CRÍTICA – MORANDO COM O CRUSH

CRÍTICA – MORANDO COM O CRUSH

Após a experiência frustrante com “Um Dia 5 Estrelas”, “Morando com o Crush”, comédia romântica dirigida por Hsu Chien, infelizmente, apresenta muitos dos problemas recorrentes nos trabalhos do diretor, deixando evidente que as questões estruturais e narrativas persistem.

A trama do filme gira em torno de um casal adolescente, Luana (Giulia Benite) e Hugo (Vitor Figueiredo), dois colegas de escola que estão apaixonados. Luana é filha de Fabio (Marcos Pasquim), um pai solteiro, enquanto Hugo é filho de Antônia (Carina Sacchelli), também uma mãe solteira. A dinâmica familiar dos protagonistas já traz um pano de fundo interessante, mas a situação se complica ainda mais quando seus pais, Fabio e Antônia, decidem namorar e, inesperadamente, se mudar para uma cidade do interior para morar juntos. Com essa mudança, Luana e Hugo são obrigados a reprimir seus sentimentos, pois, na nova cidade, são vistos como irmãos.

Evidenciado já desde os primeiros minutos, “Morando com o Crush” apresenta uma preocupante falta de coesão narrativa. Sob a direção de Hsu Chien Hsin, o filme parece ser uma colagem de esquetes desconexas, onde cada cena se apresenta de forma isolada, sem uma ligação orgânica com o eixo principal do enredo ou um desenvolvimento coerente dos personagens. Essa abordagem fragmentada resulta em uma obra na qual a fluidez narrativa é seriamente comprometida, afetando negativamente a experiência.

As mudanças bruscas de comportamento dos personagens são um reflexo claro desse desequilíbrio narrativo. Os protagonistas, que deveriam cativar e envolver o público, acabam por parecer desarticulados. O que é um problema quando se trata de comédia romântica, na qual a identificação com os personagens é crucial para que o público possa mergulhar nos momentos de romance, nas dificuldades e nas alegrias que eles enfrentam. Aqui, essa identificação é continuamente frustrada pela inconsistência das ações e reações dos personagens. É quase inexistente em certos pontos.

Logicamente, há filmes onde a incoerência de comportamento dos personagens pode servir a um propósito narrativo específico. No entanto, em “Morando com o Crush”, essa inconsistência parece ser mais um produto de uma direção desleixada e de um roteiro mal estruturado. Hsu Chien subestima o público do filme, especialmente o público adolescente, resumindo toda experiência em partes. Partes cômicas, partes na criação de um romance adolescente, partes de dramas vividos pelos personagens. É um filme repartido que enfraquece a conexão emocional do espectador com a história.

Os personagens de Antônia e Fábio são um exemplo claro da inconsistência narrativa. Embora não sejam os protagonistas e, portanto, possam ser tratados de forma mais superficial, o romance entre eles é retratado de maneira tranquila, sem qualquer indício de conflito iminente. Esse tom sereno deve muito ao talento de Marcos Pasquim, que infunde em Fábio um otimismo e um bom humor que contrastam com o estado de espírito dos filhos, criando situações mais bem humoradas. No entanto, o roteiro subitamente introduz uma crise entre Fábio e Antônia, sem qualquer preparação ou desenvolvimento gradual que justifique a briga. A cena em si carece de construção, escalando o conflito de forma abrupta e quebrando a imersão do espectador. Parece evidente que essa cena existe apenas para cumprir uma função narrativa específica: mover a trama de um ponto a outro. Essa funcionalidade explícita é percebida, conscientizando de que estamos assistindo a um filme.

Essa quebra de imersão sublinha a artificialidade do momento, fazendo com que o espectador perceba a manipulação da narrativa em vez de se envolver emocionalmente com os personagens e seus dilemas. A crise entre Fábio e Antônia, portanto, não apenas interrompe o fluxo natural da história, mas também subverte o desenvolvimento dos personagens, tornando-os meros instrumentos para avançar a trama.

Os personagens se tornam peças ausentes de emoção, e, consequentemente, incapazes de transmitir tal emoção na maior parte do longa. Até acontecem, mas são raros os momentos nos quais Luana e Hugo conseguem exprimir e transmitir tais sentimentos. E a situação se agrava ainda mais quando o diretor introduz uma personagem adolescente que se torna uma verdadeira stalker do casal, manipulando até mesmo sua irmã mais nova – uma criança – a cometer atos terríveis, inclusive contraventores, que vão desde invasão de residência até perseguição ao casal adolescente. É vergonhoso ver como o diretor trata essa personagem e o desfecho que lhe reserva.

Mesmo assim, apesar dos problemas narrativos, as atuações ajudam a manter o interesse do público. Giulia Benite, no papel de Luana, exibe o talento que já havia impressionado em “Turma da Mônica – Laços”. Sua performance cativante consegue prender a atenção em momentos isolados do filme. Marcos Pasquim também se destaca com seu carisma, e, embora em menor grau, Vitor Figueiredo e Carina Sacchelli trazem alguma leveza e autenticidade a seus personagens.

Felizmente, as falhas estruturais e de desenvolvimento de “Morando com o Crush” são parcialmente mitigadas pelo talento dos atores. Apesar das atuações notáveis de Giulia Benite e Marcos Pasquim, o filme não consegue superar suas deficiências narrativas. A direção fragmentada de Hsu Chien e os personagens inconsistentes resultam em um amontoado de situações desconexas, problemas já evidenciados em “Um Dia 5 Estrelas”.


Filme: Morando com o Crush
Elenco: Giulia Benite, Vitor Figueiredo, Marcos Pasquim, Carina Sacchelli, Júlia Olliver, Sara Alves
Direção: Hsu Chien
Roteiro: Sylvio Gonçalves
Produção: Brasil
Ano: 2024
Gênero: Comédia, Romance
Sinopse: Luana e Hugo são colegas de escola e apaixonados um pelo outro. Mas quando a mãe de Hugo e o pai de Luana decidem namorar e mudar de cidade com todos, a situação complica para os pretendentes.
Classificação: 10 anos
Distribuidor: Paris Filmes
Streaming: Indisponível
Nota: 3,0

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