Ninguém Sai Vivo Daqui, novo longa do diretor André Ristum, deriva da série Colônia (2021), também dirigida por Ristum e que está disponível na Globoplay. Mas se lá a obra possui 10 episódios de, aproximadamente, 30 minutos cada, aqui esse tempo é mais enxuto e todo o filme está contemplado em apenas 90 minutos, ou seja, muita coisa foi tirada da obra original. O foco aqui é único e exclusivamente na personagem Elisa (Fernanda Marques) que foi mandada por seu pai para o Centro Hospitalar Psiquiátrico de Barbacena, Minas Gerais, que ficou mais conhecido como Colônia. Esse olhar mais incisivo nesta personagem fará com que tudo a seu redor seja pouco trabalhado, dando uma conotação superficial para todos os outros personagens da história. Alguns destes, claramente importantes, como o diretor do hospital, tem míseros segundos de tela e nada mais.
Tal hospital existiu e foi o local de diversas atrocidades ao longo dos seus 80 anos de funcionamento e muito embora o filme não tenha a proposta de ser um documento histórico sobre este evento, não me parece, também, dar uma real importância a este passado, pois os acontecimentos são sempre mostrados sob um “véu” que romantiza, ou melhor, suaviza as barbaridades acometidas contra os enfermos daquele lugar. Para quem quiser, então, se aprofundar mais sobre o hospital e o que lá ocorria, indico a leitura do livro Holocausto Brasileiro escrito por Daniela Arbex.
Se utilizando da fachada de um ambiente acolhedor e para tratamento daqueles necessitados, o que se viu foi o envio de diversas pessoas sãs que não eram mais bem-vindas na sociedade. Em Ninguém Sai Vivo Daqui Elisa foi uma dessas pessoas, ela engravidou antes de se casar e de um homem que não fora aprovado por seu pai, logo seu destino foi este hospital de forma totalmente arbitrária.
Muito embora o diretor André Ristum dê ênfase que a história a ser contada se trata de algo que, de fato, aconteceu, mas com personagens ficcionais, a verdade é que em momento algum sentimos realmente o peso daquilo que está sendo mostrado. O uso do preto e branco para evocar um passado e uma certa melancolia se traduz mais como um capricho do diretor do que uma escolha técnica e coerente com o que se passa no filme.
Ristum consegue em alguns momentos, é bem verdade, estabelecer um processo de criação de um universo amedrontador, mas este sempre é desconstruído nas cenas seguintes. Se uma hora ouvimos um paciente gemendo de dor por conta dos eletrochoques, após alguns minutos vemos aquele mesmo personagem bem e sem nenhum tipo de sequela. Se o uso da noite, das sombras e da pouca luz é benéfico para criar este clima de tensão, novamente o diretor faz questão de abdicar dos elementos que conseguem, aqui e ali, impressionar o espectador, fazendo com que nada ou pouca coisa aconteça nesses momentos. O filme ao passo que constrói algo impactante em nosso imaginário, pois, acertadamente, não se faz expositivo demais, vai se sabotando quando não consegue manter no ar o suspense anteriormente criado. Utilizando atalhos e de certo modo correndo contra o tempo para que a trama avance até o próximo ponto, Ninguém Sai Vivo Daqui não consegue estabelecer uma troca com o espectador. Felizmente a força de atuação do trio de atrizes formado por Andréia Horta, Fernanda Marques e Rejane Faria faz com que o filme se destaque, já que quase sempre uma dessas atrizes está em cena.
É interessante notar, também, as escolhas dos planos mais fechados, principalmente no início, no qual acompanhamos as feições e reações da Elisa, para no momento seguinte o diretor nos brindar com o que ocorre ao seu redor. Faz todo o sentido essa construção, principalmente pelo fato de que Elisa é uma mulher sã e está em um ambiente o qual ela não pertence e esse jogo entre os planos escolhidos traz esse sentimento de deslocamento ao espectador, que assim como a protagonista, se vê tenso e confuso com tudo aquilo.
Ninguém Sai Vivo Daqui é um trabalho um tanto preguiçoso. Se utiliza de muito material feito para a minissérie para, aqui, realizar uma nova forma de contar a mesma história. O que consegue é um efeito apressado, saltando no tempo, sem dar profundidade a nada e a ninguém. Por sorte, como já citei, o diretor tinha em mãos o material de três atrizes inspiradíssimas.
Filme: Ninguém Sai Vivo Daqui Elenco: Fernanda Marques, Augusto Madeira, Andréia Horta, Rejane Faria, Naruna Costa, Aury Porto, Arlindo Lopes, Bukassa Kabengele Direção: André Ristum Roteiro: André Ristum, Marco Dutra, Rita Gloria Curvo, Daniela Arbex Produção: Brasil Ano: 2023 Gênero: Drama Sinopse: No começo dos anos 70, a jovem Elisa é internada à força pelo pai no Hospital psiquiátrico Colônia, por ter engravidado do namorado. Após passar por muitos abusos, Elisa, junto com outros colegas injustiçados, lutarão para encontrar uma maneira de fugir dessa sucursal do inferno. Classificação: 16 anos Distribuidor: Gullane+ Streaming: Indisponível Nota: 6,0 |