenas gratuitas – diferente do que ocorre nas abordagens do já citado diretor “feiticeiro” Haneke.

Pra completar, as decisões (em geral) tomadas pelo diretor, infelizmente dão a impressão de um filme corrompido: onde a violência que deveria ser trabalhada acaba sendo apenas palco para uma pseudo construção irrelevante e arbitrária, já que não é passada nenhuma reflexão e todo o sofrimento da família é desleixado, e quando um momento de vingança pode surgir: nada. Na hora de proporcionar um contraste com uma cena possivelmente satisfatória, isso é ocultado. Então a única violência que deve ser mostrada é a sexual e contra menores de idade? Miss Violence é um filme, digamos, sem ponto. Mas que ainda assim pode atender aos gostos de quem gosta de ser impactado


Filme: Miss Violence
Elenco: Themis Panou, Reni Pittaki, Eleni Roussinou, Sissy Toumassi, Kostas Antalopoulos.
Direção: Alexandros Avranas
Roteiro: Alexandros Avranas, Kostas Peroulis
Produção: Grécia
Ano: 2013
Gênero: Suspense
Sinopse: No dia de seu aniversário, uma garota comete suicídio e instaura um clima de dúvida e apreensão em sua família.
Classificação: 18 anos
Distribuidor: Geek Film Centre
Streaming: Looke
Nota: 3,5

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