CRÍTICA – NÃO FALE O MAL

CRÍTICA – NÃO FALE O MAL

Caso você não tenha assistido ao original Não Fale o Mal, longa dinamarquês de 2022 (sim, de apenas 2 anos atrás), não se preocupe: você irá sentir no filme com James McAvoy muitas emoções, por mais que sejam todas elas dentro de um contexto mercadológico hollywoodiano. Mas agora, caso você tenha fresco na memória o longa europeu dirigido por Christian Trafdrup, haveremos de lidar com algumas barreiras.

Não é a primeira vez que Hollywood almeja ofuscar um thriller europeu com um remake instantâneo. Insônia, de Christopher Nolan, com um elenco calibrado por nomes como Al Pacino e Robbin Williams, foi um sucesso comercial em 2002 enquanto o original Insônia, de 97, fora posto em esquecimento. Todavia, nem sempre essa estratégia de apropriação criativa gera os resultados esperados, como foi o caso de Quarentena, em 2008, que tenta recriar, sem um terço da qualidade, o pânico e o horror genuíno instaurados no jovem clássico espanhol REC, de 2007.

Escalado para o remake precoce da vez, o diretor James Watkins, que também ficou responsável de transferir o roteiro para os confins de Hollywood, foi, por sorte, talentoso o bastante para elaborar uma formidável e relativamente equilibrada atmosfera de estranheza. Não à toa, seu talento foi posto em prática quando dirigiu o episódio mais sádico e intenso de Black Mirror, o “Manda quem Pode”, em 2016, que aborda falta de privacidade e pedofilia. Aqui, Watkins também proporciona uma construção potente, porém, se seu Black Mirror tinha um desfecho corajoso e perturbador, no momento mais urgente e necessário de simular o filme original de Trafdrup (seu final polêmico), ele acaba tomando rumos mais previsíveis.

Mas até lá, não há como negar que tudo flui muitíssimo bem – acima de tudo por conta de um elenco extremamente formidável e acima da média. A começar pelo casal protagonista: Ben (Scoot MacNary) e Louise (Mackenzie Davis), que estão longe de viver o auge da relação amorosa, mas que andam sempre em equilíbrio e organizados para o bem estar de sua filha Agnes (Alix West Lefler), de 11 anos. É verdade que Louise se incomoda com a falta de atitudes mais rígidas de Ben, que possui inseguranças como marido e como pai de família – mas estas inseguranças irão se pôr violentamente em prova quando todos vão de encontro com um casal à princípio amigável, mas bem peculiar.

E logo temos o dono do filme: James McAvoy em mais uma interpretação gigantesca, sucedendo seu Kevin Wendell Crumb de Fragmentando, 2016. Aliás, é como se seu personagem em Não Fale o Mal fosse mais uma das várias personalidades do vilão do filme de M. Night Shyamalan. Acompanhar seus trejeitos e suas peculiaridades juntamente ao casal protagonista é uma vivência inquietante e divertidíssima – existem inúmeras cenas para rir de nervoso.

Com excelentes personagens, o filme também é muito bem apurado em termos de montagem e ritmo, nunca se estendendo além do que deveria e tornando dos dois primeiros atos um acerto e tanto. Mas, recordando da falta de coragem na parte mais necessária de adotá-la, temos um terceiro ato mais excêntrico do que deveria ser, lembrando-nos indevidamente que vemos um remake que é um thriller americanizado: uma caça de gato x rato divertida, mas que desmistifica demais o suspense e entrega bom entretenimento sem surpresas.


Filme: Speak No Evil (Não Fale o Mal)
Elenco: James McAvoy, Mackenzie Davis, Scoot McNairy, Alix West Lefler, Aisling Franciosi, Dan Hough, Kris Hitchen, Motaz Malhees
Direção: James Watkins
Roteiro: James Watkins
Produção: Estados Unidos
Ano: 2024
Gênero: Terror, Thriller
Sinopse: Quando uma família americana é convidada a passar o fim de semana na idílica casa de campo de uma charmosa família britânica, com quem fizeram amizade nas férias, o que começa como um feriado dos sonhos logo se transforma em um assustador e paralisante pesadelo psicológico.
Classificação: 18 anos
Distribuidor: Universal Pictures
Streaming: Indisponível
Nota: 8,0

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